![]() Sunday, May 13, 2012 Lembranças de Artemis A. C. Chronos
Abril de 2017
- Feche os olhos Artemis e respire devagar. – O Dr. Pace
começou a sessão assim que me deitei no sofá da sala do Tio Ben. – Mantenha os
olhos fechados, mas tente relaxar os músculos. Não pense em nada ao seu redor,
só se concentre em minha voz e em relaxar.
As sessões de terapia do sono sempre começavam dessa maneira.
As três primeiras sessões, porém, foram apenas para me
ensinar a relaxar e garantir que eu conseguisse dormir tranquila e sem pesadelos. Já na segunda sessão comecei a perceber as
melhoras, pois conseguia dormir com mais facilidade e nem me lembrava dos
sonhos que tinha durante a noite. As
aulas de oclumência com Tio Ben também estavam surtindo efeito, e tê-las junto
de Haley era mais um estímulo e tornava tudo mais divertido. Começamos uma
brincadeira de tentar esconder o máximo de Tio Ben, ou fazê-lo ver fatos
errados e ver quanto tempo ele demoraria para descobrir nossa brincadeira. Tio
Ben logo gostou da ideia e ele mesmo começou a fazer isso com a gente.
O Dr. Pace tinha o objetivo de não apenas me ajudar a não
ter pesadelos, mas a entendê-los e tentar recuperar minhas memórias. Com esse
objetivo principal, ele pediu a meus pais que me dessem mais espaço. Ele
entendia que eu precisava de proteção, visto que era tão visada pelos vampiros,
mas eu precisava me encontrar, e para isso não poderia ser seguida o tempo
todo. Assim, Altair e Rin começaram a me deixar mais tempo sozinha, ou mesmo
ficando cada vez mais afastados de mim. Isso foi bom de certa forma, pois por
mais que eu adorasse os dois, não queria ficar sendo seguida o tempo todo.
Quando começamos com as sessões de regressão e sono lúcido,
o psicólogo pediu que eu escolhesse um amigo que me ajudaria nas sessões. Ele
explicou que a presença de um amigo era importante, pois ele seria como uma
âncora, alguém a quem eu pudesse me agarrar e voltar à consciência. O primeiro
que pensei foi Tuor, mas confesso que fiquei em dúvida entre ele, Clara e
Justin também, mas o Dr. Pace disse que Tuor seria melhor, pois havia algo em
minhas lembranças relacionada com ele que eu precisava redescobrir. E não vou
mentir: fiquei feliz com a escolha de Tuor.
Assim, essa noite Tuor estava sentado mais uma vez do meu
lado. Quando fechei os olhos, a última coisa que vi foi seu sorriso
encorajador...
Enquanto ouvia o Dr. Pace, senti minha consciência recuar
gradativamente, mas forcei-me a ficar minimamente consciente. Atingir o estado
de sono lúcido é difícil. Ele consiste em você relaxar o corpo a ponto do seu
cérebro informar aos músculos e órgãos que você está dormindo. Porém, sua
consciência deve permanecer e você tem que saber que está sonhando. Esse método
é utilizado em diversas terapias, pois permite que a pessoa controle os seus
sonhos e viaje por eles.
Senti um calor por todo meu corpo e sabia que meus músculos
estavam relaxando. Alguns minutos depois, senti as pontas dos dedos da mão
formigando e resisti à tentação de mexê-los. Senti então um peso no peito e
suspirei lentamente. Sabia que estava alcançando o nível de relaxamento
necessário e agora poderia mergulhar mais na inconsciência. Respirei novamente,
enquanto mergulhava fundo no sonho...
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Visão de Tuor H. E.
Mithrandir
O Dr. Pace acenou para mim e eu assenti, começando a falar.
- Arte, concentre-se em minha voz. Quero que deixe seu
subconsciente escolher seu sonho, a primeira coisa que ele quer que você veja.
– Eu falei, minha voz calma e lenta, misturando-se à voz do Dr. Pace, enquanto
a dele tornava-se cada vez mais baixa, até desaparecer.
Eu e o Dr. Pace tínhamos treinado muito para isso. Eu
deveria me tornar o guia, além de âncora, de Arte em seus sonhos e era
complicado de se fazer isso quando outra pessoa começava como guia. O psicólogo
tinha dito que não era bom eu começar como o guia do sonho, por isso ele sempre
começava guiando-a, mas em dado momento, ele passava a guia para mim.
- Estou naquele lugar novamente... – Ela falou e vi seus
olhos movendo-se por baixo de suas pálpebras. – Parece uma vila. As casas são
antigas. Parecem templos... Tem um poço no centro. – Arte começou a ficar
agitada e eu segurei sua mão. – Há alguém ali... Parece um garoto.
- Você consegue se aproximar?
