Wednesday, March 14, 2012 Orlando, Semana do Saco Cheio de 2017 Por Rupert A. F. Storm Desde que entrei pra Hogwarts, uma vez por ano via a turma dos alunos formandos, sempre estressados e raramente vistos fora da biblioteca, deixar o castelo por uma semana e voltarem completamente diferentes. Ainda passavam a maior parte do tempo estudando, mas estavam mais leves e descontraídos. Eu nunca tinha entendido como uma semana longe da escola podia mudar tanto uma pessoa, até passar um dia inteiro jogando videogame e tomando sol na beira de uma piscina. Aquela era, sem duvida, a melhor semana dos meus sete anos em Hogwarts. As meninas haviam passado o dia inteiro fazendo compras, mas o céu ainda estava claro quando voltaram e a maioria se juntou à nossa bagunça na piscina. Eu estava fugindo um pouco do sol debaixo do escorregador de dragão quando Amber apareceu com Kaley. Deitou em uma das espreguiçadeiras e abriu um livro, enquanto Kaley mergulhava. Fiquei tão distraído olhando pra Amber que não vi que Kaley estava parada atrás de mim. Quando ela botou a mão no meu ombro, levei um susto tão grande que cheguei a beber um pouco de água. - Como você consegue andar na água sem fazer barulho? - Vou arrasar em Esconderijo e Camuflagem na Academia de Auror – ela se gabou, subindo na beira do escorregador – E o que está fazendo escondido aqui embaixo? Cuidado para não babar na água, vai sujar a piscina. - Não estou babando – disse na defensiva, mas ela só riu – Só estou pensando. - Esse é o seu problema. Você pensa demais e age de menos. - Você mesma disse que eu não devia fazer nada até ter absoluta certeza do que queria! - E você já tem? – assenti e ela jogou um punhado de água na minha cara – Então está esperando o que pra agir? - E se ela disser não? - Você vai desencanar e tudo vai voltar ao normal. Não começa com os “e se”, convide-a logo pra sair e acabe com esse tormento! Faça alguma coisa antes que outro faça isso por você. Kaley subiu no escorregador e caiu dentro d’água, nadando pro outro lado e se juntando ao resto do pessoal que ainda brincava com a bola de vôlei, me deixando sozinho com as minhas incertezas. °°°°° O céu sempre começava a escurecer por volta das 19h e todos os dias, às 20h em ponto, um telão era montado no gramado em frente ao nosso bloco e eles passavam algum filme da Disney. Os hospedes que não estavam nos parques desciam com toalhas de picnic e sanduiches e se espalhavam pelo espaço para assistir ao filme, e o pessoal da nossa viagem estava sempre por lá. Pela varanda do bloco vi que o gramado já estava cheio e até tio Ben estava sentado na calçada, então desci e fui até ele. - Acho que vou me mudar pra cá – ele falou quando sentei ao seu lado. - Está falando sério? - Não. E sim. Não vou abandonar Hogwarts, mas quando me aposentar do cargo de professor, acho que aqui vai ser minha nova casa. - Tio Scott não vai gostar muito dessa novidade... – disse rindo. - Que nada, Scott é uma criança grande, ele adora isso aqui. Sabia que ele veio no ano de inauguração do Magic Kingdom com os pais e os irmãos, em 1971? E depois trouxe todos os sobrinhos, várias vezes. Foi ele quem organizou a viagem de aniversário do Nick pra cá, quando ele fez nove anos. - Tio, quando você e o tio Scott começaram a sair, como você soube que era o momento certo pra tomar uma atitude? - Quando eu tomei uma atitude, Scott me deu um soco no meio da cara – ele riu – Beijei-o na frente de todo mundo, sem um aviso prévio. Ele ficou uma fera. - Então não foi o momento certo? - Não, acho que mais como o jeito errado. Não existe um momento certo, você nunca está preparado o suficiente pra ter coragem de chamar a pessoa que você gosta pra sair. Só tem que respirar fundo e fazer. Assenti sem dizer nada e encerramos a conversa para prestar atenção no filme. Quando ele acabou, levantei da calçada e subi até o andar das meninas decidido. Tio Ben tinha razão, nunca haveria um momento certo, então só tinha que ir até lá e arrancar o band-aid. A porta do quarto dela estava aberta e ela não estava sozinha, Kaley e Lena estavam lá também. As três estavam quase desaparecendo em meio ao monte de sacolas de compras e Kaley mostrava o que tinha comprado para Lena quando bati e entrei. Não ia desistir agora, só porque tinha plateia. - Amber, você tem planos para amanhã à noite? – nesse momento Kaley largou o sapato que tinha na mão e parou pra prestar atenção. Eu não olhava pra ela, ou ia acabar desistindo. - Por que, vocês vão a algum lugar? - Não, quis dizer só eu e você. - Quer dizer, como um encontro? - Não "como um encontro". É um encontro. - Está bem. Claro. – Amber foi pega de surpresa, mas reagiu bem melhor do que eu havia imaginado. - Certo. Encontro você aqui amanhã às 20h. Não deixei que ela respondesse mais nada e sai do quarto, antes que ela mudasse de ideia ou processasse o que tinha acabado de acontecer. Tudo que precisava fazer agora era pensar em um plano para amanhã à noite, porque eu não achava que ela fosse aceitar e não tinha a menor idéia do que fazer. °°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°° Por