Tuesday, February 14, 2012


Passeios caóticos em Hogsmeade estavam se tornando uma rotina e não ia me espantar se McGonagall os extinguisse da história de Hogwarts. Estava tudo correndo bem, o dia já estava chegando ao fim, quando a primeira explosão sacudiu tudo. Em questão de segundos a voz de McGonagall ecoou em todo o vilarejo mandando que alunos voltassem para o castelo, mas não era o que estava nos meus planos. Não ia correr antes de me certificar que meus amigos estavam fazendo o mesmo, ainda mais quando havia acabado de sentir a pena dada por Artemis esquentar dentro do meu bolso. Alguém estava em perigo.

- Volte para o castelo! – disse a uma Sophie assustada do meu lado.
- Você não vem? – ela segurou meu braço para me puxar, mas não me movi.
- Não posso voltar sem antes saber que todos estão bem – dei um beijo nela e ela soltou meu braço – Volte com os outros, não vou demorar.

Minha primeira reação foi correr em direção ao Três Vassouras, pois sabia que a maioria estaria ali, mas estava uma confusão tão grande na rua que foi difícil chegar ao pub. Já estava na porta dele quando vi Rick passar correndo, um machucado na testa e sozinho. Não vi sinal de Amber junto dele e fiz menção de correr até ele para saber onde ela estava, mas MJ bateu nas minhas costas e chamou minha atenção.

- Rupert, anda logo! – ele gritou abrindo a porta do pub e perdi Rick de vista.
- Rick estava sozinho, não vi Amber com ele! – respondi sem sair do lugar, apavorado com a idéia de que ela pudesse estar em perigo.
- Vamos encontrá-la, mas antes temos que saber o que está acontecendo! – e me empurrou pra dentro.

As coisas estavam ainda mais caóticas dentro do pub. Todos já estavam reunidos lá dentro, mas de imediato notei que Justin e Lena não estavam acompanhados de Julian e Haley. E a ausência deles foi confirmada quando Arte e Tuor entraram esbaforidos dizendo que eles haviam sido seqüestrados por vampiros. Rapidamente bolamos um plano para tentar resgatá-los e com o apoio do tio Ty e do tio Micah, mesmo que um pouco relutantes, seguimos os vampiros e comensais que levaram os dois até a metade da floresta do povoado, mas fomos obrigados a recuar.

O castelo estava um caos quando voltamos. Muitos alunos machucados sendo atendidos por uma enfermeira sobrecarregada e os que estavam bem faziam de tudo para ajudar. McGonagall já tinha selado o portão quando voltamos e reforçado as barreiras mágicas, ninguém entrava sem permissão. Todos foram direto para o salão principal comer alguma coisa, mas minha cabeça ainda estava a mil. Continuava sem noticias de Amber e ainda não havia a visto no meio dos alunos nos jardins.

- Rupert! – Sophie veio ao meu encontro, ainda assustada – Você disse que não ia demorar!
- Fomos atrás deles, Julian e Haley foram seqüestrados – disse cansado, mas olhando pros lados a todo instante – Você viu a Amber?
- Não, quando entrei fui procurar meus amigos, por quê? Ela sumiu também?
- Não sei, não encontro ela. Vi Rick passar machucado e estava sozinho. E se ela ficou lá fora? Tenho que voltar ao vilarejo!
- Está maluco? Não pode sair de novo! – ela se espantou, mas eu estava tão apavorado com a idéia dela ainda estar lá fora que ignorei – Os professores tiraram todos de lá, ela não estava em lugar nenhum.
- Então pra onde ela foi? – tinha certeza que minha voz estava saindo quase esganiçada, mas pouco me importava – E onde está Kaley pra me ajudar a procurar?
- Rupert? – ouvi alguém me gritar e quando virei, minha visão foi obstruída por uma massa de cabelos loiros quando um corpo colidiu com o meu ao me abraçar. Amber me soltou do abraço e me bateu – ONDE ESTAVA?
- Onde VOCÊ estava? Procurei em todo canto! Sabe o que passou pela minha cabeça quando vi Rick sozinho no meio da confusão?
- Eu não sai do castelo, estava cansada da aula do curso e passei o dia dormindo. Acordei com a voz da McGonagall amplificada e sai atrás de vocês, mas não me deixaram passar do portão.
- Julian e Haley, eles...
- Eu soube, Patrick estava sendo nosso link com vocês, até que sumiram da conexão dele. Onde eles estão?
- Não sabemos, fomos obrigados a voltar, mas vamos sair outra vez amanhã.
- Eu vou com vocês.
- Sei que vai. Sairemos antes do nascer do sol.
- Estarei pronta. E agora que sei que está vivo, vou ver como Lena está – disse antes de desaparecer no meio dos alunos.
- Vou comer alguma coisa antes de dormir, você vem? – estendi a mão para Sophie, mas ela continuou parada.
- Não, eu passo. Acho que já deu.
- Como? – perguntei sem entender.
- Estou terminando com você.
- O que? Mas por quê? – aquilo me pegou de surpresa.
- Só estou adiantando o que iria acontecer em junho – continuei encarando-a espantado e ela riu, mas era um riso desanimado – Não faça essa cara, você sabe que ia acontecer. Nós dois sabemos. Terminando agora, temos o resto do ano pra correr atrás do que realmente queremos.
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que eu vou parar de fingir que não estou com saudades do meu ex, com quem terminei nas férias porque ele tinha se formado, e você pode parar de fingir que não está apaixonado pela sua amiga.
- Não é tão simples assim.
- Dois dos seus amigos foram sequestrados e você foi capaz de manter a calma e o foco pra conseguir ajudar na tentativa de resgate. Amber sumiu por algumas horas e você surtou. É muito simples, Rupert.
- Sinto muito. Eu gosto de você, de verdade. Não queria que isso tivesse acontecendo.
- Nem eu, mas não podemos continuar nos enganando. Também gosto muito de você e espero que possamos continuar amigos. Não é porque nosso namoro não tem futuro que temos que nos afastar.
- De maneira alguma.
- Então agora vá dormir, vai precisar de energia pra trazer seus amigos de volta amanhã – ela me deu um beijo no rosto e entrou no castelo.

