![]() Friday, February 10, 2012 A primeira vez que eu tive absoluta certeza que estava certa em não escolher seguir a carreira de auror foi naquela manhã de sábado, dia dos namorados. Quando cheguei para o café da manhã, toda a turma do curso do tio Micah estava debruçada nas mesas, as caras mais cansadas do mundo e olheiras gigantes. James nem levantou a cabeça para me cumprimentar quando passei, se limitou a acenar sem descolar a bochecha de dentro do prato vazio na sua frente. Penny já tinha deixado sua torrada cair da mão três vezes quando levantei da mesa da Sonserina, sem muita ideia do que fazer com o meu dia. Tinha a manhã e a tarde liberadas para ir a Hogsmeade, mas a perspectiva de encontrar todos os cafés e lojas transbordando de casais apaixonados não estava ajudando muito. Acabei decidindo aproveitar a biblioteca vazia para pegar os livros que nunca conseguia encontrar disponíveis durante a semana, mas quando cheguei com eles no Salao Comunal a vontade de estudar evaporou. Era sábado, quem eu estava querendo enganar? Eu não ia estudar. Larguei os livros na mochila e com uma promessa de que ia abri-los no dia seguinte, voltei para os jardins do castelo. A maioria dos alunos que tinham permissão de sair já estavam atravessando os portões, mas quando passei pelo pátio James estava deitado em uma das muretas, dormindo. Não acreditei que ele estava realmente dormindo e sentei perto de sua cabeça, o beijando. Ele correspondeu sem nem ao menos abrir os olhos. - Espero que você seja a Clara, porque eu vou ficar desapontado se abrir os olhos e descobrir que não é ela. - Eu podia ser um garoto, isso passou pela sua cabeça oca? - Sim, passou. Eu ia ficar puto, mas estou tão cansado que ia deixar o soco pra outro dia. - Bom, se está tão cansado então significa que vai me fazer companhia aqui pelo castelo hoje? Não vai querer ir a Hogsmeade. - Não, eu quero ir a Hogsmeade! – ele levantou assustadoramente rápido, de uma hora pra outra totalmente alerta – Vamos, por favor. - Tem certeza que não prefere ficar aqui? – puxei seu rosto pra perto do meu e o beijei – O castelo está vazio... Ninguém está usando a sala de treinamento da AD... - Acredite, nada me faria mais feliz que isso, mas não pique agora. Preciso de algumas horas pra recuperar minhas energias. Se quiser companhia hoje, vai ter que andar comigo no vilarejo. - Para um futuro auror, precisa melhorar seu condicionamento físico. Está muito molenga – provoquei, mas ele só riu e me puxou pra cima dele, devolvendo o beijo. - Mais tarde vou mostrar que meu condicionamento físico vai muito bem, obrigado – ele levantou da mureta e me puxou – Agora vamos até Hogsmeade. Já passava das 10h quando saímos do castelo. Fomos os últimos a atravessar o portão, Filch o fechou logo depois. Agora ninguém mais poderia sair, apenas entrar. E ninguém ia voltar tão cedo, então ele deixava os portões fechados para evitar que os alunos sem autorização saíssem sem que ele visse e só tornava a abrir às 17h. Se alguém quisesse voltar mais cedo precisava chamar por ele e esperar que viesse abrir. Era um saco, mas um incentivo a aproveitar o dia do vilarejo até o último minuto. Como havia previsto, todos os cafés estavam lotados. Eram casais passando de mãos dadas e falando com voz de criança pra todo lado, ia ser difícil sobreviver àquele dia. James pareceu ler minha mente e compartilhar do pensamento, pois me pegou pela mão e começou a me puxar na direção contrária à multidão. A única opção era a Zonko’s, que sempre estava cheia, mas o clima não poderia ser mais agradável. Passamos toda a manhã lá dentro, experimentando todos os produtos que estavam ao nosso alcance. Quando não tinha mais nada para testar, fomos para as Gemialidades Weasley, que agora tinham uma filial no vilarejo. Era tio George quem estava lá hoje e foi conversando com ele que nem vimos um bom pedaço da tarde passar. Só percebemos que já passava das 15h quando começamos a sentir fome, então nos despedimos do tio George e fomos tentar a sorte em algum pub para almoçar. Ainda estavam todos cheios, até mesmo o Hog’s Head e o Old Haunt, que não tinham um clima muito bem vindo a casais apaixonados, mas conseguimos uma mesa no último. Nunca havia entrado nele, mas em poucos minutos consegui entender porque Rupert falava tão bem do lugar. A atmosfera nele era a melhor do vilarejo, extremamente aconchegante e tranquila. Pegamos uma mesa bem no meio do