Saturday, February 18, 2012


Eu culpo Lucas por tudo que aconteceu. Por todos os péssimos últimos quatro meses que passei em Hogwarts antes da formatura. Porque quando eu estou triste ou chateada com alguma coisa, faço besteira. E a maior besteira que já fiz na vida foi motivada pela notícia sobre ele que recebi da minha mãe, no mesmo dia em que ajudamos a trazer Haley e Julian de volta pra Hogwarts.

Mamãe chegou a Hogwarts pouco depois de já estarmos de volta. Ela estava tão calma e sequer nos deu bronca por ter ido atrás dos vampiros sem autorização que de imediato percebi que aquela visita era para trazer más notícias. Ela tinha vindo até a escola me contar que Lucas estava de volta ao hospital com Leucemia, dessa vez internado em Londres, onde ela trabalhava. Disse que ainda não sabiam o que havia acontecido, já que supostamente ele estava curado, mas que mesmo não sendo sua área ia ajudar no que fosse preciso. Por um instante achei que talvez as coisas não fossem tão ruins assim e que logo ele estaria bem, mas quando ela disse que eu poderia visita-lo no recesso de páscoa, entendi que não era assim tão simples. Se ela já dava como certo que em abril ele ainda estaria no hospital, era porque era mais sério do que eu imaginava.

Passei o resto do domingo triste e desanimada. Não queria conversar com ninguém, nem contar o que havia acontecido, e aproveitei que estava cansada de toda a agitação das últimas horas pra me refugiar no dormitório com as cortinas da minha cama fechadas. E ainda tinha o Hiro. Agora que havia admito pra mim mesma que gostava dele, estava difícil dormir a duas camas de distancia da namorada dele. As meninas ainda não sabiam, não tive coragem de contar a elas. Eu queria, precisava dizer a elas o que estava acontecendo, mas não queria fazer isso sem antes saber o que pretendia fazer a respeito. Sabia que isso seria a primeira coisa que elas me cobrariam e queria ter a resposta certa pra quando isso acontecesse.

Não ia contar a elas ainda, mas precisava me abrir com alguém que não fosse James. Já era demais ele ter presenciado meu surto no sábado e ter sido extremamente compreensivo, não ia fazê-lo passar por isso outra vez. Então quando acordei na segunda-feira, já com o rosto desinchado de tanto chorar, procurei Jamal para cumprir uma promessa feita há dois anos. Ele estava tomando café sozinho na mesa da Sonserina quando cheguei, todos já tinham saído, era a oportunidade perfeita.

- Bom dia – disse quando sentei ao seu lado e me servi de suco de abóbora – Pensei que não fosse sair do dormitório hoje.
- Eu gosto do Hiro – soltei sem cerimonia e ele largou a torrada que segurava – Prometi contar a você quando admitisse pra mim mesma.
- E você solta uma coisa dessas assim, sem vaselina? – ele ainda me olhava chocado e acabei rindo – Bom, que seja. Até que enfim! Quando percebeu isso?
- No dia dos namorados. Estava com James quando surtei vendo ele e Leslie juntos... – ele começou a rir sem parar – Foi horrível, comecei a chorar na frente dele. Para de rir, não tem graça!
- Olha, tenho muito respeito pelo James agora. Não é qualquer um que mantem a dignidade vendo a garota que você está pegando chorar por outro na sua frente.
- Ele foi bem compreensivo, realmente. Conversamos e vamos manter a amizade, não vou mais ficar com ele.
- Faz muito bem. E quanto ao Hiro, o que vai fazer? Brigar na lama com a Leslie? – sugeriu com uma cara irônica e lhe lancei um olhar zangado.
- Na verdade, tenho algo em mente e preciso da sua ajuda pra colocar em pratica.
- Opa, pode contar comigo! – ele se animou de imediato – O que planeja fazer?
- Vou fazer uma poção polissuco e me passar pela Leslie.

As reações de Jamal depois que terminei de falar foram as mais variadas possíveis. Primeiro ele me olhou chocado, depois começou a rir como se eu tivesse acabado de contar uma piada, mas a risada começou a se transformar em um riso nervoso quando percebeu que eu não estava acompanhando e por fim ficou sério, me encarando como se eu fosse louca. Esperei ele falar alguma coisa, mas tudo que ele conseguia fazer era me encarar com uma expressão incrédula estampada no rosto.

- Não vai dizer nada? – disse depois de alguns segundos de silêncio.
- Você está maluca? Só pode estar, pra ter dito isso!
- Não estou maluca, o que tem demais nisso?
- O que tem demais nisso? – ele deu outra risada nervosa – Você quer tomar uma poção e se passar pela namorada dele sem ele saber. Se conseguir me explicar onde está a lógica nisso, admito que quem está louco sou eu.
- Eu não tenho um plano imediato de tomar a namorada dele, ok? Só queria fazer alguma coisa...
- Então faça qualquer outra coisa, mas nisso eu não vou ajudar, sinto muito.
- Você prometeu que ia me ajudar!
- Não estava esperando ouvir isso!
- Me dá uma razão pra não me ajudar.
- Posso lhe dar várias, mas vou citar apenas uma: isso não vai dar certo, ele vai descobrir. E quando isso acontecer vai sobrar pra mim.
- Ele não vai descobrir se você não contar.
- E quanto a Leslie? Pretende dopar ela por um dia? E depois, o que acontece quando ele comentar alguma coisa que vocês fizeram juntos e ela não se lembrar?
- É por isso que preciso de você – fiz uma cara de pidona e vi que ele ia ceder – Você é o único que tem lábia, pode dar um jeito deles não conversarem sobre o nosso dia. E pode garantir que ela não se aproxime quando eu estiver com ele.
- E posso saber quando pretende fazer isso, se não temos mais visitas a Hogsmeade?
- Não temos Hogsmeade, mas temos uma viagem de formatura se aproximando. Vamos passar uma semana longe daqui, vou ter muitas oportunidades de ficar sozinha com ele.
- Clara... – Jamal começou a sacudir a cabeça e isso era sinal de que estava prestes a ceder - Isso vai acabar mal...
- Não vai acabar nada mal, se fizermos tudo direito – agarrei-o e dei um beijo em seu rosto – Por favor, me ajuda? Só posso contar com você pra isso.
- Isso vai sobrar pra mim, Hiro vai me odiar se descobrir.
- Ele não vai descobrir, mas se por acaso isso acontecer, seu nome nem vai ser citado. Ele não vai saber que você me ajudou, prometo.

Jamal ainda resistiu mais alguns segundos, mas acabou assentindo e o abracei feliz. Saímos para a aula de Trato de Criaturas Mágicas e fomos conversando sobre como íamos fazer para preparar a poção sem ninguém saber. Ele ainda estava receoso com a ideia de Hiro descobrir tudo, mas já estava totalmente a bordo do plano. Como falei, aquela foi a maior besteira que já fiz na vida. Ela havia começado por causa de Lucas e terminaria também por causa dele, mas eu poderia ter evitado tantos problemas se parasse pra pensar nas consequências dos meus atos...