Tuesday, May 29, 2012


- Clara. Acorde, está na hora – ouvi a voz de Keiko e abri os olhos.
- Por quanto tempo eu dormi? – levantei apressada, mas ainda grogue de sono.
- São quase duas da manhã. Hiro disse que veio aqui por volta das 22:30 e você já estava dormindo. Já evacuamos os alunos do 1º e 2º ano, está quase na hora de acordar o resto do castelo.

Assenti saindo da cama, mas só absorvi parte do que ela disse. Hiro tinha vindo me ver depois das 22h, o que significa que foi depois que sai de seu quarto. O que teria acontecido se eu tivesse acordada? Começaríamos a discutir ou teríamos continuado o que foi interrompido por Sheldon? Sacudi a cabeça afastando esse pensamento, não era hora pra isso. Em poucos minutos seríamos atacados por vampiros sedentos por vingança e precisava estar focada. Podia lidar com esse tipo de drama depois.

O alarme da evacuação soou às 2h da manhã em ponto. Arte havia dividido a AD em grupos e nos posicionado nos salões comunais para informar aos alunos que restavam o que estava acontecendo e dar a eles a opção de ficar e lutar. Surpreendentemente, poucos optaram por fugir e se abrigar com os mais novos. Jack escoltou os alunos da Sonserina que não se achavam prontos para esse tipo de batalha e segui com os outros para fora do castelo, indo de encontro à horda de vampiros que vinha de dentro da Floresta Negra.

Arte havia armado uma armadilha e os vampiros morderam a isca. Pensaram que estávamos evacuando os alunos sem qualquer tipo de organização e que não estávamos preparados para enfrentá-los. Pensei que depois de serem derrotados no ataque que nos pegou de surpresa eles estariam mais dispostos a não nos subestimar, mas estava enganada. Talvez vampiros não sejam assim tão inteligentes, afinal.

Toda a AD, junto dos aurores, lançava labaredas de fogo na direção deles e os incinerava ainda no ar. Os que não sabiam conjurar chamas tão potentes os lançavam na direção do lago e deixavam para a lula gigante cuidar do resto. Estávamos mesmo organizados para uma guerra, divididos em fileiras e seguindo comandos sem se desesperar. Lenneth e os alunos de Durmstrang administravam potes de barro com fogovivo e transformaram a trincheira que havíamos construído alguns dias atrás em um forno a lenha especializado em assar vampiros e inferis. De repente entendi porque Rupert e Sheldon andavam tão sumidos. Tinham sido eles os responsáveis por produzir todo aquele fogovivo.

Eu revezava com Justin, Rupert, Tuor e Haley conjurando nossos Magnus Patronos e pela primeira vez via o quanto aquele feitiço era útil. Eles eram capazes de liquidar um vampiro sem precisar incendiar nada, o que causava muito menos pânico quando não tinha uma labareda em forma humana correndo pelo jardim enquanto se desintegrava.

Cadarn deu as caras pouco tempo depois que a batalha começou. Ele e Arte se encararam no que pareceu uma eternidade e então ele lançou ela pra longe, nos impedindo de se aproximar. Ficamos cercados pelas criaturas mais nojentas que já vi na vida e não tivemos opção senão lutar contra elas. Preparada ou não, Arte teria que cuidar dele sozinha. Consegui me livrar do bicho esquisito e junto de Tuor, Rupert e Justin lançamos nossos Magnus Patronos pra cima de Cadarn. Ele soltou Arte por um segundo e aquilo era tudo que ela precisava. Recuamos e Cadarn voltou a atacá-la, mas ela já tinha conseguido o que queria. Fidelus, aquele dragão imenso, pousou ao lado de Arte, esmagando tudo que via pela frente. Pena que não esmagou Cadarn, mas todo plano tem suas falhas.

O jardim todo ficou iluminado. A claridade era tanta que considerei algo positivo meus olhos arderem sem ter me deixado cega. Todos os aliados de Arte, tanto vampiros quanto aurores, começavam a brotar nos terrenos de Hogwarts. Eram tantos que eu não conseguia contar. As criaturas da floresta também se juntaram à luta e vi dezenas de Centauros galopando desembestados na direção dos vampiros, atropelando quem estivesse pelo caminho. Os vampiros ficaram completamente desnorteados, pareciam galinhas sem cabeça correndo desorganizados tentando atacar sem um plano eficiente em mente. Cada um seguia sua própria estratégia.

Arte gritou alguma coisa que não consegui ouvir para Rupert e ele assentiu, correndo para onde Sheldon estava e o arrastando para dentro do castelo. Não fazia idéia do que estava acontecendo, mas se eram eles mesmos os responsáveis pelo fogovivo usado pelos alunos de Durmstrang, com certeza não estavam recuando para ajudar Fred e Tiago a escoltar alunos mais novos.

Vi meus pais entre os aurores aliados e mamãe me lançou um olhar confiante antes de desaparecer na direção do castelo arrastando um aluno do 4º ano desacordado. Sabia que ela poderia enfrentar os vampiros tão bem quanto os outros, mas se tinha um lugar onde ela comandava como ninguém, era na enfermaria. Olhei de volta para a batalha e vi Keiko e Hiro se ajudando pela primeira vez na vida, enfrentando juntos uma das criaturas nojentas que chegaram junto com Cadarn. Não sabia o que era aquilo, mas cara, como eram feios. Keiko fazia uma cara de nojo totalmente compreensível enquanto disparava feitiços potentes pra cima dele.

