Tuesday, January 03, 2012


- Atenção, atenção! – Jamal, James e JJ subiram em cima da mesa cada um com uma garrafa de champagne na mão – Dez segundos!
- 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1! Feliz ano novo!

As rolhas explodiram da boca das garrafas, espalhando espumante por todo lado. Todos ergueram suas taças para brindar e depois correram para as janelas para ver a queima de fogos na beira do rio Tâmisa, trocando abraços e desejos de um feliz ano novo. Pela primeira vez, todos estavam reunidos para passar a virada do ano sem os pais. A festa era só para a turma de Hogwarts e a anfitriã era Amber, única cujos pais estavam viajando. A idéia não agradou de início, mas Kaley e Rupert foram capazes de convencê-la que seria uma ótima maneira de socializar mais.

Quase todo o 7º ano estava presente, as ausências eram somente aquelas que não estavam sendo sentidas. E dessa vez não estavam só os que moravam na cidade. Tuor veio da Noruega para passar a festa com os amigos, assim como Keiko e Hiro abandonaram a comemoração em família no Japão para estar ali e Haley, Julian, Elena e Justin, apesar dos protestos, recusaram a famosa festa dos McGregor. Todos queriam passar a virada do ano da formatura juntos. A festa seguia animada desde as 20h, mas prometia ficar ainda melhor agora que as garrafas de champagne começavam a esvaziar mais depressa e qualquer música que saía do rádio parecia ser perfeita. Quando os fogos acabaram a festa recomeçou. James aumentou o volume do rádio e o tapete persa da sala desapareceu quando todo mundo fez dele uma pista de dança. Amber arriscou dançar um pouco também, arrastada por Rupert, mas cansou depois de um tempo e se largou no sofá, admirando um dos quadros de sua mãe que agora ganhara um novo toque de espumante.

- Isso é um desastre – disse quando Kaley sentou ao seu lado – A casa está destruída!
- Não tem nada destruído, só está bagunçado. Relaxe, Amber. Quando a festa acabar vamos ajudá-la a limpar tudo. Com magia, tudo vai ficar como era antes.
- Não acho que vamos conseguir retocar aquele quadro com magia.
- Sabe o que eu desejo pra você nesse novo ano? – Kaley segurou os braços da amiga e a encarou com uma expressão séria – Eu desejo que você cometa erros.
- Você está bêbada.
- Sim, estou, mas deixe-me explicar. Se você está cometendo erros, é porque está experimentando coisas novas, coisas que você nunca tentou antes. Na verdade, é o que eu quero para todos nós, vamos cometer erros! Pare de se preocupar tanto quando as coisas não estão perfeitas ou do jeito que você quer. E o que quer que você tenha medo de fazer, não tenha. Faça. Isso faz sentido?
- Na verdade, faz.
- Então! Cometa erros! Sabe um erro que você devia cometer agora mesmo? – ela fez que não com a cabeça e Kaley apontou pro outro lado da sala, onde Rupert conversava com Jamal – Beije o Rupert.
- Está louca? Não posso fazer isso, ele tem namorada.
- Olha só, já cometeu dois erros em uma única frase. O certo seria “Não quero fazer isso, eu tenho namorado”. Namorado que, por sinal, nem veio à festa.
- Ele viaja com a família todo ano nas festas.
- E Sophie está passando o ano novo com sua família na França, portanto, oportunidade perfeita.
- Eu não vou fazer isso.
- Covarde.
- Não sou covarde! – Amber se defendeu, olhando indignada para a amiga – Não vou fazer isso porque é infantil, não porque não tenho coragem.
- Então prove e vá até lá beijá-lo!
- Você ouviu o que eu acabei de dizer?
- Tudo que ouvi foi uma galinha cacarejando – e começou a imitar o som de uma galinha.
- Vai me deixar em paz se eu fizer isso? – ela assentiu, ainda cacarejando, e Amber atirou uma almofada em seu rosto – Está bem então.

