Thursday, March 31, 2011 O céu já estava escuro há horas e o cenário era de filme de terror. Mesas e cadeiras reviradas dentro das salas, paredes e tetos sujos de tinta colorida e o terreno do castelo deserto. Os únicos que ainda circulavam pela área das estufas comigo eram Haley, Justin e Jamal. Todos os outros haviam sido abatidos há horas e fazia muito tempo que não víamos ninguém. Ainda era possível ouvir o barulho dos tiros vindos de dentro do castelo, mas não sabíamos quem ainda estava vivo na disputa. Já estávamos cansados e com fome, mas ninguém desistia. Pela minha porca noção de Astronomia, sabia que já passava da meia noite, ou seja, o que começou como uma brincadeira para descontrair havia se tornado uma competição que tinha ultrapassados todos os limites da sanidade. Todo mundo estava estressado e desconfiado de tudo, qualquer barulho era motivo para apontar a arma e atirar. Além de fome e cansaço, começávamos a sentir frio também, então achamos melhor nos abrigarmos dentro do castelo. Precisávamos também encontrar os sobreviventes e tentar eliminá-los e acabar com o jogo. Estávamos sentados em volta de uma pilha de pergaminhos que fizemos de fogueira, no meio da sala de DCAT, quando a porta abriu e uma bola de tinta estourou na parede. Levantamos depressa já com as armas em punho e a sala foi invadida por cinco pessoas, das quais reconhecemos de imediato todas elas: John, Leonard, Stefan, Lizzie e Charlotte. Eles disparavam pra cima de nós quatro sem parar e rapidamente nos cercaram, mas antes que fossemos totalmente derrotados, atingimos Lizzie e Charlotte. Justin já havia levado um tiro no meio do peito e Haley estava caída no chão com as costas sujas de tinta rosa. Jamal correu atrás de John e Leonard e quando ia correr atrás para ajudar, ouvi alguém destravando uma arma atrás de mim. Já estava pronta para ser eliminada, mas o tiro que disparou primeiro veio do lado oposto e não me atingiu. Virei depressa e vi James parado na porta, a arma apontada para um Stefan com a testa suja de azul. - Perdeu, Salvatore - ele girou a arma nos dedos e a prendeu no cinto - E avisa aos seus amigos que eles vão ter o mesmo destino. - De onde você saiu? - apesar de ter me ajudado, não guardei a arma. - Ei, abaixa a arma, ok? Se atirarmos um no outro, temos menos chance de vencer. - Está propondo uma aliança? - Bom, seus aliados estão caídos e você está sozinha agora, então sim. - Ainda tenho o Jamal. - Foi mal, Clara, não deu - Jamal entrou na sala outra vez e apontou pra perna suja - Eles não viram que me atingiram, acabei de notar. Só restou você. - Vença essa droga de jogo, ouviu? - Haley levantou do chão toda suja - Agora é questão de honra. Justin, vamos comer, alguma coisa boa tem que sair desta noite dos infernos. - E os três saíram da sala. - E então? Você sabe que quando trabalhamos juntos, somos eficientes. E isso é paintball. Podemos ganhar, mas vamos ter que nos ajudar. - Certo. Qual é o plano? - No caminho pra cá vi alguns sextanistas perto do corredor proibido e uns três caras do 7º nas estufas. Tirando eles, acho que só restam John, Leo e nós dois. - Então acabamos com eles e depois nos resolvemos – peguei os cartuchos que Jamal deixou e carreguei as armas – Vamos. Deixamos a sala de DCAT e percorremos o castelo com cautela até onde James tinha visto o grupo de sextanistas. Eles estavam amontoados dentro sala de armaduras, discutindo a possibilidade de serem os últimos sobreviventes e já ameaçavam apontar armas uns pros outros. Eram sete ao todo, quatro garotas e três garotos. James sinalizou para onde eu deveria ir e para onde ele ia e nos separamos. O corredor estava muito escuro, a única luz era da fogueira que eles também improvisaram, mas estavam tão distraindo discutindo que não notaram James correndo para trás da tapeçaria e nem eu escalando uma das armaduras de um troll. Uma