Sunday, December 04, 2011

Memoria

Lembranças de Artemis A. C. Chronos

- Senhora, tem um assunto que gostaria de tratar. – Flonne falou, entrando no escritório que Mirian usava. A casa ficava no vilarejo, onde o clã estava concentrando suas defesas.
- Diga, Flonne.
- Descobrimos que Artemis e seus amigos estão se reunindo às escondidas em um lugar secreto. Ainda não temos certeza de onde... – Ela falou e Mirian ficou um pouco apreensiva.
- Como assim? O que eles fazem?
- Quase todas as noites eles entram em uma passagem secreta nas masmorras e depois os perdemos de vista. E não são só eles. É um número grande de alunos e sempre voltam como se estivessem cansados.
- Cansados... – Mirian pensou preocupada. Então ela pensou em algo e sorriu. – Quem mais sabe?
- Ninguém, apenas eu e Rin. Nós duas nos revezamos par proteger Arte à noite. Não queremos invadir a privacidade deles e achamos melhor trazer essas notícias até você. Ouvimos alguns deles falando sobre uma AD... – Mirian começou a rir e Flonne ficou um tempo sem entender.
- Entendo. Eu devia imaginar que eles fariam isso... Flonne, instrua Rin também, não contem isso para ninguém, muito menos para Lu ou para Minerva, eles vão querer impedi-los.
- O que eles estão fazendo? A senhora sabe?
- Estão formando uma nova Armada. Estão treinando. – Mirian falou com um orgulho na voz e nos olhos. – Quero que os deixe continuar. E não precisam segui-los até o esconderijo. Se ninguém descobriu até agora, ninguém sabe. Eles estão se preparando! Os pais deles iriam me matar se soubessem, mas vou ser cúmplice deles! – Mirian falou, com um sorriso no rosto, Flonne também sorriu, entendo finalmente o que isso significava.