Amber levantou decidida do sofá e traçou uma reta até onde os dois garotos conversavam, sendo observada atentamente pela amiga. “Desculpe por isso, é culpa da Kaley”, disse quando parou na frente do amigo e antes que ele pudesse perguntar alguma coisa, agarrou a gola de sua camisa e o puxou para um beijo. Foi um beijo mais demorado do que ela planejava. Ela o soltou, se desculpou mais uma vez e saiu, deixando os dois garotos atônitos. Kaley estava dando pulos de alegria quando ela a reencontrou no sofá.

- Foi bom? – ela perguntou e não ouviu uma resposta, mas o sorriso que Amber não conseguiu impedir que se formasse em seu rosto disse tudo que Kaley precisava saber.

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- O que acabou de acontecer aqui? – Jamal disse perplexo.
- Não tenho a menor idéia – se Jamal estava perplexo, Rupert estava em estado de choque.
- Ah não cara, por favor!
- O que?
- Eu conheço essa cara, não faça isso. Ela tem namorado e você tem namorada, hoje é ano novo. O que acontece nessa noite, morre com ela.
- Nunca ouvi falar disso.
- Está ouvindo agora. Você ganhou um beijo de graça de uma gata que não é sua namorada, fique feliz e siga em frente.
- Hei, Jamal! – MJ gritou do meio da sala segurando uma garrafa de tequila – Duelo de titãs!
- MJ já bebeu demais... – Rupert comentou e Jamal assentiu – Acha que é uma boa idéia?
- Provavelmente não, mas como disse: o que acontece hoje, morre hoje.

Jamal se aproximou do amigo e sentou-se à mesa de frente para ele, puxando um copo. Logo uma roda se formou em volta dos dois, os incentivando a beber mais a cada copo que viraram. Jamal tinha uma boa resistência ao álcool, mas também sabia que tudo tinha um limite. Quando viraram o oitavo copo e MJ, já tombando, ainda queria mais, levantou da mesa e deu a vitória ao amigo.

- Companheiro, acho que você já está legal por hoje, não é? – ele tentou impedir o amigo de abrir outra garrafa.
- Hoje é festa! Quem mais quer fazer duelo? – gritou com a garrafa erguida e Kevin levantou a mão, mas Rupert tomou a garrafa dele.
- Não, chega, daqui a pouco entra em coma alcoólico!
- É, vamos dar um tempo, que tal beber uma água? – Jamal o pegou pelo braço, mas MJ escapou.
- Só se puder me pegar!

Antes que eles pudessem segurá-lo outra vez MJ já havia corrido pro outro lado da sala. Pulou por cima do sofá, esbarrou em Clara e James que se beijavam no canto do corredor e se trancou no banheiro. Tirá-lo de lá não foi fácil. MJ só saiu quando James prometeu disputar o duelo de titãs com ele, e para fazê-lo beber um café teve que colocar em um copo de tequila e desafiá-lo a virar. Conseguiram arrastá-lo até o sofá com a intenção de fazê-lo comer alguma coisa, mas antes que o prato de comida chegasse tudo já havia sido vomitado.

- Ok, chega de festa – Jamal pegou o amigo pelo braço e Rupert ajudou apoiando o outro – Vamos levar você pra casa.

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- Rupert, segura ele! – Jamal largou MJ na cama e abriu a gaveta de roupas.
- Ele não devia tomar um banho antes? Está todo vomitado.
- Eu não vou dar banho nele, você vai? – e Rupert negou – Então ele vai dormir vomitado. Aqui MJ, tome, vista esse pijama.
- Desculpem – MJ pegou o pijama e sentou na cama torto, tentando tirar a camisa – Eu não sou quem vocês pensam que eu sou.
- Você só está bêbado, amanha você lembra quem você é – Rupert disse e ele e Jamal riram.
- Não, eu sou uma mentira – ele insistiu e começou a chorar. Os dois se olharem sem saber o que fazer – Meu pai nunca vai me perdoar.
- Claro que seu pai vai perdoar você – Jamal não sabia do que ele estava falando, mas era melhor não discutir.
- Não, não vai! – MJ continuava chorando, a camisa do pijama presa na cabeça sem sair do lugar – Eu o decepcionei. Nem consigo dizer a verdade a ele.
- Olha, tenho certeza que seu pai vai entender se conversar com ele – Rupert também entrou na conversa sem sentido.
- Como posso contar a ele que sou gay? Não entendem como isso vai desapontá-lo?

