Thursday, May 31, 2012 Saímos da reunião da AD na noite de terça prontos para uma batalha. O ataque dos vampiros seria a qualquer momento daquela madrugada e não tínhamos tempo a perder. Ninguém voltaria para o salão comunal para descansar, até porque como alguém poderia dormir sabendo que dentro de algumas horas uma horda de vampiros invadiria a escola para nos atacar?
A
ordem para os integrantes da AD naquela madrugada era evacuar os alunos do 1º e
2º ano pelo túnel do alojamento dos professores e guiá-los até a pousada que fazia
parte do Três Vassouras em segurança e no mais absoluto sigilo. Nenhum alarde
deveria ser feito. Se algum vampiro já estivesse observando nossos movimentos,
não deveriam saber que já estávamos evacuando os alunos. Isso entregaria que
sabíamos do ataque e os faria recuar.
Os
alunos do 3º ano em diante puderam escolher entre ficar e lutar ou se abrigar
com os mais novos. E como Arte e eu desconfiávamos que entre esse grupo
houvesse um traidor, o aviso foi dado apenas quando o ataque de verdade começou,
poucas horas depois da evacuação dos pequenos. Houve um pânico inicial vindo
daqueles que não faziam parte da AD ou não possuíam qualquer aptidão para
duelos, mas a maioria optou por ficar. Ajudei a escoltar os alunos da Corvinal
que não ficariam até o quarto andar e Fred, Tiago e Daniel foram os
responsáveis por levar todos eles até Hogsmeade.
Os
vampiros já estavam dentro dos terrenos da escola e voltei para ajudar a AD a
retardá-los enquanto os alunos saiam
-
Rupert, estou sentindo mais vampiros se aproximando e eles vão tentar passar
por eles! – ela gritou pra mim enquanto disparava feitiços para distrair Cadarn
– Não posso sair daqui, acha que pode dar conta deles?
-
Não se preocupe, nos meus túneis ninguém vai passar! – respondi repelindo um
vampiro que se aproximava de mim e correndo de encontro a Sheldon.
-
Rupert, os túneis! – ele sacudia o mapa na mão.
-
Eu sei, Arte me avisou, vamos!
Daniel,
Tiago e Fred agora guiavam os alunos que não faziam parte da AD de volta para o
castelo para dar espaço aos experientes na luta e eles ficaram encarregados de
proteger Hogwarts por dentro, caso necessário. Uma olhada rápida pelos túneis
marcados no mapa e soube que o grupo de vampiros sentido por Arte vinha pelo
túnel que saia na câmara que ficava no salão principal. Amber estava descendo
as escadas para o saguão de entrada às pressas e foi de encontro ao grupo de
alunos que os três escoltavam.
-
Levem eles para a câmara do salão principal, vão ficar seguros! – ela ordenou
aos dois e Sheldon me olhou alarmado.
-
NÃO! – gritamos ao mesmo tempo e ela se assustou – Levem eles para a cozinha, é
mais seguro. Os elfos vão tomar conta de tudo.
-
O que está acontecendo? – ela perguntou desconfiada quando o grupo de alunos
mudou o rumo.
-
Bom, nós precisamos de um par de mãos extras, então vem com a gente que já vai
saber – Sheldon bateu no mapa e entrou no salão principal.
Amber
nos seguiu e embora não soubesse o que estava acontecendo, sabia que todos os
movimentos daquele dia faziam parte do plano, então não questionou. Antes do
ataque escondemos um pote de fogovivo na entrada de cada passagem secreta e o
resto deles estava com Lenneth e os demais alunos de Durmstrang. Uma vez no
campo de batalha, só eles saberiam usar a substância em segurança e isso nos
daria alguma vantagem. Abrimos a porta que dava para o túnel e Sheldon puxou
uma tira de borracha da mochila, atirando uma das pontas pra mim. Era o
elástico de uma atiradeira maior do que o comum.
