Friday, March 16, 2012 Depois de um encontro que, no meu ponto de vista, foi excelente, o dia seguinte foi de desencontros. Todos haviam combinado de passar o dia em Epcot, mas perdi a hora e quando acordei já não tinha mais ninguém no hotel. Nem parei pra tomar café antes de pegar o ônibus para encontrá-los, mas o parque estava tão cheio que não consegui achar ninguém. Não fazia idéia de onde Amber estava, e nem tinha como entrar em contato com ela, então resolvi aproveitar o dia como pudesse. O único que consegui encontrar foi MJ, que também havia se perdido dos demais e passamos a manhã juntos, parados nas filas das atrações. Conseguimos almoçar no pavilhão do Japão depois de muito sufoco e finalmente cansamos. MJ disse que ia ao Hollywood Studios ver se encontrava Zach e eu decidi voltar ao hotel, quem sabe Amber estivesse por lá. Mas ela não estava. Alguns poucos alunos estavam por lá, a maioria de Durmstrang. Acho que por não estarem acostumados com o calor, e o dia hoje estava bem quente, desanimaram de sair da piscina. Passei a tarde toda com eles e perto das 16h Kaley apareceu com Zach e MJ. Estavam carregados de sacolas de coisas com temática de cinema. - Devia ter ido comigo, Cenoura – MJ falou sentando na ponta da minha espreguiçadeira – O parque estava vazio, conseguimos fazer tudo que queríamos. - E ainda sobrou tempo pras compras! – Zach sacudiu as sacolas – Comprei um porta-retrato em forma de claquete pro Byron, ele vai adorar. - Onde está a Amber? – Kaley perguntou. - Ela não estava com vocês? – levantei na mesma hora da espreguiçadeira e MJ quase caiu. - Não, ela saiu antes de mim, achei que ia passar o dia com você – Kaley já tinha um tom de voz preocupado. Amber não tinha o costume de sair sem avisar pelo menos um de nós dois para onde ia. - Ok, sem pânico, vocês dois – Zach tentou amenizar – Ela deve estar passeando em Boardwalk, lembro de tê-la ouvido dizer que ainda não tinha tido chance de conhecer. - É, Zach tem razão, ela falou isso mesmo – MJ fez coro – Vamos até lá, aposto que vamos encontrá-la tomando sorvete no calçadão. Ela não estava lá. Rodamos todo o calçadão e nem sinal de Amber. Ainda passamos em Downtown Disney, mas também não a encontramos. Já eram quase 17h quando nos demos por vencidos e todos concordaram que alguma coisa estava errada. Voltamos correndo para o hotel e fomos até tio Ben contar o que havia acontecido. Ele a principio não nos levou a sério, mas acho que estávamos tão desesperados que ele acabou se convencendo que ela sumir um dia inteiro sem dar notícia não era normal. Zach e MJ voltaram aos parques para ver se a encontravam e Kaley e eu fomos com tio Ben até a recepção, onde ele deu uma descrição detalhada de Amber avisando que ela estava desaparecida desde a manhã. A mulher disse que ia emitir um alerta em todo o complexo e se ela estivesse em algum lugar lá dentro, iam encontrar. Isso nos deixou um pouco mais tranqüilos, porque com toda a segurança montada pelos aurores, era impossível alguém sair sozinho. Alguns minutos depois ela nos procurou no saguão. - Encontraram? – tio Ben perguntou ansioso. - Sim, ela está no hotel vizinho, Riverside – ela lhe entregou um pedaço de papel – Procurem pela enfermeira Stevens na recepção, eles vão leva-los até ela. - Enfermeira? Ela está machucada? – perguntei assustado. - Não me informaram sobre isso, só disseram que tem uma menina chamada Amber que bate com a descrição que o senhor me deu na enfermaria do Riverside. - Obrigado, vamos até lá – tio Ben agradeceu e saímos apressados. Corremos até o carro que ele havia alugado e em dois minutos já estávamos estacionando no outro hotel. Entramos feito três foguetes na recepção e depois de dar o nome da enfermeira na recepção, um funcionário nos levou até lá. Se não tivéssemos pedido ajuda jamais encontraríamos o lugar, o hotel era imenso. A enfermeira estava saindo da sala quando chegamos e quando tio Ben disse que estávamos ali por causa de Amber, ela nos barrou. - O que aconteceu? Ela está bem? – tio Ben perguntou preocupado – Ela está sob minha responsabilidade, sou seu professor. - Ela está bem, só tem um corte na testa e quebrou o pulso, mais nada. Fiz todos os exames possíveis e não encontrei mais nada – ela nos tranquilizou, mas não adiantou muito. - Como ela conseguiu isso? – Kaley interrompeu. - Esse é o problema, ela afirma não se lembrar de nada. Uma hospede a encontrou desmaiada no playground e a trouxe pra cá. - Como alguém não se lembra de quebrar o pulso e cortar a testa? – agora eu interrompi. - Queria poder saber responder, mas não sei como. Ela não parece estar mentindo, o que me leva a acreditar que alguém pode tê-la drogado. É um absurdo pensar que isso aconteceu dentro do complexo, mas não vejo outra resposta. Ela já me autorizou a fazer um exame de sangue, mas preciso da autorização de um responsável, ela ainda é menor de idade. - Esse seria eu, pode fazer o exame se ela não se importa. - Ótimo, farei isso agora mesmo. - Podemos vê-la agora? – Kaley insistiu. - Sim, podem entrar. Vou buscar uma seringa para coletar o sangue. Abri a porta da enfermaria às pressas e Amber estava sentada em uma das macas olhando para a tala recém-colocada no pulso direito. Ela se espantou ao nos ver entrar, mas sorriu. Pela sua aparência, os machucados haviam sido causados por uma briga. - Que diabo aconteceu? – Kaley perguntou em tom de bronca – Onde se meteu