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- Aí... Minha cabeça dói... – Eu falei, de cabeça baixa na mesa do café da manhã. Lena resmungou em concordância.
- Você está sentindo alguma coisa? Quer ajuda? – Tuor logo perguntou e eu me senti culpada. Ele estava preocupado comigo e eu de ressaca. Lena começou a rir. Lenneth e Sophie também resmungaram, tão desnorteadas quanto eu.
- Não é nada. Só não dormi direito. – Eu respondi evasiva. Julian se sentou do meu lado, dando bom dia, que fez com que eu e Lena resmungássemos.
- Nenhuma de vocês pelo visto! Estamos perdendo alguma coisa? – Ele perguntou curioso.
- Nada! Acho que é a união feminina! – Lena se apressou a dizer e eu, Lenneth e Sophie não seguramos o riso. Eles continuaram curiosos e fomos salvas de novas perguntas quando Flonne me chamou.
- Arte, sua mãe pediu que lhe chamássemos, temos uma surpresa para você.
- Eu juro que não fiz nada! – Eu me apressei a dizer. Todos riram.
- Arte, no 4º ano todos nós diminuímos nossas encrencas, não precisa se entregar assim. – MJ falou. Ele tinha acabado de chegar e cumprimentou todos.
- Não se preocupe, você vai gostar. – Flonne falou sorrindo e eu assenti.
- Podemos ir juntos? Temos aulas de Trato de Criaturas Mágicas depois. – Lenneth perguntou, fechando um olho pela dor de cabeça.
- Claro, e é ainda melhor, é perto da Floresta realmente. – Ela respondeu.
Levantamos da mesa juntos e nos encaminhamos para os jardins. O restante de nossos amigos logo nos alcançaram, com exceção da Keiko que não fazia TCM. Todas as garotas estavam como eu, com ar cansado e dor de cabeça. A ressaca de sábado ainda se refletia em algumas de nós, e como no domingo tivemos que fazer trabalhos que atrasamos, estávamos todos cansados. Rin e Laharl já estavam do lado de fora do castelo e fecharam o cortejo ao nosso redor. Flonne seguia junto de nós, conversando animada com todos, enquanto os outros dois nos seguiam de longe.
Foi uma determinação dos meus pais aquela guarda, ou “cães-de-guarda” como a Clara gostava de chamar. Eles acreditavam que os vampiros ainda tinham interesse em mim e no meu estado eu não podia andar sozinha. Eu lembrava da existência dos vampiros, agora porque eles teriam interesse em mim eu não sabia. Por isso, eles três, junto de Altair, viviam me seguindo, mas mantendo certa distância para nos dar privacidade.
Chegando perto da floresta vimos que a turma já estava reunida e todos animados e me perguntei o que teríamos hoje. Eu sempre gostei das aulas do Tio Hagrid, disso me lembrava, e estar em contato com os animais mágicos me fazia até bem. Então eu ouvi um rugido muito conhecido para mim. A turma se abriu no mesmo instante, alguns se afastando com medo, enquanto ouvíamos a gargalhada de Hagrid.
-Fidelus? – Eu perguntei, admirada quando vi o enorme dragão em uma arena enorme perto da floresta. Ele rugiu pra mim e eu corri até ele, abraçando seu focinho como sempre fazia. Ouvi a turma dando gritinhos, achando que eu seria devorada, mas os ignorei.
- Isso é um exemplo de aluna! Vocês deviam fazer como ela! Ele é tão calminho! – Hagrid falou, batendo no dorso de Fidelus. Ele estava todo animado, pois sempre amou dragões.
- O que isso significa? – Eu perguntei e Hagrid gargalhou. Ele esfregou uma lágrimas dos olhos e me abraçou, quase quebrando minhas costelas.
- Graças a você, eu vou realizar um sonho! Vou cuidar de um dragão pelo resto do ano! – Ele falou sorrindo.
- O Ministro autorizou que Fidelus fosse trazido para Hogwarts. Faz bem para você e você vai precisar de mais transplantes de sangue. – Rin explicou sorrindo. Eu sorri, alegre e Fidelus parecia feliz também.
- Claro, pode me ajudar a cuidar dele! Todos vocês, quero que todos cheguem perto do dragão e comecem a me dizer um pouco sobre a raça dele. Primeiro, qual sua raça? – Hagrid perguntou. Tuor levantou a mão rapidamente.
- Ele é um Negro das Ilhas Hébridas. – Ele falou e foi o primeiro a se aproximar de Fidelus, que o recebeu com carinho. Eu senti uma dor no peito, mas me controlei. Algo naquela cena tocou em mim, como se eu tivesse visto isso já.
- Você não vale, já conhece ele. Eu quero também! – Haley falou e correu para acariciar Fidelus, logo seguida pelos meus amigos, já acostumados com o dragão.
Eu me afastei para dar espaço para todos e fiquei olhando-os. Me peguei então olhando para Tuor e o modo como ele sorria me fez ter uma tontura. Eu quase pude sentir algo no fundo da minha mente. Mas rapidamente, seja lá o que fosse, desapareceu.

Quietly my distant memories shift
When I picture you and seek comfort in my past
Reflected in the window I know so well
Are eyes that look at tomorrow


Clara veio até mim, preocupada, pois apenas ela me vira.
- Está tudo bem?
- Estou... Eu quase lembrei de algo... – Eu falei e ela se animou.
- Sabia que antes eu e você podíamos ler a mente uma da outra? – Ela falou, sentando-se comigo na grama. Eu fiquei curiosa.
- Sério? Ainda podemos fazer isso?
- Não sei. Mas ainda sinto uma ligação com você. Eu, você e Justin podíamos ler a mente um do outro, como se conectados.
- Justin é um cara legal... Não sei porque ele e a Haley não se resolvem.
- Você não sabia quando tinha memórias, agora nem adiantar tentar. – Ela falou e rimos juntas. Continuei olhando para Tuor, apesar da dor de cabeça, que aumentava, e não tinha nada a ver com a ressaca.
- Clara... Como éramos? Digo, eu e o Tuor? Vocês falam que éramos namorados. Mas só lembro de Stefan ou Damon... Não lembro de nada do Tuor...
- Vocês eram um atentado para um diabético!– Ela falou, fazendo uma careta que me fez rir. – Estou brincando. Vocês formavam um belo casal, se entendiam bem, ficavam bem juntos. E não se afastavam de nós, sabiam equilibrar as coisas. No primeiro dia dos namorados que vocês tiveram, me falaram que ergueram um pôster de vocês na Grifinória! O casal oficial da escola! – Ela falou rindo e eu ri também, sem saber se ela estava brincando ou não.
- Me sinto mal de não me lembrar dele... Ele é tão carinhoso comigo, é tão legal...
- Ele é isso e muito mais. Tuor entrou na vida de todos nós, mas na sua ele mexeu completamente. Mas você não deve se culpar, com o tempo vai se lembrar de tudo.
Jamal nos chamou e levantamos, voltando para a aula. Eu não podia deixar de me perguntar: será que eu me lembraria? Por mais que me esforçasse, não lembrava de nada do Tuor... Mas não podia negar que estava começando a entender porque meu antigo eu gostava dele...

