Wednesday, June 20, 2012
Lembranças de Tuor H. E. Mithrandir
A batalha tinha acabado, mas era difícil engolir o
sentimento estranho que todos sentiam.
Por mais que eu nunca tivesse sido amigo da Brittany e do
Timothy, era triste pensar que eles tinham morrido, de uma forma que ninguém
ainda sabia o porquê. Eu sentia um aperto no coração sempre que pensava que
poderia ter sido um dos meus amigos, ainda mais com a Clara tão mal no
hospital. Rupert se culpava pela morte dos dois e tentávamos apoiá-lo, mas acho
que ele precisava de tempo.
Outra que precisava de tempo era a Arte.
Ela não dizia e eu sabia que ela não falaria nada por um bom
tempo, mas ela se sentia tão culpada ou mais que o Rupert. Fora ideia dela essa
emboscada e ela deu tudo de si.
Depois do ataque, Arte passou os três dias seguintes
inteiros sem dormir. Havia tanto para ser feito ainda e tudo exigia a atenção
dela.
Assim que terminou a batalha, ela correu para a enfermaria e
ajudou a tratar de Clara. Fizeram transfusões de sangue às pressas para ela,
usando sangue de dragão e sangue de Artemis. O próprio Fidelus oferecia esse
sangue, mas depois de um tempo Arte o proibiu, pois ele estava doando sangue
para diversos ferimentos. Quando Clara foi levado para Londres, Arte foi junto
e voltou no mesmo dia.
O clã organizou grupos de investigações nos esconderijos
restantes de Cadarn, procurando ver se ainda havia algum perigo a solta.
Siegfrid ficou responsável por julgar os vampiros ainda vivos. Eu o ouvi dizer
que tentaria ajudá-los, pois eles não tinham culpa de Cadarn tê-los
transformado em vampiros...
Arte também foi chamada à Londres diversas vezes para fazer
relatórios à Academia ou ao Ministério. Ela também foi chamada para algumas das
investigações aos esconderijos de Cadarn, com o objetivo de purificar os
locais. Ela me contou que haviam esconderijos que pareciam ter sido habitados
por demônios, tamanha a podridão do local.
Todos os membros da AD receberam prêmios de Minerva pelos
serviços prestados à Escola e tínhamos placas de bronze com nossos nomes na
sala de troféus. O próprio Ministro participou da cerimônia de entrega e deu
prêmios de serviços prestados à Comunidade Bruxa para nós. Foi engraçado ver o
rosto de todos meio sem jeitos, mas ainda assim orgulhosos.
Foi um trabalho difícil que se seguiu à batalha... Para
todos nós. Os aurores queriam que não nos envolvêssemos mais, mas muitos alunos
queriam ajudar a limpar os jardins, retirando os restos dos vampiros, ajudando
a lidar com o fogovivo, tratando dos feridos e contando os mortos.
Foram poucos, totalizando apenas 20 mortos. Era um número
pequeno se considerássemos o tamanho da batalha, mas ainda eram vidas
importantes... O pai do Justin também morreu na batalha e isso foi um golpe forte
para Arte. Fomos todos juntos no enterro dele e Arte ajudou o máximo que pode
Justin. Ele estava tentando ser forte e, suspeito eu, principalmente na frente
dela, mas eu sabia que quando a ficha caísse ele teria a Haley para apoiá-lo.
Assim como eu.
Tudo que aconteceu pesava nos ombros de Artemis,mas eu sabia
que ela tinha escolhido isso. Ela precisava do meu apoio e tentei acompanhá-la
o máximo possível. Diversas vezes ela me derrotou. Sem que eu percebesse eu
cochilava e quando acordava ela tinha ido embora. Eu podia imaginar o sorriso
travesso dela sempre que me via dormindo, quando saía sorrateira e me deixava
deitado no sofá da sala comunal. Na verdade, eu suspeito que várias vezes foi
ela que me enfeitiçou para dormir...
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Tínhamos acabado de voltar da visita à Clara no hospital e
todos foram fazer alguma coisa diferente. Aos poucos estávamos voltando a nossa
rotina, pois os N.I.E.M.s estavam às nossas portas e tínhamos muito que
estudar.
Eu, Lenneth, Lena e Arte fomos para a biblioteca, para
estudar algumas matérias e não ficarmos na atmosfera tensa do salão comunal.
Estava conversando com Lena quando reparamos que Arte tinha sumido.
- Onde é que ela foi? – Lenneth perguntou preocupada e eu
suspirei.
- Eu encontro vocês depois, vou procurá-la.
Eu me despedi e sai correndo. Haviam muitos lugares onde
Arte poderia estar e se ela havia se transportado para Avalon, seria difícil eu
conseguir segui-la, pois teria que procurar a Mirian ou a Gaia para isso...
Passava por uma das janelas quando vi Fidelus sobrevoando os
jardins e soube que ele estaria com Arte e fui logo correndo naquela direção.
O castelo estava um pouco vazio hoje. A maioria dos alunos
mais velhos estavam estudando para os N.I.E.M.s ou para os N.O.M.s e alguns
alunos mais novos tinham recebido autorização para visitar os pais.
Cheguei rapidamente aos jardins e agora já sabia onde ir.
Fidelus estava pousado no meio do círculo de pedras que Artemis usara para
destruir Cadarn. As pedras eram enormes e ainda não haviam sido retiradas. Nem
sabia se seriam... Vi que Fidelus estava deitado e Artemis estava sentada no
chão, apoiada em sua barriga, olhando para o céu. Pude ver que Chronos estava
ali e o ouvi falando quando cheguei.