das meninas apontou a arma para o garoto ao lado dela, mas quem disparou foi eu. Meu tiro o acertou em cheio e a aliança do grupo, achando que tinha sido ela, se desfez. O amigo do garoto atingido atirou na garota e quando a amiga dela ia revidar, James foi mais rápido e atirou nele. Só então eles perceberam que não estavam sozinhos, mas já era tarde demais. Com três já eliminados, tínhamos um de cada na mira de uma arma e tiramos os quatro restantes do jogo de uma vez só. - Seu traidor! Está aliado a uma sonserina? - o garoto que levou o primeiro tiro gritou com James. - Ei, olha como fala - e atirei nele outra vez. - Deixe de ser um bebe chorão - a garota que ia atirar nele falou e os outros riram – Eles foram mais espertos, acabou, vamos embora. - Estufas? – James recolheu os cartuchos deles e guardou nos bolsos. - Estufas. Voltamos para a área externa do castelo direto para as estufas. Os três garotos do 7º ano que ele havia visto mais cedo ainda estavam lá e se preparavam pra sair. Reconheci Damon entre eles, mas os outros dois sabia apenas que eram da Corvinal. Entramos o mais silenciosamente possível na Estufa Nº 3, que era onde eles estavam, mas pisei em um galho seco e acabei atraindo a atenção deles. Os três sacaram as armas e começaram a disparar, mas por sorte tínhamos ótimos reflexos. Nos atiramos no chão na mesma hora e revidávamos os tiros por baixo da bancada. - Eles não têm muita munição, continue atirando e deixe que eles gastem tudo – gritei para James no meio do barulho ensurdecedor dos tiros e ele assentiu. Seguimos com o plano e deixamos o tiroteio rolar por quase cinco minutos. Eles não se aproximavam por não saber onde estávamos e nós não levantávamos porque íamos ser atingidos, então os disparos eram às cegas. Quando eles pararam de disparar, esperamos alguns segundos e levantamos, acertando os três com uma chuva de bolas de tinta. Damon jogou a arma na bancada revoltado, mas sorriu quando passou por nós dois se despedindo. E ainda nos alertou que Johnny e Leo ainda estavam vivos e muito bem equipados. - Só faltam eles então. – James disse satisfeito - Vamos atrás ou esperamos eles virem até aqui? Sem duvida o barulho chamou a atenção dos dois. - Acho que devemos esperar eles virem até aqui. O que é isso? – falei apontando para a costela dele. A camisa estava manchada de vermelho – Você foi atingido? - Ah não! – ele puxou a camisa para ver – Ah, não é tinta, é sangue. Que susto! - Esse jogo está fazendo mal a todo mundo – revirei os olhos com o alivio dele por ver que era sangue – Vamos caçar alguma coisa pra fazer um curativo. Saímos das estufas para a enfermaria, deserta àquela hora. Não que a enfermeira não desse plantão de madrugada, mas a escola inteira estava com aquele clima de apocalipse zumbi, ninguém sem uma arma de paintball circulava pelos corredores, era suicídio. Encontrei algumas gazes e uma poção que sabia que era pra dor e o ajudei a fazer o curativo. - O soldado ferido – ele disse me encarando – É a fantasia mais clichê do mundo. - Realmente, muito clichê. – tentei não dar confiança e continuei colando o esparadrapo nele. - O que seus amigos diriam se nos vissem agora? - Não diriam nada, porque não tem nada demais acontecendo. - Vai negar que você não quer me beijar? – ele sentou na maca e segurou minha mão, me impedindo de continuar o curativo. - Me solta, por favor. - Solto, mas primeiro admite olhando no meu olho que não tem vontade. Não consegui responder. Em vez disso, agarrei seu rosto e o beijei. Ele me puxou pra cima dele na maca e tinha certeza que o barulho das molas dela estava fazendo eco pelo corredor e iam atrair a atenção de Johnny e Leo, mas não conseguia parar. James agarrou minha cintura e me prendeu contra a maca, mas antes que mais alguma coisa acontecesse ouvimos um estalo do lado de fora e pulamos os dois pra fora. - O que foi isso? – ele