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- Eu ando estudando. Arte é uma grande amiga pra mim e quero ajudá-la. – Justin falou, sentado na mesa da biblioteca. Tuor estava diante dele e entre os dois haviam três livros abertos em páginas diferentes.
- Eu também quero. Farei tudo que é possível. O que acha que aconteceu? – Tuor perguntou e Justin se preparou para explicar. Ele apontou um dos livros, onde havia o desenho de uma pessoa de pé. Haviam diversas indicações de pontos diferentes do corpo, e parecia haver um fluxo azul entre esses pontos. Uma aura parecia envolver o corpo e o cérebro e o coração eram o centro das energias.
- Eu acho que você trouxe a Arte de volta a vida, mas para isso sacrificou uma vida em troca. De forma figurada, mas ainda assim, acho que foi isso que aconteceu. – Justin explicou. – O corpo humano, a vida, é muito complexo, por isso é impossível criar vida e ressuscitar os mortos. Quando transfiguramos alguma coisa, ou conjuramos algum animal, estamos trazendo-os de outro local, nunca criando-os. Para trazer alguém de volta a vida seria necessário algo de igual valor, uma outra vida.
- Entendo... Lembro de uma visão que eu tive naquela hora. Vi uma mulher e me lembrou pouco do que conversamos, mas oferecia minha vida pela dela.
- Isso seria uma forma, mas seria uma magia vil, uma magia maligna. Aquela mulher... Eu acredito que possa ser Arturia, pelo jeito como me descreveu. Ela deve ter canalizado algo dentro de você. Então você sacrificou as memórias da Arte, mas isso não era suficiente. – Ele indicou outro livro, com imagens de várias pessoas meditando e sonhando. – Você sacrificou seu futuro com ela, apagando todo o sentimento que ela sentia por você e impedindo que ela voltasse a se relacionar com você. Por isso ela não consegue se lembrar de você.
- Eu reparei isso... Ela aos poucos vai lembrando de todos, menos de mim. – Tuor falou, um pouco triste, mas dando de ombros. Ele havia aceito isso e decidido por continuar lutando.
- Mas acho que ainda tem volta. – Ele falou e logo o amigo se animou, ouvindo com mais clareza. – Isso ficou claro para mim na Primeira Tarefa. – Justin voltou a indicar a primeira figura do livro. – Os curandeiros e especialistas estudam as memórias e como modificá-las. Há diversas formas de manipular memórias. Onde você acha que ficam as suas memórias?
- Bom, acho que no meu cérebro. – Tuor respondeu, indicando com um dedo a própria cabeça e outro o desenho.
- De certa forma sim. Os especialistas também acham, mas eles concordam que há outro local. – Justin falou e indicou o coração. – Eu acredito que existem três tipos de memória: as mais superficiais. – Ele apontou para o cérebro. – E as profundas. – Ele apontou para o coração. – São então as memórias da mente, do corpo e do coração, ou da alma se preferir. Está entendendo? – Ele perguntou e Tuor acenou com a cabeça. – As memórias da mente são as mais fáceis de se manipular. As do corpo são memórias que ficam presas ao corpo, como o toque de uma pessoa, o cheiro que nos faz lembrar de algo, um som... E as do coração, ou alma, são as mais importantes, relacionadas a sentimentos. Eu acho que você não apagou as três da Arte, mas apenas as da mente.
- Como pode ter certeza?
- Elas são as mais fáceis de se manipular. Agora as memórias do corpo da Arte, ela as mantêm! A Primeira Tarefa foi prova disso. Arte treinou a vida inteira, ela é uma mestra de lutas corpo a corpo, de esgrima, de combate. Essas memórias ficam gravadas em seu corpo. Ela se moveu por instinto, seus reflexos ainda existem! – Justin falou animado e Tuor concordou, também animado. – E tem mais. Acho que as memórias do coração dela estão apenas adormecidas, esperando a hora de voltarem a tona. Você está dentro dela ainda, você está vivo nas memórias dela. Você foi e é uma pessoal importante demais para a Arte esquecer completamente. – Justin falou e bateu com um dos dedos no peito de Tuor, onde ficaria o coração. – E ela permanece viva dentro de você. Ela vai se lembrar de você, tenho certeza, mesmo que demore um pouco. Quer uma prova?
- Eu quero. – Ele falou animado.
- Já percebeu como ela procura você sempre que se sente ansiosa ou apreensiva? Já percebeu como sem que ela perceba, ela segura sua mão quando está nervosa? Ou como ela está sempre te seguindo com os olhos? – Tuor abriu um largo sorrio e Justin também. – Não perca as esperanças, Tuor. Ela vai se lembrar de você e quanto ela fizer isso, todas as memórias dela vão voltar. Você é a chave para isso!