-
Amber, segura isso e não sacode! – ele deu um pote de fogovivo a ela.
-
O que é isso? – ela perguntou receosa, segurando o pote de barro como se fosse
uma bomba. O que, na verdade, era.
-
Fogovivo. Quando dermos o sinal, você atira no túnel – respondi com a minha voz
mais tranqüila, vendo o pânico nos olhos dela.
Sheldon
e eu nos posicionamos cada um em um lado da porta e Amber colocou
cuidadosamente o pote de barro na tira de couro no meio do elástico.
-
Eles estão vindo, vamos atirar – Sheldon olhou para o mapa e localizou os
pontos vermelhos amontoados se aproximando.
-
Ainda não! – disse quando Amber fez menção de puxar a borracha.
-
Rupert, eles estão muito perto! – Amber disse nervosa.
-
Não perto o suficiente. Não podemos explodir dois potes, vão sair do controle!
-
Cinco metros... Quatro... Três... – Sheldon ia contando de olho no mapa.
-
AGORA!
Amber
puxou a tira de borracha com força pra trás e soltou, lançando o pote de
fogovivo de encontro com os três vampiros que vinham na frente do grupo. Apontei
a varinha na direção deles e conjurei uma pequena bola de fogo, que ao entrar
em contato com a substância entrou em combustão e se alastrou em uma velocidade
assustadora. Em questão de segundos todos os vampiros estavam em chamas e as
labaredas começavam a correr na nossa direção procurando por uma saída.
Fechamos a porta depressa e Sheldon sacou o detonador da mochila.
-
Faça as honras – disse me entregando o aparelho.
-
O que é isso agora? – Amber perguntou, mas já sabia a resposta.
-
Melhor nos afastarmos.
Demos
alguns passos pra trás e apertei o botão numero três, que correspondia àquele
túnel. Depois de uma contagem de 15 segundos uma explosão fez a câmara tremer.
Sheldon olhou o mapa e os pontos vermelhos não se moviam mais. O túnel havia
sido destruído e a terra que caiu apagou o fogovivo e soterrou os vampiros.
Ficamos
em silêncio alguns segundos, contemplando o sucesso do plano, mas movimentos
estranhos no mapa do maroto nos trouxeram de volta à realidade. Mais vampiros
usavam os túneis para tentar no castelo, agora o que pedia intervenção era o
que ficava atrás da estátua da bruxa corcunda no 3º andar e levava direto à
Dedosdemel. Merlin, como deve ter ficado a loja com um bando de vampiros a
invadindo? Amber agora já estava 100% a bordo do plano e pegou o pote de barro
assim que paramos ao lado da estátua, pronta para arremessá-lo contra os
vampiros. A explosão depois do incêndio derrubou a estátua, que se partiu em
vários pedaços e se espalhou pelo corredor.
-
Isso só pode ser piada. Mais vampiros? – Amber falou apontando para uma
aglomeração no túnel que saia na nossa sala de treinamento.
-
Vamos depressa, estamos dois andares acima deles – Sheldon colocou a mochila
nas costas e descemos as escadas às pressas.
Chegamos
esbaforidos às masmorras. Tia Louise estava saindo do armário onde ficava o
estoque de poções do tio Yoshi e levou um susto quando nos viu, mas não
perguntou por que nós três corríamos com um mapa e um elástico gigante na mão
nem por que estávamos sujos de fuligem. O que quer que Arte tenha dito aos
nossos pais, eles confiavam que estavam com tudo sob controle. Repetimos o
processo e conseguimos conter o avanço do bando, mas dessa vez ficou uma
sensação amarga. Havia acabado de explodir nosso acesso secreto ao abrigo e se
os vampiros haviam usado ele para tentar entrar, certamente estava tudo
destruído.
-
Sem descanso, gente... – Sheldon apontou para outro grupo de pontos vermelhos
vindo pelo túnel que dava na sala de armaduras.