- Não... Quanto mais chego perto, mais ele se afasta! – Eu
sabia com que ela sonhava. Todas as noites o primeiro sonho dela era com Avalon
e eu sabia que eu era o tal garoto. Sempre que tentávamos fazê-la se aproximar
do garoto, o sonho colapsava e ela acordava sobressaltada.
- Se acalme. Concentre-se e pense em outra coisa. – Eu
comandei e ela começou a respirar mais calmamente. – O que você vê?
- Estou em um jardim... Ele é muito belo e têm várias
estátuas. Eles estão aqui. – Ela falou e eu soube que se referia às 7 figuras
de negro.
- Pergunte quem são.
- Eles são eternos. – Ela respondeu. – O da corrente que
respondeu... O dos olhos de estrela está mudando de forma... Parece louro agora
e está falando que tudo vai ficar bem.
- Pergunte o nome deles.
- Sonho... Destino... Morte... – Aquele último nome nos
assustou. Era a primeira vez que ela conseguia perceber os nomes deles, mas não
sabíamos o que significavam. Ela sorriu. – Engraçado, a Morte não se parece
nada com o que imagino... O Sonho está me falando que vai me ajudar. – A sua
voz pareceu tremer e então ouvimos uma voz misturada a dela. – Vou guiá-los
para mais fundo em meus domínios, mas tragam-na de volta caso algo dê errado,
pois não poderei interferir novamente.
- Continue. – Eu falei, me assustando com aquela voz
diferente. Era uma voz masculina, mas parecia se misturar perfeitamente à voz
de Artemis. – Arte onde você está?
- Estou em uma montanha... Na verdade parece um vale. Vejo
muitas montanhas ao meu redor... É tudo tão lindo.
- O que mais você vê? De onde você vê isso tudo?
- Estou em cima de uma das montanhas, olhando lá para baixo.
Tem três templos ali e duas casas pequenas mais afastadas. Têm pessoas aqui.
- Quem são elas?
- Não reconheço nenhuma delas... Espere! Eu conheço aquele
homem. – Ela falou e senti seu pulso acelerando. – Ele tem cabelos prateados...
Está segurando uma lança dourada... Ele vai se matar!
- Artemis, escute minha voz, fique comigo! – Eu falei,
tentando manter a calma. O sonho começava a colapsar e Arte estava ficando
agitada.
- Não! Tenho que impedi-lo! Ele não pode fazer isso! –
Lágrimas desciam de seus olhos e olhei assustado para o Dr.Pace e a Mirian.
Eles me indicaram para continuar.
- Arte, ouça minha voz. Quero que pense em outra coisa.
Concentre-se! – Eu ordenei. Ela ainda estava agitada, mas senti que começava a
relaxar. – Pense em dragões, lembre-se de Fidelus. – Ela ficou calada um tempo,
respirando lentamente.
- Estou nas Ilhas Hébridas. – Ela falou sorrindo. – Fidelus
está aqui. Espere eu estou me vendo nesse sonho. – Ela falou, levantando uma
das sobrancelhas. Troquei um olhar rápido com o Dr. Pace. Aquela era uma
memória de Artemis, provavelmente uma das perdidas. – Fidelus está deitado na
grama olhando para o alto. Eu estou lançando o meu patrono e tem mais alguém
comigo.
- Arte, olhe para o seu eu no sonho, como você está? – Eu
perguntei, engolindo em seco.
- De calça jeans, com uma blusa branca e um casaco preto.
Minha águia acaba de pousar em Fidelus. – Ela respondeu. Eu sabia que sonho era
aquele: era quando ela me ensinou a conjurar o patrono. – O que é isso?
- Arte, o que quer dizer?
- Eu estou usando um pingente... É uma flor de lótus. Meu eu
no sonho e meu corpo astral estão com esse pingente no pescoço! – Meu coração
acelerou no mesmo momento.
- Toque no pingente. – Eu consegui falar. – Agora pense no
que você quer se lembrar.
- Quero me lembrar de tudo... Quero me lembrar de Tuor.
Nesse momento, eu senti a pena em meu bolso pulsar.
Desde que Artemis perdeu as memórias, as penas que ela nos
deu não brilhavam ou emitiam nenhuma aura. Mas ela pulsou, tive certeza disso.
Mas então Artemis começou a arquejar, respirando com
dificuldade.
- É o Tuor... Ele está com uma caixa nas mãos. – Novamente
lágrimas surgiram em seus olhos e vi que os meus também estavam molhados.
Acariciei sua mão com carinho. Então seu corpo todo ficou rígido e ela começou
a se debater.
- Arte, acorde, você precisa voltar! – eu a comandei, mas
ela não respondia mais aos meus comandos.