I know that we are doomed to our fate
But still there is faith in my fearless heart
Quietly my distant memories shift
And in them I can find the proof that we spent time together


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- Tuor, posso falar com você? – Eu perguntei, assim que ele entrou no salão comunal. Já era de noite, pouco depois do jantar. Logo iríamos nos reunir em alguma sala para que continuassem me dando aulas de Feitiços.
Eu estava nervosa e ansiosa, mas queria terminar logo com isso. Já havia dito que eu iria convidar o Tuor, mas estava tentando reunir coragem. Desde de manhã eu queria falar com ele, mas não achava a hora certa. Minha dor de cabeça aumentava cada vez mais, mas eu resistia e queria falar com ele.
Ele sorriu para mim e veio na minha direção. Senti minhas pernas bambas. Comecei a sentir uma sensação quente em meu peito, como se algo tentasse subir a superfície.
- Claro! Quer ajuda em algo? – Ele perguntou, tirando uma mecha dos meus cabelos de minha testa. Eu senti que ia explodir, não sei nem o porque. Mas seu rosto ficou branco. – Arte, você está queimando em febre!
Ele me fez me sentar e segurou minha mão, preocupado. Eu então comecei a sentir frio e meu peito doía muito.
- Estou bem. – Eu consegui dizer. – Tuor, eu posso não me lembrar de você, mas sei que você era importante... E estou começando a gostar de novo...
- Arte, não precisa forçar ou apressar nada, eu vou esperar o que for preciso por você. – Ele falou, conseguindo sorrir. – Mas precisamos ir para a enfermaria.
- Não. – Eu falei, quando ele se levantou e o segurei, me levantando também. Ficamos um diante do outro. – Eu queria te convidar para ir no Baile comigo, quero que seja meu par, quero dar um novo começo para a gente. – Eu falei e seus olhos brilharam. Ele sorriu.
- É claro que eu vou com você, Princesinha. – Ele falou sorrindo e eu sorri também. Ele se aproximou de mim e eu senti a dor ficando mais forte.
Então não resisti mais. Senti o mundo ficando negro ao meu redor. Eu sentia meu peito queimar e minha cabeça parecia que ia explodir. Apaguei e só ouvi Tuor gritando, pedindo ajuda.

You taught me what it means to have passion
So I will live inside your memories even if the world should end


N.A.: Memoria, Aoi Eir – Encerramento de Fate Zero.