Enquanto lutava, por três vezes senti o chão tremer. Tenho quase certeza que ouvi explosões junto do tremor, mas posso estar enganada. Mais uma vez espantei os pensamentos da cabeça, não podia perder o foco. Arte não parecia alarmada com isso e se tinham coisas explodindo embaixo da terra e não fomos comunicados, talvez seja porque não precisamos realmente saber o que está acontecendo.

Queria me divertir um pouco no meio daquele caos e me transformei em lobo. Incinerar vampiros era legal, mas destroçá-los com a boca e atirá-los para longe com uma patada só era bem mais legal. Patrick, Devon e Penny leram minha mente e se juntaram a mim na diversão. Competíamos no arremesso de peso com vampiros quando vi um grupo de cinco deles recuar e disparar na direção da floresta. Não sabia se estavam tentando escapar dos terrenos da escola ou encontrar outra passagem para o castelo, mas não iam conseguir nenhum dos dois.

Patrick era quem estava mais próximo e ouviu meu sinal, correndo comigo atrás deles. Hiro, Karl e outro garoto de Durmstrang que eu não sabia o nome estavam próximos da cabana de Hagrid e quando viram os vampiros passarem, correram para ajudar. Alcançamos o bando alguns metros depois da cabana dele e cada um avançou na direção de um vampiro, acabando com a festa em poucos segundos.

Patrick me avisou por telepatia que ia seguir o rastro deles para ver se descobria para onde iam, mas nem chegou a se afastar quando várias ações diferentes aconteceram em uma janela de tempo de cinco segundos. Karl foi arremessado de encontro a uma árvore, Patrick se lançou contra o vampiro que havia arremessado-o, Hiro se jogou por cima do outro garoto de Durmstrang para evitar que Patrick se chocasse contra eles e outro vampiro caiu de uma árvore em cima de mim. Ele me abraçou com tanta força que senti todos os ossos do meu corpo se partindo. E então me mordeu. Nunca senti tanta dor em toda a minha vida. Era como se tivessem injetado veneno nas minhas veias, meu corpo inteiro queimava. Perdi as forças e desabei no chão, voltando à forma humana da maneira mais dolorosa possível. Um clarão iluminou a área onde estávamos e o vampiro que me mordeu entrou em combustão.

- Clara! – Hiro se atirou ao meu lado desesperado – Clara, não feche os olhos!
- Isso dói demais – consegui dizer com dificuldade.
- Patrick, vá buscar a mãe dela ou a mãe da Arte depressa! – ele gritou pra Patrick, que já estava de volta a forma humana – Elas são Curandeiras, vão saber o que fazer. Traga qualquer uma delas aqui!
- Deixa comigo! – ele se transformou em lobo outra vez e disparou para fora da floresta.
- E você vá ajudar o Karl, está fazendo o que deitado no chão? – ele agora gritava com o garoto de Durmstrang, que levantou atrapalhado e correu para socorrer o amigo.
- Não sabia que conseguia conjurar o magnus patrono – minha voz estava falhando e até falar doía.
- Nem eu, acho que aprendemos nos momentos de desespero – ele tentou soar descontraído, mas estava apavorado.
- Está frio... Não consigo respirar – meu corpo inteiro tremia e mesmo sem ver, sabia que meus lábios estavam ficando roxos.
- Aqui, isso vai ajudar – Hiro tirou o casaco e o colocou por cima de mim – Tentei respirar devagar, você consegue.
- Estou sentindo gosto de sangue na minha boca. Isso não é um bom sinal. – podia ver pavor nos olhos dele, mas Hiro estava fazendo o melhor que podia parar não deixar transparecer.
- Não é nada, vai ficar tudo bem. A ajuda já está chegando.
- Não vai adiantar – senti uma lágrima escorrer pela minha bochecha gelada – Estou morrendo.
- Não está não! – ele apertou minha mão e vi que seus olhos se encheram de lágrimas – Você não vai morrer. Não pode morrer. Eu amo você.
- Não ama não.
- Amo sim. Sempre fui apaixonado por você e sempre vou ser. É por isso que você tem que ficar viva. Nós podemos ter um futuro. Nós vamos ser felizes, Clara. Você e eu, nós vamos ter uma vida incrível. Você e eu, juntos. Nós vamos ser tão felizes. Então você não pode morrer, entendeu? Você não pode morrer. Porque nós temos que ficar juntos. Nós fomos feitos um pro outro. Eu amo você. Eu amo você.

Quase sem forças, ergui a mão livre até seu rosto e o acariciei. Senti mais lágrimas escorrendo e então meu corpo relaxou. Senti uma paz intensa tomar conta de mim e a dor foi embora. Olhei uma última vez para Hiro, deitado ao meu lado apertando minha mão, e fechei os olhos.


Nothing goes as planned
Everything will break
People say goodbye
In their own special way

Everything will changed
Nothing stays the same
Nobody is perfect
Oh, but everyone's to blame

Oh, you're in my veins
And I cannot get you out
Oh, you're all I taste
At night inside of my mouth
Oh, you run away
Cause I am not what you found
Oh, you're in my veins
And I cannot get you out


In My Veins – Andrew Belle