Fiquei parado no jardim vendo Sophie entrar, pensativo. Ela tinha razão, é claro. Eu gostava de Amber e acho que já estava ficando óbvio para todo mundo, mas aparentemente menos para ela. Ainda não sabia o que ia fazer, afinal, ela tinha namorado, mas aquela não era a hora de pensar no assunto. Tínhamos uma missão de resgate em poucas horas e precisava comer alguma coisa e descansar, ou iria atrapalhar mais do que ajudar. Passei no salão principal para pegar alguns pães e um pouco de suco e como todos já tinham se recolhido para repor as energias, subi direto para a torre da Corvinal. Amber estava sentada sozinha no salão comunal, debruçada em uma mesa lotada de pergaminhos.

- Se quer ir conosco, é bom descansar – disse quando ela mal tirou os olhos dele para ver quem tinha entrado.
- Dormi o dia inteiro, se tem uma coisa que não estou é cansada, então Justin me deu esses mapas pra estudar. O que foi?
- O que foi o que?
- Está me olhando com uma cara esquisita. Aconteceu alguma coisa?
- Nada que não possa esperar essa confusão toda terminar, mas você também está com uma cara estranha. O que aconteceu?
- Como você disse, nada que não possa esperar. Tem coisas mais importantes acontecendo – assenti cansado e ela voltou a olhar os mapas – Devia dormir um pouco, está um lixo.
- Obrigado.

Ela riu ainda sem tirar os olhos dos mapas espalhados na mesa e subi as escadas. Justin já estava apagado quando entrei no dormitório e assim que meu corpo bateu na minha cama, apaguei também.

ºººººººººº

Saímos de Hogwarts com o céu ainda escuro. Seguimos o rastro dos vampiros até uma floresta do outro lado de Hogsmeade e os encontramos amarrados no centro de uma clareira bem no meio da floresta. Uma briga entre a bruxa que comandou o seqüestro e um dos vampiros fez Justin e Clara atacarem primeiro e a confusão começou. Feitiços eram lançados pra todo lado e os vampiros e comensais se organizaram para nos derrubar, mas não tínhamos sido pegos desprevenidos dessa vez e fomos adversários a altura.

Só na metade da luta foi que os aurores começaram a chegar. Meu pai, tios Ben, Ty, Micah, Logan, Lu e tia Alex, além de muitos outros, cercaram os vampiros e foi tia Alex quem matou a maluca que achava que Haley era ela e Julian era o pai do tio Ty. Os comensais e vampiros foram completamente dominados, mas a comemoração durou pouco quando vimos que Haley havia levado uma punhalada fatal. O desespero tomou conta da clareira e vimos Justin correr pra dentro da floresta com ela nas costas, enquanto Clara e Devon os seguiam. Não sei dizer quanto tempo se passou, estávamos todos devastados, mas quando eles voltaram, Haley estava mais saudável do que nunca. Toda suja de sangue, sim, mas viva. A batalha não havia sido perdida.

ºººººººººº

A ala hospitalar de Hogwarts nunca esteve tão cheia em uma manhã de domingo. Todos que saíram conosco na missão de resgate precisaram passar por ela para tratar de algum machucado, por menos que ele fosse, e a enfermeira estava a ponto de ter um ataque de nervos, resmungando que Hogwarts era uma escola, não a Academia de Aurores. Levamos uma bela bronca dos nossos pais também, que não gostaram de termos desobedecido a suas ordens e saído por conta própria para trazer Julian e Haley de volta, mas no fim eles tiveram que admitir que nossa ajuda havia sido valiosa.