sacou a arma e fez menção de se aproximar da porta. - Não sei, mas acho que já podemos encerrar a dupla – saquei a arma e apontei pra ele. - Por favor, não diga que me beijou apenas pra ganhar o paintball. - Não, eu beijei você, e agora vou ganhar o paintball. Nada pessoal, mas isso ia ter que acontecer mais cedo ou mais tarde, e posso dar conta de dois. - Então isso não significou nada para você? - Não disse isso. O que isso significou para você? - Perguntei primeiro. - Muito maduro. - Disse a garota que não consegue admitir que me quer. - Disse a garota segurando a arma. - Tem certeza que isso é uma arma? – apertei o gatilho e não aconteceu nada. Ele riu. - Sem tinta, Han Solo? Acha que sou estúpido? - Quando pegou meu cartucho? - Quando começou a me seduzir. - Eu só estava fazendo um curativo em você! - Sim, claro, com suas mãos tão delicadas... - Boa noite, crianças. – Johnny entrou na enfermaria com Leo - Ficarão felizes em saber que chegaram até o fim, mas a brincadeira acaba aqui. Mais uma vez, fomos salvos pelos nossos ótimos reflexos. Quando Johnny e Leo erguerem as armas saltamos para trás da maca e na mesma hora a viramos, transformando-a em uma barreira. Damon estava certo, eles estavam muito bem equipados. Cada um tinha pelo menos quatro pistolas e um cinto carregado de cartuchos. Eles disparavam sem parar contra a maca e estávamos encolhidos abafando o barulho, vendo a enfermaria ser completamente destruída com os tiros quebrando todos os frascos de poções que tinham pela frente. Não tinha a menor chance de sairmos dali sem levar um tiro. - Me dê sua arma. – James se virou pra mim meio desesperado. - Sim, seria brilhante da minha parte. - Olha, você me pegou. Eu perdi. Deixe-me fazer isso por você – relutei um pouco, mas acabei lhe entregando a arma - Seria bem louco se eu atirasse em você agora, não é? Olhei para ele séria e ele riu, me beijando antes de levantar e começar a disparar contra Johnny e Leo. Não tinha como ver o que estava acontecendo, mas logo depois os tiros cessaram e eu soube que os três estavam eliminados. Ainda assim, levantei com cautela. Os três estavam imundos de tinta e James sorriu quando me viu. Johnny resmungou alguma coisa que não consegui entender e saiu da enfermaria com Leo. - Obrigada. - Lembre-se disso na próxima vez estivermos sozinhos – ele piscou com uma cara idiota e saiu atrás deles. Ainda fiquei parada um tempo olhando o estrago, mas por fim os segui e fui direto até a sala do tio Ben. Estava esgotada e queria matar ele por ter inventado aquele jogo idiota. Bati na porta com força e nem esperei ele responder, entrei direto. - Está bonita. – ele comentou quando viu meu estado. Estava completamente imunda – Antes que diga alguma coisa, o premio prometido não pode exatamente ser dado, mas encontrei uma solução tão boa quanto. - Todos lá fora estão atirando uns nos outros... Por nada. Enquanto está sentado aqui. Limpo. - Clara, posso explicar. Errei quando prometi a isenção de uma das matérias. Não podia fazer isso, os examinadores não permitem, não é como uma prova normal de Hogwarts. Não esperei ele continuar falando. Saquei a arma que ainda estava no meu bolso e descarreguei todo o cartucho contra a sala dele. Tio Ben rapidamente se abaixou para se proteger dos tiros, mas não parei até que estivesse sem munição. - Clara! Pare com isso! – ele gritou quando parei de atirar - Lembre-se que não pode se irritar muito! - Se fosse pra ter me transformado em um lobo por causa de estresse hoje, metade dessa escola estaria em pedaços. - Ok, calma. Descarregou toda a sua raiva? - Quase. – e atirei a última bala na testa dele – Pronto, estou bem agora. Qual é o meu premio? - Ok, eu mereci isso – ele limpou a tinta da testa – Certo, seu premio. Como vai ter que fazer todos os exames, vou conceder um fim de semana de folga a você. Longe de Hogwarts, em um