Kaley Walker Quando Rupert saiu do quarto, a reação imediata minha e de Lena foi olhar para Amber esperando que ela falasse alguma coisa, mas logo ficou claro que ela não sabia exatamente o que dizer. Ou talvez estivesse em estado de choque. Nós estávamos um pouco. - Am? Você está ai? – disse saindo do meio das sacolas e me aproximando. - Amber? – Lena a cutucou, receosa. - O que acabou de acontecer? – Amber finalmente parou de encarar a porta e olhou para nós duas. - Aconteceu que você aceitou sair com o Rupert – Lena não conseguia conter o tom irônico – Amanhã. Às 20h. - Você está bem? – estava um pouco mais contida que Lena, mas não devia estar tão melhor assim. - Eu não posso sair com ele! – pronto, agora sim era a Amber. - Sim, você pode. E você vai! – fui enfática – Você já concordou, não vamos deixar que volte atrás! - Isso vai ser um desastre – ela sentou na cama e foi a primeira vez que vi Amber tão vulnerável – Somos melhores amigos, e se isso não der certo? Vai estragar tudo. - Se não der certo, as coisas vão ficar desconfortáveis por uns dias, mas depois tudo volta ao normal – Lena sentou do lado dela e não tinha mais o tom irônico – Rupert está pesando as mesmas coisas, ele não ia colocar a amizade de vocês em risco se não tivesse certeza que tudo vai ficar bem, independente do resultado do encontro. - Lena tem razão. Você gosta dele, mesmo que não queira admitir, então o que custa tentar? Amber não disse nada, mas também não voltou a dizer que não poderia sair com Rupert. Não demorou muito e ela entrou em pânico por não saber o que ia usar, já que não fazia ideia de onde iam. Depois de rir um bocado da situação, uma vez que nunca imaginamos que veríamos Amber Beckett em uma crise de mulherzinha, acabamos passando o resto da noite tentando ajuda-la a escolher uma roupa. Não sabia o que ia acontecer amanhã, mas uma coisa eu tinha certeza: não tinha como esse encontro dar errado. °°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°° Por Amber Beckett Rupert estava me esperando na porta do quarto às 20h em ponto. Ele sorriu quando me viu, mas era nítido que estava tão ou mais nervoso que eu. Agradeci mentalmente Kaley ter feito a gentileza de ficar dentro do quarto quando ele bateu na porta. Ainda não fazia idéia de onde íamos, mas ele também não disse nada. Enquanto ia me guiando na direção do rio, íamos conversando sobre coisas aleatórias, como se só estivéssemos andando a toa e ele não tivesse me convidado para sair. Quando percebi, estávamos no hotel vizinho ao nosso, o Riverside. Havíamos atravessado toda a estrada a pé até ele sem que eu notasse. - O que viemos fazer aqui? – não resisti e perguntei, pois não estava entendendo o que tinha lá que não tinha no nosso hotel. - É o seguinte, Amber... Eu sei que isso não é algo que você esperava e não está muito confortável. - Você não parece muito confortável também. - Sim, é verdade, e isso só deixa tudo com uma pressão maior, porque é um encontro e nenhum de nós imaginou que isso ia acontecer. - Ok, e então? Estamos aqui pra levar um cão pra passear ou algo assim? – tentei descontrair um pouco, quando vi que estávamos em um parquinho todo gramado, cercado por árvores. - Não exatamente – ele riu – Eu me lembro do que você disse sobre como sempre que estava triste quando era criança, se sentia melhor quando estava em um balanço. E que essa era a melhor lembrança que tem da sua infância. Olhei para o balanço na nossa frente e depois para ele, sorrindo. Há anos não chegava perto de um, acho que nem lembrava mais como era a sensação. Sempre fui uma criança quieta e tímida, então não tinha muitos amigos. Por não ter tido muitos amigos, brincava sozinha nos parquinhos e o balanço era o meu favorito. Adorava a sensação de voar e o vento batendo no rosto. Quando meus pais me abandonaram e fui viver em um orfanato, a única maneira de não pensar neles e rir era quando estava em um balanço. Sentei em um deles e Rupert ocupou um ao meu lado. - Sabe o que eu mais gostava de fazer? – disse depois de um tempo, já totalmente à vontade com aquilo – Enrolar o balanço e depois soltar, pra girar rápido. - Nigel fez isso comigo uma vez. Não foi uma experiência boa... – ele colocou a mão no estomago e fez uma careta – Tinha acabado de comer um pedaço de pizza, acho que pode imaginar o resultado. - Passei mal uma vez também, mas é divertido. Girei para enrolar o balanço e soltei. Tinha mesmo muito tempo que não fazia isso, porque quando ele parou, eu estava completamente tonta. Rupert segurou as cordas depressa antes que ele enrolasse de novo e fiz uma careta. - Acho que vou vomitar. - Não, não vai, ponha a cabeça pra trás – fiz o que ele falou e o enjôo passou – Você está bem? - Sim, estou melhor. - Não faça mais isso. - É divertido. Eu nunca pensei que faria isso de novo. Ele ficou parado na minha frente segurando o balanço e nos encaramos. Eu ainda estava rindo, mas logo fiquei séria. - E agora? – perguntei, embora soubesse a resposta. Rupert inclinou o corpo para frente e me beijou. E eu gostei. |