O Dr. Pace assumiu a partir daí e começou a falar com
autoridade, tentando acalmá-la. Aos poucos as convulsões de Arte pararam e
Mirian se ajoelhou ao seu lado, tratando-a com carinho. Cai exausto na cadeira e
Dr. Pace sentou do meu lado. Ele tirou uma barra enorme de chocolate da gaveta
e me deu um pedaço, ficando com o outro para ele.
- Que memórias eram aquelas? – Ele perguntou, enquanto
mastigava o chocolate. Eu tirei a pena do bolso e a encarei. Ela voltara a
ficar parada.
- Nossas memórias mais importantes... A última foi de quando
completamos um ano de namoro. Dei a ela um pingente enfeitiçado. Chega a ser
cômico. – Eu ri nervoso. – Sempre que ela tocasse no pingente e pensasse em
mim, ela poderia rever nossas memórias.
- E onde está esse pingente?
- Não sabemos. Quando a trouxeram para cá depois do ataque,
ele tinha desaparecido. Vários objetos que ligavam Artemis fortemente a nós
desapareceram. O meu pingente, o pingente dos pais dela, algumas flores dos
irmãos e do padrinho. Sumiram completamente.
- O caso dela é único realmente. Nunca vi o mundo físico ser
modificado assim... E essa pena? Qual a importância dela?
- Quando começamos a ser atacados, Arte se preocupou conosco
e deu uma pena dessas para cada um de nós. – Eu expliquei e a entreguei a ele. –
Sempre que quiséssemos saber como os outros estavam, essa pena nos fazia vê-los
e saber como estavam. Se estivéssemos em perigo, essa pena avisaria aos outros
e avisaria Arte também.
- É um elo entre vocês e Artemis... Como ela reage ao ver
essa pena?
- No início ela desmaiava por alguns segundos, depois passou
a não acontecer nada. Ela segura a pena, mas não sente nada. Mas agora a
pouco... Quando ela falou que estava com o pingente, essa pena pulsou.
- Ela respondeu a Artemis... Estamos perto, Tuor, não perca
as esperanças! – Ele falou sorrindo e eu sorri também.
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Por Artemis A. C. Chronos
Final de Abril de 2017
- Tuor nunca te agradeci por tudo que tem feito por mim. –
Falei, deixando de lado o sorvete.
- Você não precisa agradecer. – Ele respondeu, dando de
ombros.
Eu fiquei calada olhando para ele.
Estávamos sentados debaixo de uma árvore de Hogsmeade. Era
um sábado gostoso, o último de Abril. O tempo estava agradável e tinha uma
brisa leve que me acalmava e acalentava. Eu e Tuor tínhamos combinado de
passarmos o dia juntos e trouxemos uma casquinha de sorvete para debaixo da
árvore.
- Essa árvore... Eu já estive aqui, não estive?
- Sim. – Ele respondeu, sorrindo de uma forma muito bonita.
– Foi aqui que você me falou que tinha terminado com o Stefan. – Ele falou
calmamente, mas eu quase engasguei. Senti uma pontada de dor de cabeça, mas
consegui sorrir.
- Sério?! Eu não consigo lembrar... – Eu falei irritada. –
Odeio isso... Por que não consigo me lembrar de nada sobre você?
- Talvez não tenham sido memórias importantes. – Ele falou
dando de ombros e riu quando eu dei um tapa no ombro dele.
- Não... Eu sinto que as memórias de você eram
importantes... E isso me deixa ainda mais irritada, por não me lembrar delas.
- Não tem nada que possamos fazer. – Ele respondeu. – Acho
que com o tempo você vai lembrando.
- Será? – Eu perguntei, pensativa. – Queria me lembrar logo
de você. Me sinto tão mal por não saber nada sobre você do meu passado.
- Éramos amigos, acho que é tudo que precisa saber. Você
sempre foi minha melhor amiga. – Ele falou, olhando para mim. – Estou feliz por
podermos ser pelo menos isso.
- Não é justo com você... Eu consigo me lembrar de várias
coisas dos outros, mas não de você...
- É simples, basta criarmos novas memórias a partir de
agora. – Ele falou e eu ri. Ele então empurrou meu sorvete no meu nariz e eu
quase engasguei, enquanto ele caia na gargalhada.
- Não acredito que você fez isso! – Eu falei irritada, mas
rindo.
Pulei em cima dele e empurrei seu sorvete, tentando acertar
seu rosto, mas acertei apenas a orelha direita. Caímos do tronco onde estávamos
sentados e rolamos pelo chão rindo e se divertindo.
Paramos perto da árvore e eu estava deitada por cima dele.
Estávamos rindo ainda, apesar de estarmos sem fôlego. Eu dei um tapa em seu
peito e ele limpou meu nariz ainda rindo.
Aquela sensação de proximidade me era tão conhecida, tão
natural.