hotel em Londres, por minha conta. Vai sair daqui numa sexta à noite e voltar domingo à noite, e pode levar três amigos. Basta dizer quando querem ir e quem vai que faço as reservas. - Isso não é tão bom quanto à isenção de matéria. - É o que posso oferecer, é pegar ou largar. - Eu aviso quando decidir ir. Sai da sala dele batendo a porta e estava tão cansada que nem percebia o que estava fazendo. Só notei que meus pés tinham me levado de volta às masmorras quando dei de cara com a passagem secreta da Sonserina. Estavam todos dormindo e desabei na cama do jeito que estava. Amanhã contava ao pessoal que tinha vencido. Sunday, March 27, 2011 Lembranças de Artemis A. C. Chronos
- Eu sempre esqueço como você parece mudar aqui em Avalon, sabia? – Tuor falou, me olhando de uma forma engraçada. Eu fiquei um pouco vermelha e tentei ignorar, enquanto continuava a me exercitar e treinar golpes com as minhas duas espadas. Hoje ele tinha ido comigo a Avalon treinar e além dele, minhas sobrinhas também vieram, mas estavam conversando com mamãe em uma das casas da cidadela. Enquanto isso, eu estava na sala de treinamentos de Camelot, treinando meus golpes de espada e controle sobre os elementos. Eu costumava treinar assim quando nem Clara nem Justin podiam vir treinar fisicamente comigo. Eu fazia torres de água subirem do chão e às vezes fazia com que essas torres tomassem formas de inimigos, enquanto eu lutava. A sala de treinamento ajustara-se a mim e sempre tinha uma fina camada de água em sua superfície e sempre chovia, para facilitar meu domínio sobre a água. Hoje eu estava apenas treinando seqüências de golpes, para poder conversar com Tuor enquanto treinava. Quanto a nós dois... Eu não sei bem o que dizer. Estávamos mais próximos do que nunca, mas às vezes também parecíamos afastados. Muitas vezes ficávamos sem falar por horas a fio, enquanto fazíamos deveres ou líamos junto no salão comunal. Era comum ficarmos até tarde da noite sentados nos sofás, sem muito falar, mas aquilo havia se tornado importante. Não nos beijamos novamente desde aquele dia e confesso que era difícil resistir. Claro, as garotas, principalmente Keiko, Haley e Bela me perguntavam o porque de resistir, enquanto Clara, Lena, Liz e minhas sobrinhas entendiam bem o porque. Eu precisava de um tempo sozinha, para pôr meus pensamentos em ordem e não estava pronta para retornar a um relacionamento, já que o meu primeiro havia sido um pouco complicado e teve um final ruim. Já os garotos, não se metiam muito, pois sabiam que quando fosse a hora certa eu falaria algo. Justin sorria com um sorriso sacana sempre que me via ao lado de Tuor, principalmente nas vezes, que estavam se tornando freqüentes, que estávamos de mãos dadas. Evitávamos que qualquer pessoa visse isso, mas na frente de nossos amigos passávamos muito tempo de mãos dadas. - Eu não mudo, continuo a mesma. – Eu falei, após finalizar um golpe vertical e respirar fundo. Fiz um movimento de embainhar as espadas e elas sumiram no ar, voltando a ser energia pura. - Você não muda fisicamente ou algo assim. Mas aqui você parece mais austera, mais importante e muito poderosa. É como se aqui você se tornasse uma rainha de verdade, há uma aura diferente ao seu redor em Avalon. Você fica linda. – Ele falou e eu percebi que ele deixou essa última frase escapar, pois ele ficou vermelho e pareceu querer se concentrar muito nas ondas que se formavam no espelho de água. Eu sorri, sem jeito, também vermelha. - Não é nada disso. É só impressão sua... Gostou do treinamento? - Adorei! Você está ficando cada vez melhor, mais alguns meses e terei medo de você. – Ele falou, fazendo uma cara de susto. - Não quero que tenha medo de mim. – Eu sussurrei e sentei-me ao seu lado, enquanto ele sorria para mim. Ele me jogou uma garrafa com suco de abóbora. Enquanto bebia o suco, minha outra mão inconscientemente