-
A passagem até o Old Haunt não, por favor – resmunguei sem acreditar que também
teria que selar ela.
-
Bom, não são alunos, então não temos escolha. – Amber disse encarando o mapa.
Não
foi preciso dizer mais nada. Corremos de volta para o terceiro andar, mas os
pontos vermelhos se aproximavam cada vez mais depressa. Talvez tenham sido
alertados das explosões pelo barulho e começavam a deduzir que teriam o mesmo
destino se não saíssem logo de lá. Não sabia dizer o que havia causado o grupo
a se deslocar mais rápido, mas não íamos ter tempo de lançar o fogovivo antes
que eles chegassem à porta. Teríamos que explodir o túnel direto.
-
Detone as bombas! – Sheldon me apressou enquanto corríamos para chegar a tempo.
-
Rup, eles estão a menos de
-
Eu sei, mas a terra pode não segurar todos!
-
Doze metros. Detone logo! – Sheldon gritou desesperado e apertei o botão.
Começamos
a contagem regressiva e quando meus olhos bateram no mapa, um pânico
incontrolável tomou conta de mim. Brittany e Timothy corriam na direção da
porta e iam entrar no túnel. Enviei meu patrono para mandá-los saírem de lá e
apertamos o passo. Alcançamos a entrada faltando cinco segundos para a
explosão. Eles haviam recebido o patrono e corriam na direção contrária,
desesperados.
-
Brittany, Timothy, saiam daí! – gritei entrando no túnel e Amber me puxou de
volta.
-
Vai explodir, saiam logo! – Sheldon estendeu a mão para Brittany, que estava
mais próximo à porta.
A
voz dela gritando o nome do Timothy foi a última coisa que ouvi. A contagem chegou
ao fim e as bombas explodiram. Fui arremessado pra trás com força e a sala
desapareceu do meu campo de visão.
°°°°°°°°°°
-
Rupert! - ouvi uma voz distante me chamando e senti meu corpo sacudir – Rupert,
acorde! Temos que sair daqui!
Abri
os olhos com dificuldade e tudo rodou. Sentia-me zonzo e estava tudo fora de
foco. Tudo verde. O rosto de Amber estava próximo ao meu e ela me sacudia
desesperada, aos poucos se tornando menos desfocada. Estava cercado por
armaduras quebradas e cortei a mão em uma delas quando tentei me levantar. Quando
consegui enxergar com clareza, vi o pânico nos olhos dela. A sala de
treinamento estava em chamas.
-
O que houve? – disse levantando depressa demais e ficando sem equilíbrio.
-
A explosão derrubou o pote de fogovivo e ele se espalhou pela sala – ela me
ajudou a levantar – Precisamos sair daqui antes que as chamas tomem conta de
tudo!
Olhei
com mais clareza o que acontecia ao nosso redor e agora o pânico também estava
estampado em meu rosto. As chamas verdes do fogovivo estavam por todo lado,
famintas, lambendo tudo que encontravam pela frente e deixando um rastro de
fumaça negra como a noite. Todas as armaduras de Hogwarts guardadas na sala haviam
sido incineradas e o som do aço derretendo sendo consumido pelo fogo era
assustador. Amber havia conjurado uma parede de água densa para ganharmos
tempo, mas aos poucos ela também começava a ser consumida pelas chamas. Estávamos
presos em um verdadeiro inferno verde.
-
Sheldon, vamos embora! – Amber gritou para a porta do túnel e só então lembrei
que não estávamos sozinhos.
-
Ajudem aqui! – o som de sua voz saiu abafado.
-
Merlin! – corri até ele quando vi que tentava remover pedras de cima do corpo
de Brittany – Você está bem?
-
Sim, eu estou bem, mas ela não. Ajude a remover essas pedras!
-
Sinto muito – Brittany disse com dificuldade, agarrando a blusa de Amber.