o dia inteiro? - Não sei, não lembro – ela deu de ombros, sem parecer preocupada com nada. - Qual é a última coisa que lembra? - Terminei de tomar café e não queria ir a nenhum parque pela manhã, então resolvi dar uma volta. Lembrei-me do caminho que pegamos ontem até aqui e quis vê-lo com o dia claro. Cheguei até aqui, conheci o hotel todo e já estava tarde, então resolvi voltar. Lembro-me de caminhar até metade do caminho, e então não me lembro de mais nada. - Muito bem, isso só vai levar um minuto – a enfermeira estava de volta com a seringa e o tubo e rapidamente coletou uma amostra de sangue dela – Pronto, assim que tiver o resultado entro em contato. Já pode ir, não precisa mais ficar aqui. Só estava esperando um responsável aparecer para busca-la. - Obrigada – Amber agradeceu e desceu da maca – Ah, droga. - O que foi? – perguntamos os três ao mesmo tempo. - Perdi minha pulseira – disse olhando para o pulso esquerdo vazio – Eu realmente gostava daquela pulseira. - Alguém provavelmente bateu em você hoje e está preocupada com uma pulseira? – Kaley disse séria e concordei. - Era da minha mãe, significa muito pra mim. - Vamos encontra-la, não se preocupe – disse tentando animá-la – Vamos embora. Ela ainda hesitou por um instante, mas se deu por vencida e nos acompanhou de volta ao nosso hotel. °°°°°° Assim que voltamos ao hotel Kaley e tio Ben saíram para procurar Zach e MJ para avisar que já havíamos a encontrado e acompanhei Amber até o quarto, já que a enfermeira havia pedido que ela descansasse um pouco. Ela estava estranha, desconfortável, e eu sabia que não era por ter apagado da memoria quase que um dia inteiro. Ela estava desconfortável comigo e eu sabia que se não falasse primeiro aquilo nunca teria fim. Já havia antecipado isso, então estava preparado. - Nós não tivemos uma chance de conversar hoje. Não vi quando você saiu pela manhã. - É. Eu estava te evitando. Por isso caminhei até o outro hotel. - Aquela coisa do balanço não foi boa o suficiente, certo? Porque eu posso fazer melhor. - Foi perfeito. - Foi? - Acho difícil alguém conseguir fazer melhor. - Verdade? Ótimo. Isso é ótimo. Obrigado. - É. - Não é ótimo. Como um ótimo encontro pode não ser ótimo? - Porque era pra não ótimo, assim saberíamos que não era pra ficarmos juntos e tudo voltaria a ser como antes. - Eu não gosto de como era antes. - Kaley é minha melhor amiga, e também é sua amiga. Agora tem a Lena, nós nos aproximamos muito e vocês sempre foram muito amigos, e MJ, Zach... Querendo ou não, isso vai envolver todo mundo. E o que um ótimo encontro nos diz é quando der errado... - Vai dar muito errado. - Sim. E eu não quero que nenhum dos nossos amigos fique dividido por causa disso. - Então... Nós voltamos amigos? - Sim. Amigos. - Claro. Amigos – concordei, mas não me contive precisava perguntar – E se não terminar assim? E se não der errado? - Amigos. Assenti convencido e sai do quarto, deixando-a descansar. °°°°°° - Ei Cenoura, o que está fazendo? – ouvi a voz de Julian e procurei de onde ela estava vindo. - O que vocês estão fazendo aqui? Nosso hotel é do outro lado – perguntei de volta, vendo ele e Lena atravessando o playground do Riverside de mãos dadas. - Descemos no ponto errado. Julian se apavorou porque o ônibus entrou “na floresta” e me fez descer porque achou que estávamos fora do complexo – Lena respondeu um pouco irritada. - Como eu ia saber que esse hotel é tão grande que tem ponto de ônibus dentro do mato? – ele deu de ombros se justificando e ri. - Por que está cavando a areia do parquinho? – Lena perguntou curiosa. - Amber perdeu a pulseira, estou tentando encontrar. Como ela foi encontrada aqui, pensei que talvez possa ter caído na terra. - Ok, volta o filme. Como assim “ela foi encontrada aqui”? – Lena perguntou confusa – O que aconteceu? Contei a eles tudo que havia acontecido desde que saímos para os parques de manhã e quando Lena emendou querendo saber do encontro, contei o que havia conversado com Amber alguns minutos antes. Era difícil decifrar a expressão em seu rosto quando terminei de falar. - Você está dizendo que o encontro foi perfeito, que ela adorou, mas ainda assim não quer correr riscos? – Julian fez a pergunta que ela não conseguiu. - Isso mesmo. - E você concordou com isso? – ela conseguiu falar, e o seu tom de voz dizia claramente “você é maluco”. - Que outra opção eu tenho? Não posso força-la a namorar comigo. - Você podia tentar fazê-la entender que isso não tem o menor sentido. Ela é tão racional, como pode não ver isso? - O que disse faz sentido, também é racional – os dois me olharam com caras de que iam me bater e emendei depressa – Não concordo com ela, mas entendo. - Por favor, diga que você não vai simplesmente deixar pra lá. - Não vou, não desisti dela, mas eu também levei um tempo para assimilar isso tudo, não foi simples aceitar que o que eu sentia por ela havia mudado. Não esperava que fosse ser fácil pra ela, é da Amber que estamos falando, ela também precisa de um tempo pra processar tudo. - Então você tem certeza que ela vai mudar de ideia? Ou está à espera de um milagre? - Tenho certeza. - Acho que ele estar tentando achar uma agulha no palheiro aqui já respondia a essa pergunta, Julian – Lena riu. - Verdade, mas cara, você não vai encontrar uma pulseira no meio dessa caixa de areia de um gato gigante. - Tenha um pouco de fé, Corvo... – espalhei a areia perto do escorregador