procurou a dele e nos demos as mãos. - Uma dúvida que sempre tive: o que acontece com sua varinha quando você está lutando? E você consegue fazer magia sem ela, não é? - Sim, consigo. A varinha é um catalisador, é um objeto mágico feito especialmente para um bruxo em específico com o poder de potencializar os poderes desse bruxo. Mas qualquer um pode fazer magia sem varinha, porém é difícil e se gasta muita energia. Quanto a minha varinha, quando estou lutando ela se mescla as espadas. – Eu falei e estiquei a mão a frente, segurando minha varinha. Invoquei minha espada e fiz com que o processo de forja de energia fosse mais lento, para que ele pudesse perceber o que queria dizer. Ele viu a energia do ar rodopiando e condensando-se ao redor da varinha, envolvendo-a como um casulo e depois expandir-se até formar a espada. – Viu? - É demais... Você faz magia sem varinha com tanta facilidade, como consegue? - As próprias espadas servem como catalisadores de magia, mas o maior motivo para poder fazer magia assim com facilidade é o sangue de minha família. Minha família em um histórico antigo de grandes reservas e potência mágica. Minha tataravó Rigel ficou conhecida como uma das bruxas com maior reserva mágica da história e minha mãe em si tem um potencial enorme. Então para nós é fácil realizar grandes magias e gastar pouca energia, facilitando as magias sem varinha. - É muito interessante... E como estão os treinos com o Chronos? – Ele perguntou e percebi que ele parecia estar querendo dizer algo, mas não sabia como começar. - Estão ótimos. Temos duelado às vezes e isso é ótimo para eu aprender como lutar de verdade. - Você vai ficar realmente forte. – Ele sorriu e me olhou por um instante. – Arte, sobre nós dois. – Ele falou e eu senti meu rosto fiando meio vermelho, mas me controlei. – Eu... Digo, aquilo foi importante pra mim. - Pra mim também... – Eu consegui falar em meia voz. Ele sorriu um pouco antes de continuar. - Mas não sei como me portar. Nunca senti nada parecido. Eu queria ter algo mais sério com você. – Assim que ele falou eu afastei minha mão meio inconscientemente, porém ele sorriu. – Mas sei que seu último relacionamento foi difícil e acho que você precisa de um tempo sozinha... E tem o problema da distância. Aquele assunto era tabu entre nós e desde o dia das entrevistas profissionalizantes, não falamos mais disso. Eu senti um aperto no peito, mas engoli em seco para poder responder. - O que tiver que ser será... Mas você está certo em uma coisa: não estou pronta para um relacionamento e não quero que você sofra como fiz o Stefan ou mesmo o Damon sofrerem. – Eu falei o que vinha prendendo em meu peito desde que nos beijamos. Eu sentia medo de fazer com ele como fiz com os outros dois e acabar magoando. – E eu jamais quero machucá-lo. - Você nunca me machucaria, eu sei disso. E não foi culpa sua, você não estava pronta para aquele relacionamento e o Stefan praticamente te sufocava. Você não é assim... – Ele falou, enquanto acariciava meu rosto com carinho e eu fechei os olhos sentindo sua mão no meu rosto. Ainda de olhos fechados peguei sua mão que estava em meu rosto e apertei diante de nós dois e abri os olhos, encarando-o fundo. - Tuor, se há alguém que eu daria certo em um relacionamento... Esse alguém é você... Mas preciso de um tempo. Assim que eu estiver menos confusa e mais decidida eu vou procurá-lo... E precisamos aprender e descobrir o que a distância causará. - Estou de acordo. Terá todo o tempo do mundo, e eu também, pois também estou confuso e preciso amadurecer mais para estar ao seu lado. Ele falou aquilo com carinho e suavidade. Nós dois ainda estávamos de mãos dadas e nos aproximamos lentamente um do outro. Achei que teríamos um outro beijo, mas nesse momento ouvimos os passos de minhas sobrinhas e minha mãe e nos afastamos vermelhos, trocando olhares que diziam