O silêncio caiu sobre o quarto. MJ continuava chorando tentando vestir o pijama e Rupert e Jamal trocaram um olhar surpreso, ambos sem saber o que dizer ao amigo. Só quando MJ finalmente conseguiu vestir o pijama e os encarou com o rosto molhado de lágrimas foi que Rupert levantou e foi até ele.

- Você bebeu demais hoje, está emotivo. Amanhã, quando acordar sóbrio, conversamos.
- Ok. – e deitou na cama, puxando a coberta pra cima do corpo e apagando na mesma hora.

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MJ acordou na manhã seguinte sem saber onde estava. Levou alguns minutos observando o que tinha ao seu redor para perceber que não estava em seu quarto, e sim no quarto de Jamal. Sentou na cama devagar, a cabeça pesada e latejando, e viu os dois amigos sentados do outro lado do quarto, o encarando.

- Cara, o que você fez ontem? – Rupert quebrou o silêncio.
- Exatamente a minha pergunta, o que eu fiz?
- Você vomitou em tudo, cara – Jamal falou – O tapete persa da menina, de 500 mil libras. O sofá de estofado de algodão egípcio, você destruiu a casa dela num vomito.
- Eu não fiz isso.
- Sim, fez. E depois trouxemos você pra cá, você chorou dizendo que tinha desapontado seu pai.
- Por ser gay... – Jamal completou e eles esperaram a reação de MJ – Algum comentário sobre isso?
- Não estava bem ontem, acho melhor ir pra casa – ele levantou e fez menção de sair, mas os dois bloquearam a porta.
- Você não vai a lugar algum sem antes falar a verdade – Jamal cruzou os braços, um sinal claro de que não estava brincando – Por que não nos contou antes?
- Não tive coragem. Fiquei com medo do que vocês podiam pensar de mim se soubessem.
- Achou que íamos mudar a forma como o tratamos, só porque gosta de garotos? – agora foi Rupert quem cruzou os braços – Só pode estar de brincadeira.
- Somos seus amigos, cara. Até o fim, não importa o que aconteça. Nunca íamos tratá-lo diferente por causa disso, nem por motivo algum.
- E nem seu pai vai, mas se está inseguro de contar a ele, converse com o tio Ben antes. Tenho certeza que ele será mais útil que nós dois em conselhos nesse departamento.
- Desculpa não ter dito nada antes, vocês têm razão.
- E deve contar ao resto da turma também, hoje mesmo.
- Eu vou, mas antes preciso tomar um banho, estou fedendo a vomito.
- É, faça isso, vamos chamá-los aqui enquanto se livra desse fedor – Jamal puxou uma toalha do armário e atirou para o amigo.
- E depois vai comigo até a casa da Amber, tem um pedido de desculpas a fazer pelo tapete e sofá estragados.
- Merlin, que vergonha. Vou pedir desculpas a ela, com certeza.
- Agora vai logo tomar banho, meu nariz está começando a arder com esse fedor.

Quando MJ saiu do banho, seus amigos já estavam na sala aguardando ansiosos para saber o motivo de Rupert e Jamal terem tirado todos da cama tão cedo. MJ contou a eles a verdade e depois de ouvir uma bronca por ter achado que não receberia o apoio de seus amigos de infância, ouviu palavras de incentivo para se abrir com o pai. Não ia ser uma conversa fácil, ele sabia disso, mas também sabia que não podia viver em uma mentira. Se queria começar a viver de verdade, não poderia ser como alguém que ele nunca foi.