-
Você não tem pelo que se desculpar, Brittany – Amber se ajoelhou e tentou
acalmá-la – Você não sabia que tinham bombas nos tuneis.
-
Não consigo movê-las, são muito grandes! – Sheldon disse frustrado e ouvi um
estalo alto na sala ao lado.
-
A sala vai desmoronar, temos que ir embora – Amber disse em tom urgente e sabia
que ela tinha razão, mas não podíamos abandonar Brittany.
-
Saiam daqui! – Brittany agarrou meu pulso, seu rosto era pura dor – Saiam.
-
Não, não vamos abandoná-la! – insisti e empurrei a pedra, em vão – Cadê o
Timothy?
Sheldon
sacudiu a cabeça negativamente e soube que ele havia morrido. Aquilo foi um
baque. Um aluno inocente havia morrido na explosão e outra estava prestes a ter
o mesmo destino, a menos que conseguíssemos remover a pedra que a prendia nos
escombros. Outro estalo alto me tirou do transe e senti dois pares de mãos me
agarrando.
-
Temos que ir agora mesmo! – os dois me puxavam pra longe dos escombros – Se não
chegarmos até a porta antes do fogo, morreremos queimados!
-
Brittany... – tentei resistir, mas ainda estava tonto pela explosão e não tinha
forças.
-
Não podemos fazer nada por ela, sinto muito – Sheldon disse ríspido e fui empurrado
pra fora da porta.
O
fogo na sala havia aumentado, restando apenas uma passagem ainda intacta por
onde podíamos passar. Atravessamos a sala em chamas e chegamos à porta que nos
jogava de volta ao corredor segundos antes dela ser consumida pelo fogo. Sheldon
lacrou a porta de pedra e pegou o detonador da minha mão, mas o detive a tempo.
-
Não pode explodir a sala! – tomei-o de sua mão antes que ele apertasse o botão.
-
Vocês colocaram bombas na sala de armaduras?
-
Caso os vampiros atravessassem o túnel, não passariam dela.
-
Não podemos detoná-la, nunca mais vão encontrar os corpos deles se fizermos
isso!
-
Acho que a preocupação maior deveria ser fazer o castelo ruir! – a voz de Amber
saiu esganiçada.
-
Se não apagarmos o fogo ele pode se alastrar pelo castelo!
-
Ok, vamos nos acalmar! – Amber se recompôs e interveio – Isso não derrete
pedra, derrete?
-
Se ela for grossa o bastante, não.
-
Acha que as paredes do castelo conseguem segurá-las? – Sheldon pensou por um
instante e assentiu – Então vamos deixar o fogo apagar sozinho. Chega de
explosões.
Sheldon
guardou o detonador na mochila e um silêncio tomou conta do corredor. Do lado
de fora uma batalha se desenrolava, mas tudo que conseguia pensar naquele
momento era que Brittany e Timothy haviam morrido na explosão que provocamos. Não
entendia o que eles estavam fazendo naquele túnel, como haviam encontrado a
passagem, mas isso não importava. Eles estavam mortos.
Comecei
a me sentir tonto outra vez e senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. Apoiei
as mãos na parede gelada para evitar desabar, lutando contra o impulso de
fechar os olhos.
-
Rup, você está bem? – Amber se aproximou e colocou a mão em minha testa –
Merlin, você está gelado!
-
Eu estou bem, só um pouco zonzo.
Acabei
de falar e só tive tempo de virar o rosto para o outro lado antes de vomitar. Limpei
a boca e vi que minhas mãos estavam meladas de sangue. Não havia ferimentos
pelo meu corpo, mas então olhei para o chão. Havia uma poça vermelha aos meus
pés. Olhei para Sheldon e Amber e ambos tinham expressões de pavor no rosto,
que deviam estar muito semelhantes a minha. Olhei para as minhas mãos mais uma
vez e perdi a consciência.
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