e vi um fio de prata brilhando. Quando puxei era a pulseira dela – Milagres acontecem, viu? Limpei a areia da pulseira e a guardei no bolso, voltando com eles a pé até o nosso hotel. Fomos conversando no caminho sobre o que poderia ter acontecido essa tarde com Amber e a suspeita de que a memória dela havia sido apagada com um feitiço, o que significava que havia sido alguém do nosso grupo. A questão era: quem havia feito isso, e com que intenção? Thursday, March 15, 2012 Jamal estava andando de um lado pro outro no nosso corredor quando abri a porta do quarto. Já estava usando uma das roupas de Leslie que havia colocado na mala ainda em Hogwarts e carregava o frasco com a poção no bolso. Também já havia colocado o fio de cabelo dela, que não foi difícil conseguir quando se divide um quarto com a pessoa. - Elas já foram? – perguntei antes de sair. - Sim, todas já saíram para o safari. Vou perguntar mais uma vez, porque acho que é a única coisa que posso fazer: você tem certeza disso? - Sim, tenho. Onde ele está? - Lá em cima, já estava terminando de se arrumar pra sair do quarto. Espere no corredor. Se você entrar naquele quarto, vou abrir a boca. - Relaxa, Jam. Ouvi bem o aviso do tio Ben, não vou fazer nenhuma besteira. Ele soltou uma risada irônica, que ignorei, e bebi a poção. A gosto era horrível e a sensação de se transformar em outra pessoa também não era muito boa. Mesmo sendo uma transmorfo, me senti incomodada. Depois de alguns segundos o formigamento passou e Jamal soltou um suspiro de desaprovação, o que significava que eu já estava igual à Leslie. Ele avisou que ia para Downtown Disney cumprir sua parte no combinado e nos despedimos quando subi as escadas. Hiro estava saindo do quarto quando pisei no corredor e sorriu surpreso ao me ver. - O que está fazendo aqui? – ele veio ao meu encontro e me beijou. Respirei fundo, não podia sair do personagem. - Mudei de ideia, prefiro passar o dia com você. Está muito calor pra fazer um safari a pé. - Que ótimo. Ia passar o dia no DisneyQuest, mas já que você está aqui, o que quer fazer? - Queria conhecer Boardwalk, podemos ir? - Como desejar... – ele sorriu e me beijou outra vez. Ele estendeu a mão para mim e descemos as escadas, pegando um dos barcos que paravam na parte de trás do hotel para chegar até lá. Boardwalk era um calçadão na beira do rio, com fachadas coloridas, toldos listrados e colunas e arcos em ascensão. A decoraçao do lugar lembrava os calçadoes do século 20 das cidades costeiras. Passar o dia ali já seria bom sozinho, mas na companhia de Hiro ficou muito melhor. Tomamos café em uma padaria na beira do rio com um senhor tocando piano bem ao nosso lado e depois alugamos bicicletas para conhecer todo o calçadão, que era muito grande. No começo estava um pouco apreensiva de dar alguma mancada, mas com o passar do dia fui relaxando e aproveitando melhor. No meio da tarde encontramos Jamal sozinho sentado em um banco tomando sorvete e Hiro parou para falar com ele, mas sabendo o que estava acontecendo, Jam logo nos dispensou e tomou o barco para Downtown Disney, onde as meninas terminariam o passeio e de onde elas não deveriam sair sem que antes ele me alertasse. O dia estava perfeito, mas tudo que é bom, dura pouco. Já estava quase anoitecendo e entramos em uma das lojas do calçadão para ver os bichos de pelúcia e cada um foi pra um lado. Estava escolhendo alguns para comprar pras minhas sobrinhas quando Hiro voltou com uma pelúcia do Zangado na mão, rindo. - Olha o que achei! – ele sacudia a pelúcia achando graça – Comprei pra levar pra Clara. - Por quê? – acho que ouvir meu nome me fez parar de raciocinar por um instante, ou minha entonação para aquela pergunta teria sido diferente. - Zangado, ela é braba e sempre a chamamos de Zangada – ele parecia estar explicando aquilo para uma criança. - Mas por que você vai comprar isso? – outra vez, se ainda não estivesse sem raciocinar, teria elaborado melhor a pergunta. - Porque ela vai achar engraçado... Les, não tem nada demais. Já falei pra você que não precisa ter ciúmes da Clara, nós somos só amigos. Somos melhores amigos e nunca vai passar disso. Não faço ideia da expressão que ficou estampada no meu rosto, mas devia ser muito ruim, porque Hiro guardou o Zangado na sacola e me abraçou, me beijando sem parar. Mas era tarde demais, eu já não estava mais animada. O passeio de repente acabou e ele percebeu que era hora de voltar para o hotel, mesmo sem saber realmente o que estava acontecendo comigo. Chegamos de volta ao hotel sem quase conversar no barco. Despedi-me dele depressa e esperei até que estivesse subindo para o 3º andar para entrar no meu quarto. Troquei de roupa cheia de vontade de chorar, mas não ia fazer isso, de jeito nenhum. Aquilo era minha culpa, se tivesse ouvido Jamal agora não estaria chateada, então eu não tinha o direito de chorar. Mas quando bateram na porta minutos depois e dei de cara com ele do lado de fora, não consegui conter algumas lágrimas de caírem. - Acabei de encontrar com o Hiro – Jamal entrou e fechou a porta, me puxando para um abraço – Não queria dizer isso, mas eu avisei que isso não ia acabar bem. - Eu sei, estou com raiva de mim mesma por não ter lhe escutado. Eu sou uma idiota, não sei o que pretendia ganhar com isso. - Você queria saber se tinha alguma chance com ele. - Bom, não tenho. Isso ficou bem claro. - Não acho que seja um caso perdido, mas