- Você é como eu, pequena, busca a solidão quando está
triste. Mas a minha existência sempre foi solitária, a sua não. – Ele terminou
de falar e olhou para mim, sorrindo para desaparecer em seguida. Fidelus soltou
um rugido feliz para mim e quase pude entender que ele queria que eu a
ajudasse.
Artemis olhou para mim e sorriu. Seu sorriso sempre é lindo,
mas este era forçado e vi que havia tensão em seus olhos. Sentei do seu lado e
a abracei.
- Você é teimosa, hein... Porque foi embora?
- Queria ficar sozinha. – Ela falou aconchegando-se em meu
abraço.
- Você nunca está sozinha, estou sempre com você, esqueceu?
– Eu falei e ela começou a soluçar. A abracei mais forte e a deixei chorar, sem
falar nada. Ela precisava desabafar e a deixaria fazer isso.
- Desculpa. – Ela falou depois de um tempo. – Manchei toda
sua roupa.
- Não tem problema... Eu sou seu namorado e melhor amigo,
esqueceu? Você sabe que precisa falar sobre o que aconteceu.
- Eu sei... Não posso ficar fugindo... É que ver a Clara
acordada me deixou aliviada, mas também me deixou ainda mais culpada! Ela
poderia ter morrido, Tuor, por minha causa!
- Não seria por sua causa. Você fez tudo ao seu alcance para
ajudá-la, em todos os sentidos. A sua Dança deu certo.
- Não completamente... Vinte pessoas morreram, Tuor, como
quer que eu aceite que a Dança deu certo?
- Você mesma me disse que a Dança não era 100%. Ela ajudaria
todos a terem futuros melhores na batalha, mas se era a hora deles, não havia
nada que você pudesse fazer.
- E ele está certo, minha jovem Artemis. – Ouvimos uma voz
conhecida falando e cheguei a me assustar quando o pai de Justin surgiu diante
de nós. Ele estava agachado próximo de nós e sorria.
- Tio Blade? – Arte perguntou surpresa. – Mas Justin fez o
ritual da sua passagem.
- Sim, Arte, e eu fiz a passagem. Mas você precisa de mim
uma última vez. Não apenas de mim.
Fidelus estava calado, entendo o que isso tudo significava,
e quando Artemis começou a se levantar, ele a ajudou , empurrando-a levemente e
ficamos em pé lado a lado. Enquanto isso o pai do Justin ficou de pé sorrindo e
ao nosso redor começaram a surgir outros espíritos. Eram as 20 pessoas que
morreram no ataque, inclusive Brittany e Timothy, mas haviam outros espíritos
também.
- Você nos salvou, garota, e sou eternamente grato. – Um dos
espíritos falou, sorrindo para Artemis. – Graças a você, fomos liberados da
maldição que o vampiro nos prendeu. Teremos o descanso que merecemos, tudo
graças a você.
- E era chega a nossa hora também. – Blade continuou. – Você
tentou nos proteger e também somos gratos por isso, mas todos os homens morrem
um dia. Você fez tudo que pôde e não deve se sentir culpada. Se às vezes sentir
o peso de nossas em suas costas, lembre-se que você nos libertou e nos poupou
de um futuro pior que a morte. A morte é apenas uma passagem, pela qual todos
devem passar...
- Obrigada... – Arte falou, os olhos cheios de lágrimas e
Blade sorriu mais uma vez.
- Cuide deles todos. Não precisa se preocupar tanto com meu
filho, ele finalmente cresceu e aprendeu a confiar. Ele sabe que sempre terá
vocês ao lado deles. Assim como você sempre terá todos ao seu lado.
Blade então desapareceu e junto dele todos os espíritos
dissolveram-se no ar. Artemis ficou calada, contemplando o céu e eu segurava
sua mão com força. Então Chronos ressurgiu ao nosso lado.
- Você escolheu se tornar a Rainha, Artemis, e isso é um
peso enorme. Mas ninguém lhe falou que seria fácil. Pelo contrário, vai ser
muito difícil, mas eu confio em você e sei que está pronta para isso. – Ele
falou, passando a mão nos cabelos de Arte. – Por séculos que me senti culpado
pela morte de minha esposa e de meu povo, e depois passei décadas me culpando
pela morte de minha filha. Tinha medo dos fantasmas do passado e me isolei de
todos. Mas então eu percebi que não eram fantasmas, mas sim lembranças, boas
lembranças. Percebi que não deveria me culpar pelos meus erros, mas aprender
com eles e saber dar valor ao que ainda está por vir. É a chave para você
conseguir continuar com esse peso, essa responsabilidade. Você será a maior
Rainha, e estarei sempre ao seu lado.
- E tem sempre a mim ao seu lado. – Eu falei beijando sua
mão e ela sorriu entre lágrimas para nós dois. Fidelus rugiu alto e esfregou
sua cabeça em Artemis, quase derrubando-a. – E seus amigos. E agora uma
multidão de espíritos ao que parece.
- Obrigada. – Ela falou rindo e eu a beijei.
- Vamos voltar? Você ainda tem muito a que fazer! Temos
N.I.E.M.s para estudar e você ainda tem uma Tarefa do Torneio!
- Tinha que lembrar? – Ela falou rindo, dando um tapa no meu
ombro, mas me deu a mão e voltamos juntos para o castelo, acompanhados por
Fidelus.
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