muito. Eu tinha sido sincera com relação a ele: se era para ter alguém como namorado, esse alguém seria o Tuor. Mas precisava de tempo para mim... Haviam muitas coisas que eu precisava pensar e me preparar antes. Friday, March 04, 2011 Depois de uma semana mais tranqüila por conta do dia dos namorados, o ritmo acelerado dos estudos pros alunos do 5º ao 7º ano voltou com força total. Como se todos já não estivessem atolados e preocupados o suficiente com os exames, um simulado surpresa, aplicado na semana seguinte a festa, revelou que ninguém estava preparado para eles. As únicas notas decentes foram dos maiores cérebros da escola, e aquilo não servia de consolo pra ninguém. Eu já estava considerando mudar de carreira, uma vez que ainda não tinha feito a orientação vocacional. Se um simulado havia me deixado numa classificação tão baixa, o que ia acontecer quando fosse o exame pra valer? Sai com esse pensamento na cabeça do dormitório na sexta-feira seguinte ao simulado, mas uma aglomeração em frente ao quadro de avisos da Sonserina me tirou do transe. - Damon, o que está acontecendo? – perguntei quando ele saiu agitado do meio da multidão. - Paintball! – ele gritou e saiu correndo com um amigo. - Clara, venha aqui! – JJ me gritou do meio das pessoas e me espremi até ele – Olha isso! – e apontou pro que chamava a atenção de todo mundo. Era um panfleto que não estava ali quando fomos dormir. TORNEIO DE PAINTBALL Sábado, a partir das 10h. Concentração no Salão Principal, para distribuição de material e esclarecimento de regras. Premio: Isenção de prova para uma matéria, a escolha do aluno. Somente alunos do 5º ao 7º ano. - Isso é sério? – perguntei ainda sem acreditar. - Parece que sim. Imagina tirar uma matéria da prova? – JJ já estava empolgado – Vou riscar poções, é claro. Nem preciso pensar sobre isso. - Eu nem sei o que tiro, qualquer uma já vai ser um adianto. E ia mesmo. Se aquilo era pra valer, então eu precisava ganhar aquele torneio a qualquer custo. Poder tirar uma matéria da prova ia ser um peso a menos nas costas e já me dava novas esperanças de não precisar optar por uma carreira mais fácil. Aquele prêmio ia ser meu. ºººººº Mal consegui dormir de sexta pra sábado, muito menos prestar atenção nas aulas. Às 10h em ponto estava no salão principal com meus amigos e todo o resto dos alunos do 5º ao 7º ano. Ninguém havia dispensado o torneio, nem os que não precisavam de uma matéria a menos na prova. Tio Ben, tio George e tio Yoshi estavam lá, distribuindo armas de tinta para os alunos. Cada um tinha direito a duas pistolas pequenas e fáceis de manusear, cabiam até no bolso. Pegamos as nossas e esperamos eles começarem a falar. - Muito bem, atenção! – tio Ben subiu na mesa para ser visto por todos – A idéia do torneio é desestressar e o jogo é simples: atirar no oponente e eliminá-lo. Só é permitida eliminação por tiro de tinta, está proibido contato físico e uso de varinhas. Também está proibido correr para dentro da Floresta Negra e nos salões comunais, o restante do castelo está liberado. O último que restar ser ter sido atingido vence. Alguma duvida? - E quanto à tinta das armas? Quando acaba estamos fora? – Johnny perguntou. - Os cartuchos de tinta são mágicos, não acabam. Mais alguma dúvida? – ninguém se manifestou – Ótimo. Vocês têm cinco minutos pra se espalharem e se dividirem como quiser. Quando ouvirem meu sinal, o jogo começa. - Vamos! Guardei as armas na cintura da calça e puxei Haley, Arte, Keiko e Lena comigo. Não vi para onde os meninos foram, mas só quando chegamos às estufas que reparei que eles não estavam atrás de nós. Alguns minutos depois ouvimos a voz ampliada do tio Ben autorizando o inicio do torneio e depois o único som ouvido era o de tiros de tinta pra todo lado. Tracei um plano com as meninas e partimos pro ataque. ------------ - Espera, espera... – Arte falava