Começamos a parar de rir lentamente, sem desviar os olhos um
do outro.
Então eu me aproximei de seus lábios e o beijei.
Ele retribui o beijo, de início surpreso, mas depois com
vontade e, principalmente, saudade. Percebi como meu corpo ansiava por ele,
como sentia falta de estar assim em seus braços.
Então em um turbilhão de flashes, percebi que tínhamos sido
namorados!
Revi centenas de beijos, de abraços, de escapulidas...
Todas invadiam minha mente e comecei a me sentir tonta.
Mas não queria parar, queria mais dos beijos dele, queria
mais da presença dele... Eu amava Tuor, sempre amei e agora me lembrava
disso...
Quando percebi isso, foi quando senti um aperto enorme no
peito, que me fez arfar...
Perdi a consciência imediatamente.
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Por Tuor H. E.
Mithrandir
- Como ela está?! – Eu perguntei preocupado, quando Mirian
saiu da enfermaria.
- O estado dela estabilizou, mas é grave... Ela entrou em
coma novamente.
Aquilo caiu como uma pedra em meu peito. Senti minhas pernas
bambas e quase cai, mas Justin e Julian me ajudaram a me sentar. Eu levei as
mãos a cabeça e comecei a chorar.
- Tuor, calma, ela vai ficar bem... – Julian tentou me
acalmar, mas eu explodi.
- Ela está assim por minha causa! – Eu falei, meio aos
berros. – Foi porque nos beijamos!
- Isso pode ter sido forte demais, mas ela vai se recuperar.
– Justin falou tentando me acalmar, mas o olhei sem esperanças.
- Você também já sabe, não é Justin? Tão bem quanto eu.
- O que você quer dizer? – Ouvi Clara perguntando. Ela e as
garotas chegaram naquele momento, após terem ido comer algo.
- Justin, o que ele quer dizer? – Haley perguntou e Justin
suspirou. O Dr. Pace observava tudo calado.
- Tuor acha que não pode mais ficar do lado de Artemis...
Ele quer ir embora.
- Isso é um absurdo! Você é doido!? – Todos começaram a
falar juntos e eu os deixei falar por um tempo, mas depois levantei as mãos.
- Não dá mais gente. Eu amo essa garota e esperaria séculos
por ela. Mas não posso colocar a vida dela em risco! Toda vez que nos
reaproximamos isso acontece! Ela desmaia e fica em coma! Não vou arriscar a
vida da mulher que eu amo por egoísmo meu!
- Tuor pense bem... Ela não vai gostar de saber que você foi
embora por causa dela. – Lenneth falou, mas eu balancei a cabeça.
- Ela vai esquecer... De uma forma ou de outra, ela vai
esquecer de mim.
- Tuor... Isso não é certo. – Clara falou. – Arte nunca te
perdoaria, nem mesmo a gente se te deixássemos ir.
- Na verdade, Senhorita Lupin, dessa vez preciso concordar
com ele. – O Dr. Pace falou finalmente me encarando. – Talvez seja melhor para
Artemis se você se afastasse realmente, Tuor.
Novamente todos começaram a falar juntos, querendo discordar
dele. Os únicos calados eram Mirian e Justin, e eu não sabia se por concordarem
comigo ou não.
- Eu... Eu estou decidido. Quero ir embora. – Eu falei e
todos ficaram calados. – Foi uma maravilha conhecer todos vocês, esses últimos
anos foram os melhores da minha vida. Mas preciso me afastar dela e de todos
vocês... Não vou colocar a vida de Arte em risco. É a minha decisão.
Todos continuaram a tentar me fazer mudar de ideia, mas
balancei a cabeça e me levantei, me dirigindo para a porta. Já perto dela,
Mirian me abraçou e vi que tinha lágrimas nos olhos. Ela afagou minha cabeça e
disse baixinho
- Você seria um excelente membro da nossa família. Você
faria a Arte feliz... Repense por favor, mas apoiarei sua decisão.
- Obrigado... Minha decisão está tomada.
Algumas horas depois, eu estava no gabinete de Minerva.
Todos os meus amigos estavam ali, todos ainda contrariados e chorosos, mas eu
havia tomado minha decisão. Abracei cada um deles com força e pedi que
cuidassem de Artemis por mim. As despedidas mais difíceis foram com Keiko,
Lenneth, Julian e Justin, além de Mina e Luthien, e me deixou com um aperto no
peito. Abracei também os pais de Artemis e os professores, abraçando por último
Minerva.
- Tuor, foi um orgulho tê-lo como meu aluno. Sou contrária a
sua decisão, mas vou respeitá-la. Saiba que estou orgulhosa do homem que se
tornou.
Eu agradeci e me encaminhei para a lareira. Virei para meus
amigos e dei um último adeus, mergulhando depois nas chamas que me levariam
para casa.
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