você precisa escolher melhor seus planos de ataque. - O que ele contou a você? - Que você ficou esquisita quando ele comprou aquela pelúcia e que não pareceu ter acreditado quando disse que eram só amigos. - Não consegui levar isso numa boa, quase pus tudo a perder. - Não se preocupe, já fiz um controle de danos e quando a verdadeira Leslie chegar, ele não vai tentar falar nada sobre o dia de hoje. E também já me certifiquei que Leslie não pergunte a ele como foi o dia, e nem conte nada do dela. - O que você fez? - Tudo que precisa saber é que, no que depender de mim, eles não vão falar sobre o que fizeram hoje. - Você é o melhor, sabia? - É, eu sei, o que seria de vocês sem o Jamal para resolver tudo? Ele me abraçou e beijou minha testa, mandando que eu lavasse o rosto para descer com ele para o cinema ao ar livre que já estava quase começando. Sentamos na grama e quando vi que o filme que ia passar era O Rei Leão, já comecei a chorar por antecipação. Ele riu e me puxou pra perto dele, me abraçando. De relance vi Hiro assistindo ao filme da varanda do 3º andar e vez ou outra ele olhava na nossa direção, mas eu evitava olhar. As coisas já estavam ruins o suficiente, eu não precisava ficar me torturando. °°°°°°°° As meninas chegaram logo depois que o filme acabou e sem conseguir disfarçar que estava chateada, acabei contando a elas toda a verdade. As reações foram variadas: Haley ficou surpresa e disse que nunca esperaria que eu fizesse algo desse tipo; Lena não concordou com o que fiz, mas disse estar satisfeita por eu ao menos admitir estar errada; Arte ficou feliz por eu ter finalmente confessado o que sentia por Hiro a elas, mas também não aprovava a história da poção e disse que eu deveria ter coragem de falar com ele, e não enganá-lo; e Keiko, bom, Keiko deu um ataque não por eu ter enganado Hiro, mas sim por estar gostando dele. No fim acabamos esquecendo a parte ruim da história e conversando sobre como eu havia chegado àquela situação com a pessoa mais improvável do planeta. E claro, elas prometeram não contar a ninguém sobre isso, muito menos a Hiro. Acordei me sentindo melhor na manhã seguinte, mas ainda não estava o que se podia chamar de animada. Todos haviam combinado de passar o dia no Epcot e, sem apetite, enquanto todos tomavam café para sair eu sentei na calçada do pátio para esperar a hora de sair. Estava distraída vendo os esquilos correndo pelos canteiros e não percebi que Hiro havia sentado ao meu lado. Ok, eu errei, mas eu merecia mesmo essa punição? - Como foi o passeio ontem? Gostaram do safari a pé? – ele perguntou animado. - Eu não fui. Não estava me sentindo muito bem, fiquei no hotel – menti, afinal, nem sob tortura ia dizer a verdade. - Você parece triste mesmo, aconteceu alguma coisa? - Não é nada demais, não se preocupe. - Antes que eu esqueça... – ele abriu a mochila e puxou o Zangado que havia comprado ontem – Pra você. Vi ontem em uma loja em Boardwalk e não resisti. - Que engraçado você é – disse sorrindo quando ele me deu a pelúcia do anão. - Ei, fiz você sorrir. Tem certeza que não é nada demais? Não tem nada que eu possa fazer pra ajudar? Não estou acostumado a ver você com essa cara triste. - Obrigada, mas ninguém pode me ajudar. Eu vou ficar bem, só preciso de uns dias. - Clara está triste porque terminou com o James – Jamal apareceu atrás de mim e sentou na ponta do banco – Eles decidiram que era melhor assim. - De onde você saiu? – Hiro perguntou exatamente o eu tinha em mente. - Estava ouvindo a conversa, foi mal – ele me encarou e não precisei dizer nada para ele saber que estava agradecendo mentalmente por ter aparecido para me socorrer. - Achei que ele era o cara de quem você gostava. Sabe, pra namorar. Vocês nunca assumiram nada, mas sempre achei que um dia isso ia acontecer. - Estava pensando na possibilidade, confesso. - E? - Não ia dar certo. Então terminamos. - Sinto muito. - É, eu também. - James sempre foi como um relacionamento substituto pra Clara, e era isso que a dificultava de formar novos laços – Jamal comentou parecendo um psicólogo – Estava na hora de terminar e seguir em frente. - Um relacionamento substituto não é necessariamente uma coisa ruim, assim se pode evitar a dor de uma rejeição, que mesmo passando rápido, é desconfortável – completei e Hiro sacudiu a cabeça, discordando. - Olha, sinto muito pelo que houve, mas quer saber? Se James não sabe a sorte que tinha quando estava com você, é porque ele não te merece. - A grande maioria dos relacionamentos é temporário, Hiro. - Não, isso não é verdade, você está enganada. Existe um alguém para todo mundo, alguém para você passar o resto da vida junto. Você apenas precisa estar preparada para ver. Apenas isso. - Hiro? – Leslie apareceu do lado de fora do refeitório e acenou. - Tenho que ir, nos encontramos no parque? – assenti e ele sorriu, se afastando. - Quer que eu bata nele pra você? – Jamal ofereceu e comecei a rir, mas era uma risada triste – Eu bato, se me pedir. - Não precisa bater em ninguém. Vamos, se não apressarmos o pessoal, não saímos hoje – respondi batendo em sua perna e levantamos. Hiro não fazia ideia do que estava acontecendo e agora, mais do que nunca, eu tinha certeza que os meses restantes até a formatura seriam os mais difíceis que já enfrentei. Por quanto tempo mais eu aguentaria conviver em paz com ele e Leslie, sem estragar tudo? Wednesday, March 14, 2012 