baixo pra mim. Estava deitada no chão, com um grifinório na mira – Agora! Haley e eu atiramos ao mesmo tempo e acertamos o grifinório e um lufo ao mesmo tempo. Eles saíram de trás da mesa onde se escondiam revoltados e seguiram pro salão principal cabisbaixos. Ninguém tinha saído com relógio do salão comunal, mas pelo nosso cansaço e o tempo correndo de um lado pro outro, já devia ter passado mais de sete horas de torneio. Keiko havia sido abatida há pouco mais de uma hora, quando corremos para atravessar o jardim de volta pra dentro do castelo. Johnny Weasley foi quem a derrubou, mas não conseguiu nos pegar. O castelo estava uma bagunça. Marcas de balas de tinta estouradas estavam por todo lado, as paredes eram um gigantesco arco-íris. Quase não era mais possível distinguir janela de parede, era tudo um grande borrão colorido. Mesas e cadeiras das salas de aula agora serviam de barreiras e os alunos que não estavam participando estavam escondidos dentro dos salões comunais, com medo dos malucos armados que corriam alucinados pelos corredores. Não sabíamos mais quantas pessoas restavam, mas estávamos abatendo muitos alunos com uma única estratégia. Estávamos escondidas no banheiro masculino do 3º andar e quando os garotos entravam, eram fuzilados com tinta. Passamos mais de uma hora lá dentro, até que as vitimas que entraram foram nossos amigos. Estávamos prontas para eliminá-los, mas Jamal percebeu que tinha alguma coisa errada e eles sacaram as armas, ao mesmo em tempo que saímos das cabines com as nossas nas mãos. - Então é aqui que vocês estão... – Justin falou com a arma apontada pra Haley, que mantinha a sua firme nele. - Não tentem atirar, somos mais rápidas – ameacei com uma arma em Jamal e a outra em Hiro. - Estamos em maior número, meninas – Julian observou, sem desviar a atenção de Lena. - Quer pagar pra ver? – Arte destravou a arma que estava na mira da testa de JJ. - OK, CALMA, NINGUEM PRECISA SE MACHUCAR! – ele gritou depressa, antes que desmaiasse com a pressão do tiro. - Ainda restam muitos? – Lena perguntou, ainda sem abaixar a arma. - Não sabemos, perdemos Rupert e MJ há meia hora. Emboscada corvinal – Tuor informou. - Ok, vamos trabalhar juntos então, não tem motivo pra estarmos uns contra os outros – sugeri e dei o primeiro passo, abaixando a arma. Todos fizeram o mesmo. - Clara está certa, juntos somos dez, podemos esvaziar a escola e ai depois pensamos como vai ser – Hiro me apoiou e todos concordaram. Saímos os dez juntos do banheiro e lentamente fomos nos deslocando pelo castelo, até chegarmos ao pátio. Não vimos ninguém no caminho, mas isso não significava que éramos os últimos. E isso se confirmou quando JJ colocou o pé pra fora do pátio e foi atingido por um tiro. - Droga! – ele bufou irritado. - Se escondam! – Haley gritou e nos atiramos pelo chão, procurando algo pra nos proteger. - Alguém viu de onde o tiro veio? – Justin perguntou – JJ? - Não, foi mal, galera – ele travou as asmas e guardou no bolso – Boa sorte pra vocês. - Não podemos sair sem saber de onde os tiros vieram, ou vamos ser abatidos um por um – Arte falou e todos concordaram. - Quer saber? Não preciso eliminar nenhuma matéria, só queria me divertir, mas já estou ficando cansado – Hiro falou do meu lado e engatinhou até a ponta do muro que nos protegia – Prestem atenção na direção dos tiros. Hiro levantou e no mesmo instante três tiros o atingiram em cheio. Estávamos prestando atenção e vimos que eles saíram na direção do lago. - Em cima da árvore! – Julian gritou. Foi o que bastou. Todos levantamos ao mesmo tempo, as armas apontadas pra única árvore que tinha naquela parte do castelo. Uma chuva de tiros atingiu as folhas e ouvimos pessoas gritando de dor. Um a um eles foram descendo, eram quase dez lufos. Ficamos sozinhos no jardim, e já estava quase escurecendo. Será que éramos os últimos? ((Continua)) |