Friday, January 20, 2012 Depois da revelação de MJ no ano novo, voltar à rotina em Hogwarts foi diferente. Agora, por mais que tentássemos agir com naturalidade, era impossível não notar coisas que antes não percebíamos. Um bom exemplo era que MJ sempre foi muito popular, mas andava muito mais cercado por garotas do que garotos. Outra coisa que entendemos foi sua amizade com Dean, o motivo de estarem sempre juntos. Embora não visse os dois juntos desde que as aulas recomeçaram, ao menos agora sabia quem ele era. Com exceção da nova percepção que tínhamos da vida de MJ, nada mudou no novo ano. As aulas continuavam puxadas, estava cada dia pior, e o castelo continuava superlotado. Aulas como Transfiguração, DCAT, Poções, Herbologia e Feitiços eram sempre junto dos alunos de Beauxbatons e Durmstrang e era muito difícil manter a concentração com tanta gente dentro da sala. Herbologia talvez fosse a pior, as estufas não eram grandes o suficiente e mesmo no frio não demorava muito para começarmos a nos sentir sufocados. O professor Longbottom fazia o possível pra manter a aula dinâmica, mas do momento em que eu pisava na estufa, só pensava na hora de sair. As aulas de reforço com MJ acabaram se revelando mais úteis do que eu pensava e hoje era dia dela, mas a biblioteca estava entupida de gente e sem mesa vazia, então combinamos de estudar na beira do lago mesmo. Estava frio, ele estava congelado, mas era melhor que o caos que estava do lado de dentro. MJ já estava sentado com as costas apoiada na árvore conversando com JJ quando cheguei. Uma toalha estava forrada na neve e espalhamos os livros nela, começando os resumos. - O que foi? – JJ perguntou depois de mais de uma hora de estudos, percebendo que MJ estava distraído. Ele sacudiu a cabeça e JJ me olhou – Cara, você leu o mesmo trecho três vezes. - Você e o Dean terminaram? – perguntei vendo que ele estava do outro lado do lago e era quem distraia MJ. - É o que parece. Ele deixou bem claro que não quer mais que isso seja um segredo e eu não acho que tenha que contar pra escola inteira. Ninguém tem nada a ver com isso. - Foi isso que causou a briga no réveillon? – JJ perguntou e ele assentiu. - Você já conversou com o tio Ben? - Já, fui conversar com ele no começo da semana – fizemos cara de “e então?” e ele riu – Ele disse que eu não devo ter medo de contar ao meu pai, porque ele foi seu melhor amigo aqui em Hogwarts e sempre o aceitou. Que a única coisa que ele disse quando soube que tio Bem era gay foi “espero que eu não seja o seu tipo, porque você não é o meu e eu odiaria partir seu coração” – e começamos a rir. - Viu? Não tem o que temer. Conte logo a ele e acabe com essa agonia. - É, vou contar a ele na páscoa, quando for pra casa. - Descer aquelas montanhas na prova de ciclismo foi mais fácil, não é? – perguntei rindo e ele riu um pouco nervoso, mas depois relaxou. - Sim, definitivamente foi mais fácil. Falando nisso, como está o Lucas? Já se recuperou do tombo? - Tombo? Que tal catástrofe? Já está bom, mas depois de três meses engessado e quase dois de fisioterapia, ele disse que não desce mais ladeira de bicicleta. - É bom mesmo. Se descendo inteiro ele capotou em um barranco e precisou de um pedaço de osso novo pra perna, imagina se tentar de novo com a perna ruim? – JJ completou e concordamos. - Conhecendo ele, talvez nem ande mais de bicicleta. - O que vocês estão fazendo aqui fora, sentados na neve? – Sheldon apareceu do nosso lado, todo encapotado como se estivesse vindo do Alasca. - Que frio todo é esse, Sheldon? – JJ riu - Cresci em um lugar quente, inverno não é uma estação que aprecio. - Amy mora em um lugar frio, não acha que está na hora de começar a reavaliar sua relação com o inverno? – MJ perguntou em tom de deboche e JJ e eu nos olhamos perdidos. - Quem é Amy? – perguntei curiosa. - A namorada dele – MJ respondeu categórico e cuspi o chiclete que estava mastigando. - SHELDON TEM UMA NAMORADA? - Ela não é minha namorada – ele respondeu paciente, mas ignorei. - Há quanto tempo isso está acontecendo? – JJ também estava surpreso. - Quase dois meses – MJ ria sem tentar disfarçar. - DOIS MESES? – virei para Sheldon incrédula – Por dois meses, quando eu perguntei se tinha novidades, não lhe ocorreu mencionar uma namorada? - Ela não é minha namorada! – ele agora já estava sem a paciência de antes. - Sheldon e Amy – forcei um suspiro para irritá-lo. - Ou como gostamos de chama-los, Shamy – MJ completou e agora Sheldon soltava fumaça pelas orelhas. - Shamy! Que lindo! Só vou chama-los assim agora! - Será que vocês podem parar? Sim, eu tenho uma amiga, sim, nós passamos a maior parte do tempo juntos, mas não, ela não é minha namorada. Ele ainda tentou argumentar mais um pouco, mas não parávamos de rir e repetir “Shamy”, então ele se cansou e nos largou pra trás, caindo na neve de tanto dar risada. Ok, achava muito difícil o relacionamento dele com essa menina poder ser taxado como namoro, não conseguia imaginar Sheldon como namorado de alguém, mas ainda assim aquilo me dava munição para atormentá-lo até pro resto da vida. E eu podia perder o amigo, mas não perdia a piada. Principalmente se a piada for com Sheldon White. °°°°°°°° - Dra. Lupin, minha paciente do quarto 506 está grávida e quer uma obstetra para garantir que o bebê não vai ser afetado no tratamento, será que pode conversar com ela, por favor? - Claro Dr. Wyatt, já vou até lá para vê-la. – Louise respondeu preenchendo os prontuários – Só vou terminar essa papelada e o alcanço. O médico assentiu e virou o corredor, deixando Louise para trás. Ela terminou de preencher os prontuários dos pacientes e começou a caminhar na direção do quarto 506, mas parou ao ouvir uma voz conhecida vindo de um dos quartos daquele corredor. Voltou alguns passos e viu Lucas, o amigo de sua filha, acomodado em uma cama com um videogame portátil na mão. - Lucas? – disse entrando no quarto, surpresa – O que faz aqui? - Oi tia, tudo bom? – o garoto respondeu sorrindo. Lucas sempre foi surdo-mudo, mas há mais de um ano usava um aparelho que o permitia ouvir. E com a ajuda de uma fonoaudióloga, já conseguia falar, embora ainda usasse a linguagem dos sinais enquanto falava. - A leucemia voltou? – Louise leu sua ficha pendurada na cama – Ah meu amor, sinto muito. - Tudo bem, eu aguento. Já a venci uma vez, vou vencer de novo. - Onde estão seus pais? - Minha mãe foi na lanchonete e meu pai está lá na recepção acertando as coisas da internação. Você disse uma vez que esse era o melhor hospital pro meu caso e ele resolver vir pra cá dessa vez. - Sim, aqui é o melhor, você será bem cuidado pelo Dr. Wyatt. Preciso atender uma paciente, mas volto aqui depois para ver como está e falar com seus pais. - Estarei aqui – ele brincou e ela sorriu, saindo do quarto. Louise saiu do quarto com a ficha de Lucas na mão, ainda a examinando. Não sabia exatamente o que, mas sabia que tinha algo errado com ela. Ele estava curado, depois de tudo a que foi submetido. E se alguma coisa não estava certa, ela precisava saber. |