Passamos o dia inteiro contando histórias entre os alunos que ficaram no castelo, que a todo instante queriam saber o que tinha acontecido e como havíamos lutado contra vampiros e comensais sozinhos. Fizemos sucesso especialmente entre o grupo da AD que não foi por serem muitos novos ainda. A maior parte do nosso dia foi dedicado a narrar nos mínimos detalhes tudo que aconteceu do momento em que houve a primeira explosão em Hogsmeade até voltarmos com Haley e Julian vivos. Acabamos fazendo uma aula teórica não-programada, mas tão proveitosa quando as aulas exaustivas da Arte.

A maioria acabou indo dormir cedo depois de um dia cansativo como aquele, mas fui um dos poucos que teve o sono estragado por toda aquela agitação. Estava completamente acesso, sem idéia de como ia conseguir dormir e um pouco chateado pelo que havia acontecido entre Sophie e eu. Gostava dela, de verdade, e mesmo sabendo que ela tinha toda a razão, não estava contente. Sentei sozinho no salão comunal da Corvinal já tarde da noite e lembrei que, depois da última festa da casa, Julian havia escondido uma garrafa de tequila atrás de alguns livros de astrofísica que quase ninguém mexia. Era ela quem ia me ajudar a encontrar o sono. Puxei a escada para alcançar a estante e encontrei a garrafa exatamente onde ele havia deixado, com dois pacotes de copos de papel do lado. Desci com tudo nos braços e me larguei na poltrona outra vez, mas antes que pudesse abrir a garrafa, Amber desceu as escadas do dormitório feminino.

- Pelo visto não sou a única que não consegue dormir – disse se acomodando na poltrona em frente a minha.
- Muita adrenalina. Meu corpo está cansado, mas minha mente está a mil por hora, não consigo relaxar.
- É por isso que está com essa garrafa de tequila na mão? – assenti um pouco sem graça e ela pegou um dos copos na mesa – Boa idéia. Onde encontrou?
- Julian escondeu dos mais novos depois da última festa – enchi o copo dela e depois o meu – Atrás daqueles livros que quase ninguém lê.
- E pra que tantos copos? Somos apenas nós dois.
- Ah, é uma tradição russa que o pai do Hiro me ensinou. Você bebe e quebra o copo. Como não acho legal quebrar copo de vidro por aqui, serve amassar esses – ergui o copo e ela fez o mesmo – Nasdrovia! – viramos de uma vez só e colocamos de volta na mesa, amassando com a mão.
- Terminei com Rick ontem – ela disse sem cerimonia, já pegando outro copo vazio.
- Por quê? O que houve? – fui pego de surpresa e quase não consegui evitar sorrir.
- Não estava sendo justa com ele – ela virou outro copo e fui logo depois. Mais dois copos amassados caíram no chão – Kaley diz que ele estava gostando de mim de verdade e eu não sentia o mesmo. Melhor cortar agora, não concorda?
- Sim, claro – enchi mais dois copos e viramos depressa – Se sabia que o namoro não tinha futuro, melhor não prolongar. Sophie e eu fizemos o mesmo.
- Vocês também terminaram? – ela quase engasgou, mas puxou outro copo do pacote – Quando foi isso?
- Ontem à noite, logo depois que você saiu pra procurar Justin. Ela quem terminou comigo, na verdade, mas concordei com os seus argumentos. Foi o melhor mesmo, assim não estragamos a amizade.
- Não acho que Rick vá querer ser meu amigo – ela riu e esticou outro copo para mim – Ele não gostou muito.
- Você terminou com ele na manhã do dia dos namorados e o cara estava apaixonado, até entendo o lado dele – ela me olhou de cara feia, mas depois riu. Viramos mais um e o chão já estava cheio de copos.
- Vou acordar de ressaca amanhã, não vou? – ela perguntou preocupada, mas ainda assim pegou outro copo.
- Vamos ter que esperar pra saber – e enchi o copo.

Batemos os copos de papel e viramos mais uma, e naquela altura eu já havia perdido a conta de quantos copos tinham sido amassados. Acordei no dia seguinte sem conseguir me lembrar se tínhamos terminado aquela garrafa, tampouco como consegui subir as escadas e deitar na cama. Minha cabeça rodava e tinha a sensação de que um elefante estava sentado nela. Precisei sair para a aula de Trato de Criaturas Mágicas de óculos escuros, porque é claro que estava um sol de rachar na manhã seguinte, e Amber estava na mesma situação. Parecíamos dois cegos de pé na orla da floresta. Estávamos esgotados, mas mesmo assim me sentia mais feliz do que nunca. Talvez precise beber mais vezes.