bar, a única disponível, e James começou a contar como foi a madrugada que passou acordado na aula do curso. O almoço estava indo bem. O papo estava divertido, era sempre fácil conversar com James, os assuntos nunca pareciam ter fim. Ele contou do tédio que foi toda a madrugada até os suspeitos resolverem fugir e as coisas melhorarem e de como agora estava pensando se talvez devesse também seguir carreira na Scotland Yard. E quando contei o que Nick me descreveu sobre os últimos meses de curso e as aulas que tiveram sua empolgação só aumentou. O dia podia terminar bem, da mesma forma que começou, mas não foi exatamente o que aconteceu. Já eram quase 17h quando notei que não éramos os únicos alunos de Hogwarts no Old Haunt. Sentados em uma mesa mais ao fundo estavam Hiro e Leslie. Não sei dizer o que me incomodou mais, o fato deles estarem ali, no mesmo lugar que eu, ou por estarem felizes, prestando atenção apenas um no outro. Minha expressão deve ter mudado como da água pro vinho, porque James parou de falar no mesmo instante. - O que houve? Ficou séria de repente. - Não é nada. Cansei de Hogsmeade, vou voltar para o castelo – disse já levantando, sem esperar uma resposta. Ele olhou para trás. - Ah, claro – disse quando viu a mesa de Hiro e puxou a carteira do bolso, se levantando também – Espere, vou com você. - Não, não precisa. Ainda é cedo, aproveite o resto do dia – e sai porta afora sem esperar ele terminar de pagar. Deixe o pub às pressas, andando rápido e sem olhar pra trás. Sabia que os portões da escola ainda estariam fechados e já fui amaldiçoando Filch no caminho por ter que ficar esperando sua boa vontade de vir abrir para me deixar entrar. Já estava perto dele quando ouvi passos apressados me seguindo. Não precisei virar para saber que pertenciam a James. - Disse que não precisava vir também. - Não ia deixar você voltar sozinha. - James, por favor, volte. - Não. Vim com você, volto com você. - Eu quero ficar sozinha! – respondi já sem paciência, ainda sem encará-lo – FILCH! ABRE A PORCARIA DESSE PORTÃO! - Clara... – senti ele se aproximar para segurar minha mão a puxei antes que ele a alcançasse – Quer me dizer o que está acontecendo? - Estou pedindo, por favor, que você me deixe sozinha – minha voz começou a sair com dificuldade – Por que eu estou prestes a chorar por causa de outro garoto e não é justo fazer isso na sua frente. Quando terminei de falar, senti lágrimas quentes descendo pelas minhas bochechas. James se aproximou mais e me puxou para junto dele, me abraçando. Sabia que aquilo não era justo, ele não merecia ter que fazer isso, mas só consegui enterrar meu rosto em seu ombro e começar a chorar. Filch ainda não tinha aparecido e ele me puxou até um banco próximo ao portão, me sentando ao seu lado ainda me abraçando. - Desculpa – consegui dizer quando o choro estava menos compulsivo. Estava me sentindo uma idiota. - Clara, quando começamos a ficar e você foi logo dizendo que não éramos exclusivos um do outro, eu sabia que era porque, no fim das contas, você um dia ia acabar escolhendo ele. Nunca achei que teríamos um futuro promissor. - Ainda assim, não é justo com você. Tem todo o direito de me odiar, se quiser. - Eu não odeio você, essa fase já passou. E acho que, apesar de tudo que aconteceu entre a gente nesses dois últimos anos, somos acima de tudo amigos, não é? - Claro que somos amigos. Nunca achei que um dia fosse dizer isso, mas você se tornou um dos meus melhores amigos. - Então se somos amigos, estou qualificado a consolá-la – ele bateu no ombro e sorri, deitando a cabeça outra vez – Claro, vai ser muito ruim para o universo não podermos mais descarregar toda essa tensão sexual quando quisermos, mas você vai sobreviver sem o meu corpo. - Vai ser difícil, mas eu vou superar – dei um beijo em sua bochecha e voltei a deitar a cabeça em seu ombro. - Bom, agora que parece ter admito que gosta dele mais do que como um amigo, e digo isso porque nunca vi você chorar por causa de garoto nenhum, o que pretende fazer? Não sabia o que responder, mas também não tive chance. Uma explosão vinda do outro lado do vilarejo fez tremer o chão e segundos depois o som da voz da diretora ecoou por todo o lugar, mandando que os alunos voltassem imediatamente para o castelo. James olhou para mim e não pensamos duas vezes, corremos para o meio da confusão. Estávamos sendo atacados outra vez e não íamos nos esconder, íamos lutar. |