Orlando, Semana do Saco Cheio de 2017 Por Rupert A. F. Storm Desde que entrei pra Hogwarts, uma vez por ano via a turma dos alunos formandos, sempre estressados e raramente vistos fora da biblioteca, deixar o castelo por uma semana e voltarem completamente diferentes. Ainda passavam a maior parte do tempo estudando, mas estavam mais leves e descontraídos. Eu nunca tinha entendido como uma semana longe da escola podia mudar tanto uma pessoa, até passar um dia inteiro jogando videogame e tomando sol na beira de uma piscina. Aquela era, sem duvida, a melhor semana dos meus sete anos em Hogwarts. As meninas haviam passado o dia inteiro fazendo compras, mas o céu ainda estava claro quando voltaram e a maioria se juntou à nossa bagunça na piscina. Eu estava fugindo um pouco do sol debaixo do escorregador de dragão quando Amber apareceu com Kaley. Deitou em uma das espreguiçadeiras e abriu um livro, enquanto Kaley mergulhava. Fiquei tão distraído olhando pra Amber que não vi que Kaley estava parada atrás de mim. Quando ela botou a mão no meu ombro, levei um susto tão grande que cheguei a beber um pouco de água. - Como você consegue andar na água sem fazer barulho? - Vou arrasar em Esconderijo e Camuflagem na Academia de Auror – ela se gabou, subindo na beira do escorregador – E o que está fazendo escondido aqui embaixo? Cuidado para não babar na água, vai sujar a piscina. - Não estou babando – disse na defensiva, mas ela só riu – Só estou pensando. - Esse é o seu problema. Você pensa demais e age de menos. - Você mesma disse que eu não devia fazer nada até ter absoluta certeza do que queria! - E você já tem? – assenti e ela jogou um punhado de água na minha cara – Então está esperando o que pra agir? - E se ela disser não? - Você vai desencanar e tudo vai voltar ao normal. Não começa com os “e se”, convide-a logo pra sair e acabe com esse tormento! Faça alguma coisa antes que outro faça isso por você. Kaley subiu no escorregador e caiu dentro d’água, nadando pro outro lado e se juntando ao resto do pessoal que ainda brincava com a bola de vôlei, me deixando sozinho com as minhas incertezas. °°°°° O céu sempre começava a escurecer por volta das 19h e todos os dias, às 20h em ponto, um telão era montado no gramado em frente ao nosso bloco e eles passavam algum filme da Disney. Os hospedes que não estavam nos parques desciam com toalhas de picnic e sanduiches e se espalhavam pelo espaço para assistir ao filme, e o pessoal da nossa viagem estava sempre por lá. Pela varanda do bloco vi que o gramado já estava cheio e até tio Ben estava sentado na calçada, então desci e fui até ele. - Acho que vou me mudar pra cá – ele falou quando sentei ao seu lado. - Está falando sério? - Não. E sim. Não vou abandonar Hogwarts, mas quando me aposentar do cargo de professor, acho que aqui vai ser minha nova casa. - Tio Scott não vai gostar muito dessa novidade... – disse rindo. - Que nada, Scott é uma criança grande, ele adora isso aqui. Sabia que ele veio no ano de inauguração do Magic Kingdom com os pais e os irmãos, em 1971? E depois trouxe todos os sobrinhos, várias vezes. Foi ele quem organizou a viagem de aniversário do Nick pra cá, quando ele fez nove anos. - Tio, quando você e o tio Scott começaram a sair, como você soube que era o momento certo pra tomar uma atitude? - Quando eu tomei uma atitude, Scott me deu um soco no meio da cara – ele riu – Beijei-o na frente de todo mundo, sem um aviso prévio. Ele ficou uma fera. - Então não foi o momento certo? - Não, acho que mais como o jeito errado. Não existe um momento certo, você nunca está preparado o suficiente pra ter coragem de chamar a pessoa que você gosta pra sair. Só tem que respirar fundo e fazer. Assenti sem dizer nada e encerramos a conversa para prestar atenção no filme. Quando ele acabou, levantei da calçada e subi até o andar das meninas decidido. Tio Ben tinha razão, nunca haveria um momento certo, então só tinha que ir até lá e arrancar o band-aid. A porta do quarto dela estava aberta e ela não estava sozinha, Kaley e Lena estavam lá também. As três estavam quase desaparecendo em meio ao monte de sacolas de compras e Kaley mostrava o que tinha comprado para Lena quando bati e entrei. Não ia desistir agora, só porque tinha plateia. - Amber, você tem planos para amanhã à noite? – nesse momento Kaley largou o sapato que tinha na mão e parou pra prestar atenção. Eu não olhava pra ela, ou ia acabar desistindo. - Por que, vocês vão a algum lugar? - Não, quis dizer só eu e você. - Quer dizer, como um encontro? - Não "como um encontro". É um encontro. - Está bem. Claro. – Amber foi pega de surpresa, mas reagiu bem melhor do que eu havia imaginado. - Certo. Encontro você aqui amanhã às 20h. Não deixei que ela respondesse mais nada e sai do quarto, antes que ela mudasse de ideia ou processasse o que tinha acabado de acontecer. Tudo que precisava fazer agora era pensar em um plano para amanhã à noite, porque eu não achava que ela fosse aceitar e não tinha a menor idéia do que fazer. °°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°° Por Kaley Walker Quando Rupert saiu do quarto, a reação imediata minha e de Lena foi olhar para Amber esperando que ela falasse alguma coisa, mas logo ficou claro que ela não sabia exatamente o que dizer. Ou talvez estivesse em estado de choque. Nós estávamos um pouco. - Am? Você está ai? – disse saindo do meio das sacolas e me aproximando. - Amber? – Lena a cutucou, receosa. - O que acabou de acontecer? – Amber finalmente parou de encarar a porta e olhou para nós duas. - Aconteceu que você aceitou sair com o Rupert – Lena não conseguia conter o tom irônico – Amanhã. Às 20h. - Você está bem? – estava um pouco mais contida que Lena, mas não devia estar tão melhor assim. - Eu não posso sair com ele! – pronto, agora sim era a Amber. - Sim, você pode. E você vai! – fui enfática – Você já concordou, não vamos deixar que volte atrás! - Isso vai ser um desastre – ela sentou na cama e foi a primeira vez que vi Amber tão vulnerável – Somos melhores amigos, e se isso não der certo? Vai estragar tudo. - Se não der certo, as coisas vão ficar desconfortáveis por uns dias, mas depois tudo volta ao normal – Lena sentou do lado dela e não tinha mais o tom irônico – Rupert está pesando as mesmas coisas, ele não ia colocar a amizade de vocês em risco se não tivesse certeza que tudo vai ficar bem, independente do resultado do encontro. - Lena tem razão. Você gosta dele, mesmo que não queira admitir, então o que custa tentar? Amber não disse nada, mas também não voltou a dizer que não poderia sair com Rupert. Não demorou muito e ela entrou em pânico por não saber o que ia usar, já que não fazia ideia de onde iam. Depois de rir um bocado da situação, uma vez que nunca imaginamos que veríamos Amber Beckett em uma crise de mulherzinha, acabamos passando o resto da noite tentando ajuda-la a escolher uma roupa. Não sabia o que ia acontecer amanhã, mas uma coisa eu tinha certeza: não tinha como esse encontro dar errado. °°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°° Por Amber Beckett Rupert estava me esperando na porta do quarto às 20h em ponto. Ele sorriu quando me viu, mas era nítido que estava tão ou mais nervoso que eu. Agradeci mentalmente Kaley ter feito a gentileza de ficar dentro do quarto quando ele bateu na porta. Ainda não fazia idéia de onde íamos, mas ele também não disse nada. Enquanto ia me guiando na direção do rio, íamos conversando sobre coisas aleatórias, como se só estivéssemos andando a toa e ele não tivesse me convidado para sair. Quando percebi, estávamos no hotel vizinho ao nosso, o Riverside. Havíamos atravessado toda a estrada a pé até ele sem que eu notasse. - O que viemos fazer aqui? – não resisti e perguntei, pois não estava entendendo o que tinha lá que não tinha no nosso hotel. - É o seguinte, Amber... Eu sei que isso não é algo que você esperava e não está muito confortável. - Você não parece muito confortável também. - Sim, é verdade, e isso só deixa tudo com uma pressão maior, porque é um encontro e nenhum de nós imaginou que isso ia acontecer. - Ok, e então? Estamos aqui pra levar um cão pra passear ou algo assim? – tentei descontrair um pouco, quando vi que estávamos em um parquinho todo gramado, cercado por árvores. - Não exatamente – ele riu – Eu me lembro do que você disse sobre como sempre que estava triste quando era criança, se sentia melhor quando estava em um balanço. E que essa era a melhor lembrança que tem da sua infância. Olhei para o balanço na nossa frente e depois para ele, sorrindo. Há anos não chegava perto de um, acho que nem lembrava mais como era a sensação. Sempre fui uma criança quieta e tímida, então não tinha muitos amigos. Por não ter tido muitos amigos, brincava sozinha nos parquinhos e o balanço era o meu favorito. Adorava a sensação de voar e o vento batendo no rosto. Quando meus pais me abandonaram e fui viver em um orfanato, a única maneira de não pensar neles e rir era quando estava em um balanço. Sentei em um deles e Rupert ocupou um ao meu lado. - Sabe o que eu mais gostava de fazer? – disse depois de um tempo, já totalmente à vontade com aquilo – Enrolar o balanço e depois soltar, pra girar rápido. - Nigel fez isso comigo uma vez. Não foi uma experiência boa... – ele colocou a mão no estomago e fez uma careta – Tinha acabado de comer um pedaço de pizza, acho que pode imaginar o resultado. - Passei mal uma vez também, mas é divertido. Girei para enrolar o balanço e soltei. Tinha mesmo muito tempo que não fazia isso, porque quando ele parou, eu estava completamente tonta. Rupert segurou as cordas depressa antes que ele enrolasse de novo e fiz uma careta. - Acho que vou vomitar. - Não, não vai, ponha a cabeça pra trás – fiz o que ele falou e o enjôo passou – Você está bem? - Sim, estou melhor. - Não faça mais isso. - É divertido. Eu nunca pensei que faria isso de novo. Ele ficou parado na minha frente segurando o balanço e nos encaramos. Eu ainda estava rindo, mas logo fiquei séria. - E agora? – perguntei, embora soubesse a resposta. Rupert inclinou o corpo para frente e me beijou. E eu gostei. Friday, March 09, 2012 Sexta-feira, 9 de março de 2017. - Então não vamos ter treino? – Alvo perguntou pela quarta vez naquele mesmo dia. - Não! – Haley já estava ficando sem paciência – Vamos viajar hoje, só voltamos dia 18. Aproveitem a folga! - Isso não é justo, por que só vocês vão viajar? – Escórpio reclamou. - Porque só nós estamos nos formando. Vocês vão ter sua vez daqui a seis anos, parem de resmungar – JJ atirou uma mochila em cima deles – Coloquem no sofá. - Pra onde vocês estão indo? – Jack não reclamava tanto quanto eles, mas também não estava muito feliz por ficar pra trás. - Meninas, pra onde estamos indo? – JJ perguntou animado. - WALT! – eu respondi levantando os braços. - DISNEY! – Haley continuou, fazendo o mesmo. - WORLD! – Keiko terminou, e começamos a pular empolgados. - Não se preocupe, a gente traz um chaveiro do Mickey pra vocês – JJ bagunçou o cabelo de Escórpio, que agora estava realmente desapontado. - Atenção todo mundo, por favor! - Tio Yoshi entrou no salão comunal com uma prancheta na mão – Vou fazer a chamada dos alunos do 7º ano para sairmos para Hogsmeade, mas preciso que façam silencio. Quando ouvirem seu nome, levantem a mão e venham pra cá com a sua bagagem. Vou chamar primeiro os alunos da Sonserina e depois farei a chamada das meninas de Beauxbatons. Vamos lá: Clara Lupin. - Tchau pirralhos, até a volta! – baguncei o cabelo de Alvo e sai arrastando minha mala até tio Yoshi. Ele continuou chamando aluno por aluno e quando todos já haviam respondido à chamada e estavam prontos pra sair, liderou o grupo até o vilarejo. Tio Ben, tio George e Flitwick já estavam lá, cada um com a turma correspondente à sua casa, e também vi o diretor de Durmstrang parado com uma mala na mão e usando uma camisa havaiana pra lá de chamativa. Não vi sinal da diretora, mas também era difícil imaginar Minerva McGonagall indo para a Disney. No fim das contas, só tio Ben e o diretor Ivanovich iam na viagem, os outros estavam apenas ajudando a organizar o grupo de 120 alunos. Além deles, os únicos adultos que vi entrando no trem com a gente foram as duas sombras que seguem a Arte o tempo inteiro. A viagem de trem até Londres foi longa, mas estávamos todos tão agitados que ninguém reclamou. Os que haviam nascido em famílias inteiramente bruxas estavam eufóricos com a perspectiva de embarcar em um avião. A viagem seria à moda trouxa, então o trem nos deixou na estação do aeroporto de Heathrow e às 23h embarcamos em um voo noturno rumo a Orlando, Florida. O desembarque foi caótico, mas tio Ben e Ivanovich conseguiram controlar a galera e embarcar todo mundo em dois ônibus, com cada um assumindo o comando de um. Tio Ben ficou no nosso, enquanto Ivanovich estava com as delegações de Durmstrang e Beauxbatons. Nosso hotel, dentro do complexo Disney, era o Port Orleans French Quarter. O hotel tinha uma decoração que lembrava sempre o Mardi Gras de Nova Orleans e metade dele ficava a beira do rio. Por sorte, a nossa metade. Como éramos um grupo de 120 alunos, ocupamos quase todo o bloco 6. Os ocupantes dos quartos foram divididos ainda em Hogwarts e fiquei em um quarto com vista para o rio com Haley, Keiko e Gabriela. Arte, Lena, Lenneth e Victoire ficaram em um quarto ao lado do nosso e no quarto do outro lado estavam Kaley, Amber, Penny e Leslie. Todas as garotas estavam no 2º andar e os garotos ocuparam o 3º. Quando nossas malas já estavam guardadas, descemos para o campo gramado que tinha bem em frente ao bloco, onde tio Ben e Ivanovich já nos esperavam. - Muito bem, pessoal, antes de dispensar vocês pra curtiram a Semana do Saco Cheio em paz, quero falar algumas coisas e estabelecer regras – tio Ben começou quando todo mundo sentou no gramado e parou de conversar para prestar atenção – Primeira coisa é que essa semana é pra vocês relaxarem, tirarem da cabeça a pressão dos exames e da formatura e aproveitarem. A maioria de vocês vai se encontrar muito pouco quando a formatura passar, então aproveitem essa semana pra passarem o máximo de tempo possível com os amigos que fizeram nesses sete anos. Segunda coisa: já notaram que apenas Igor, Rin, Altair e eu viemos acompanhando 120 adolescentes, mas o professor Wade montou uma equipe de aurores para nos acompanhar também. Eles não vão seguir ninguém e nem estão hospedados nesse hotel, mas estão todos de plantão aqui em Orlando para uma eventual emergência, algo que não vai acontecer. Vocês estão dentro do complexo de hotéis e parques da Disney e toda a segurança dessa área foi reforçada com magia, incluindo feitiços anti-aparatação. Nada vai passar das barreiras criadas, o que me leva à 3ª coisa a dizer e 1ª regra: vocês estão absolutamente PROIBIDOS – ele elevou a voz no “proibidos” e algumas pessoas se assustaram – de sair de dentro do complexo. Sei que existem outros parques e atrações, mas aqui dentro vocês encontram tudo que precisam pra se divertir até cansar durante uma semana. Ninguém sai daqui e se alguém desobedecer a essa regra, eu cuidarei pessoalmente para que esse alguém não se forme em junho. - Outra coisa importante, que justifica o que Ben acabou de dizer – agora Igor começou a falar – é que não vamos ficar no pé de ninguém essa semana, vocês estão livres e soltos para irem aonde quiserem e a hora que quiserem, desde que estejam dentro do complexo. Todos vocês já são maiores de idade, quase adultos, confiamos que serão responsáveis o suficiente para cuidarem de vocês mesmos. Estaremos aqui para o que precisarem, mas só vamos intervir em algum assunto se algo sair do controle. Esperemos não precisar, afinal, também estamos de férias. - Outra coisa: meninas instaladas no 2º andar, meninos no 3º. Os quartos não são mistos – algumas risadas foram ouvidas, mas tio Ben falava tão sério que eu fiquei quieta – Se Igor e eu pegarmos alguém desobedecendo a essa regra, o casal vai ser mandado de volta pra Hogwarts e é a McGonagall quem vai lidar com o problema. Ninguém quer isso, não é mesmo? - Bom, acho que é só isso, falamos o importante. Estão livres para começarem a semana de férias, e lembrem-se que esse cartão que cada um ganhou é a entrada do seu quarto, seu dinheiro para alimentação e ticket de todos os parques, façam o favor de não perdê-los. - Uma última coisa: vocês estão no meio de milhões de trouxas, não precisa lembrá-los que seria imprudente usarem magia, não é? A Disney já respira magia, usem apenas essa durante a semana e guardem as varinhas – tio Ben guardou a sua, para fazermos o mesmo – Agora sim, divirtam-se! – ele falou animado e todo mundo levantou. Me juntei com a turma e não fazíamos a menor ideia do que fazer primeiro, mas uma coisa era certa: essa semana prometia! °°°°°°°°°° Já estávamos em Orlando há quatro dias e estava mais exausta do que nunca. Não existe treinamento no mundo que prepare você pra passar o dia inteiro andando de um lado pro outro, entrando e saindo de filas de brinquedos. Era tanta diversão que até cansava, mas não estava reclamando. Podia fazer isso o ano inteiro, por mais desgastante que fosse. Já havíamos visitado três parques seguidos e tiramos o quarto dia de folga para fazer compras. Juntamos um grupo de mais de 30 meninas e conseguimos convencer tio Ben a nos acompanhar em um Outlet. Ele resistiu no começo, mas acabou cedendo. Saímos do hotel 9h, com quatro dos aurores que estavam de plantão na cidade no ônibus, e chegamos lá quando as lojas abriram. Tio Ben sentou no banco da praça de entrada e disse que estaria esperando todo mundo ali às 17h, e que se alguém não aparecesse ia ser mandava de volta pra Hogwarts. Levamos ele muito a sério, então quando ele não falou mais nada, cada uma correu pra um lado pra dar tempo de fazer tudo. Keiko parecia uma máquina de comprar, entrava em todas as lojas e passava horas experimentando roupas, saia sempre com os braços carregados de sacolas. Tio Sergei ia ter um ataque cardíaco quando a fatura do cartão de crédito chegasse lá no Japão. Lena foi outra que pirou. Diferente de Haley, que estava acostumada a comprar enlouquecida quando saia com tia Alex, ela ficou perdida no meio de tantas lojas. Não sabia onde entrar primeiro ou o que levar. Achava que ela ia entrar em colapso a qualquer minuto. Arte e eu também não ficamos muito atrás das compras compulsivas. Rin e Altair, que não saiam de perto dela, estavam servindo de carregadores de sacola. Rin estava achando tudo muito natural, mas Altair estava apavorado com a quantidade de roupas que estávamos comprando. Quando Keiko saiu de dentro de uma loja com 15 pares de calças jeans, ele perguntou se ela estava querendo revender em Hogwarts. Vez ou outra esbarrávamos com as outras meninas pelos corredores. Kaley passou por nós perto das 14h arrastando uma mala pesada de tantas sacolas, enquanto Amber vinha andando ao seu lado com duas sacolas cheias de sapato, e Penny já estava usando um tênis novo que tinha comprado, mais apropriado para caminhadas longas – como aquela, por exemplo. Às 17h em ponto todas estavam no lugar marcado por tio Ben nos levou de volta para o hotel. Pela quantidade de bolsas que entraram no ônibus, todo mundo ia precisar de um bom feitiço indetectável de extensão para fazer tudo caber na única mala que nos deixaram trazer. Quando chegamos de volta ao hotel, o sol ainda estava a toda e os meninos continuavam na piscina, então larguei as bolsas no quarto, coloquei o biquíni e corri pra lá. A área era excelente e o sol estava tão gostoso que tudo que eu queria era passar o restinho do dia deitada na espreguiçadeira vendo o pessoal jogar vôlei na água e olhando os barcos passando no rio logo atrás dela. Deitei ao lado de Jamal, que devia estar pensando a mesma coisa, e ele tirou os óculos escuros para me cumprimentar. - Compraram todo o outlet? – ele perguntou já rindo. - Quase tudo. Deixamos um pouco pra vocês. Passaram o dia todo na piscina? - Não, fomos no DisneyQuest de manhã. Sabia que aquilo tem cinco andares de vídeo game? - Já tinha lido sobre isso, preciso ir também. Sheldon não sai de lá, não é? - Obvio. Acho que ainda não o vi em nenhum parque até agora. - Vou arrastá-lo comigo pro Magic Kingdom amanhã. Se o conheço bem, ele vai adorar o parque. Não vou deixá-lo passar uma semana aqui dentro de um galpão de jogos eletrônicos. - Cuidado pra ele não corromper você. Hoje Hiro deveria ter completado nosso time de vôlei, mas Sheldon conseguiu prendê-lo o dia inteiro lá. Tivemos que chamar um hóspede que estava perdido por aqui pra jogar. - Falando em Hiro... O que você vai fazer na sexta? - Por quê? – ele perguntou desconfiado, seu semblante foi de descontraído a sério em um segundo. - Preciso que fique de olho na Leslie pra mim, ela não pode voltar do passeio com as meninas antes da hora. - Você continua com essa ideia na cabeça? - Claro que sim, porque iria mudar de ideia? - Ah, perdão, fui louco de pensar que você criaria juízo de uma hora pra outra! - Pare de dar ataque, tenho tudo sob controle. A poção está pronta e trouxe na mala, já estava preparando uma para a aula de poções antes de querer usá-la, então finalizei essa semana. - O que eu tenho que fazer? - Só segura ele aqui no hotel até eu chegar, e depois se certifique que ninguém volte antes da hora. Se houver alguma emergência, dê um jeito de me avisar. Jamal resmungou qualquer coisa que não consegui entender e colocou os óculos de novo, voltando a encarar o rio atrás da piscina. Eu sabia que era arriscado e um pouco maluco, mas estava disposta a seguir em frente. Eu tinha tudo sob controle, o que poderia dar errado? |