Saturday, August 30, 2008 A verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta nos momentos de conforto e conveniência, mas como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafios. Martin Luther King - Remo, nós ainda temos alguma cópia do livro do Quintino Trimble? – George perguntou por cima do balcão - Não, você vendeu todas as cópias ontem – Remo respondeu – Já pedi outra remessa, mas só deve chegar semana que vem. - Ok, obrigado – ele saiu e caminhou até o homem parado estudando alguns artefatos na vitrine – Senhor Kirk, infelizmente não tenho disponível nesse momento, mas posso lhe avisar assim que chegarem novos exemplares – George falava bastante a vontade com o cliente – Eles estão fazendo muito sucesso, me deixaram sem cópias ontem. - Tudo bem, rapaz. Avise-me assim que chegarem e venho aqui buscar. O homem se despediu e George o acompanhou até a porta. Já estava trabalhando na loja do avô há quase uma semana e já se sentia em casa. Decorara com absurda rapidez tudo que tinham para venda e estudou alguns dos livros expostos nas estantes, se preparando para possíveis perguntas. George estava se saindo tão na loja que no 3º dia já se sentia a vontade para dar sugestões aos clientes que apareciam e, com uma conversa agradável, os faziam levar mais do que planejavam. Mas era o último dia que poderia ajudar o avô, voltaria para Hogwarts na manhã seguinte. - Esses livros fizeram mesmo sucesso, não é? – comentou divertido, encostando-se ao balcão onde Remo estava. - É verdade, mal pararam nas prateleiras. Mas isso também teve um pouco da sua ajuda, fez tanta propaganda dele que as vendas estouraram – riu - Mas o livro é bom, você leu? O cara é fera, sabe tudo sobre defesa. Qualquer pessoa que ler esse livro pode sair por ai encarando dementadores, comensais e o que for! - Vou tentar ler quando chegarem os novos. E como está seu avô? - Ah, está melhorando, na medida do possível... Queria vir aqui hoje, mas Louise quase teve um ataque histérico com a idéia e ele sossegou – disse rindo. - Vai ser um longo mês... – ele olhou ao redor conferindo se tinha terminado o que estava fazendo – George, se você quiser ir embora mais cedo hoje, pode ir. Não tem tanto movimento assim, posso dar conta sozinho e Louise disse que viria agora no fim do dia. - Ah, não me importo em ficar. Estou até gostando de trabalhar aqui. - Mas hoje é seu último dia em casa, quando chegar a Hogwarts amanhã, pode dar adeus às horas livres. É seu ano de N.O.M.s, não é? - Nem me lembra! E ainda temos o campeonato de quadribol, estamos nas quartas-de-final e o jogo é daqui a duas semanas, na Alemanha. - Dessa vez não vou poder assistir, mas vou torcer por vocês. Tenho certeza que chegam à semifinal. E já sabe que carreira vai seguir? Essa é a primeira coisa que McGonagall pergunta na orientação vocacional. - Já pensei em tudo, mas não decidi ainda. Espero que ela me ajude na hora da minha entrevista. - Bom, se não chegar a um consenso, pode sempre trabalhar com o seu avô. Você leva jeito, ele ia adorar. - Essa não é uma má idéia – George olhou a loja vazia e bagunçou o cabelo, bocejando – É, acho que vou seguir seu conselho e aproveitar meu último dia livre. Se correr ainda pego meus amigos no Hyde Park. George juntou suas coisas na mochila e se despediu de Remo, agora só o veria outra vez em Julho. Louise abriu a porta antes que ele chegasse até ela e George passou como um furacão, rindo por tê-la assustado. - Vai tirar o pai da forca? – ela gritou indignada - Não, mas se bem que sem mim, o time deve estar se enforcando. Vou salvar aquele bando de trouxas de perderem no rúgbi. Vejo você em casa, mana! – George gritou de volta rindo, correndo pelo beco diagonal. - O que aconteceu aqui? – ela fechou a porta com uma expressão confusa e Remo riu – Quem era aquele menino sorrindo e o que ele fez com o meu irmão rabugento? - Seu irmão rabugento ficou na travessa do tranco, quando seu avô enfartou – Remo a abraçou lhe dando um beijo – O garoto que saiu daqui agora é o George que conheci há 5 anos, quando foi selecionado pra Grifinória. - Ele não foi à reunião. Ficou a noite toda no hospital, pensativo. – Louise comentou parecendo aliviada - Também não sai de lá, me dividia entre vigiar ele e o vovô, não preguei o olho um segundo sequer. - O enfarto o abalou mais do que você imagina, não achei que ele fosse ter coragem de ir - Como ele está se saindo aqui? – perguntou preocupada – Mal tive tempo de ficar com você nessas férias, fiquei o tempo todo ajudando em casa. - Tudo bem, não tem problema – a abraçou outra vez e beijou sua testa – George se saiu muito bem aqui essa semana. Chegou ainda um pouco assustado com o que aconteceu, mas disposto a ajudar. Ele se assustou, percebeu que se alguma coisa acontecer com o avô de vocês, tudo isso fica pra vocês dois e ele não ia saber o que fazer. - Ironia dizer que o enfarto do meu avô teve um saldo positivo... - Só me preocupo com uma coisa... George sabe muito mais do que demonstra sobre defesa, mas também sabe bastante coisa sobre arte das trevas. Conhece muitas maldiçoes, assim como a maneira certa de repelir cada uma delas. É ao mesmo tempo bom e ruim. - Eu não sei o que fazer, Remo – Louise soava derrotada pela primeira vez – Não sei como ajudar, não sei como impedir alguma coisa. Não posso ficar de braços cruzados, mas não sei o que devo fazer! - Olha, eu sei que esse não é o que você quer ouvir agora, mas não faça nada – ela o olhou espantada, mas não interrompeu – Dê uma chance, pois não acredito que George vá até o fim com isso. Não é do feitio dele, seu irmão nunca foi de seguir a cabeça dos outros, sempre pensou por conta própria. Fique apenas por perto, não se distancie dele, e deixe que ele mesmo recue. George não vai se tornar um comensal, eu sei que não. Louise encarou o namorado alguns segundos sem responder, mas concordou. Não era reconfortante ter que esperar sem agir, mas se Remo confiava que George fosse fazer a escolha certa, sabia que poderia dar esse voto de confiança. Ia se aproximar do irmão outra vez e tentar ajudar da maneira que sempre fez: ficando ao seu lado para o que precisasse. Sunday, August 24, 2008 I know life is gonna knock you down more and more And it's gonna hurt sometimes that's for sure I know you wanna fight the world and that's okay But listen here my granny said smile ‘cause The world looks better that way Dan Torres - Smile Everyday Desembarcamos em King’s Cross de manha cedo para o nosso último recesso antes da formatura. Karen, que decidiu passar a páscoa em casa conosco, veio no trem junto com os alunos e assim que desembarcamos já tinha um carro do Ministério nos esperando. Segundo uma carta do nosso pai, passaríamos o feriado na casa da nossa avó, em Londres mesmo. - Olá Oswald, bom dia! – cumprimentei o segurança animado - Bom dia, Sr. Scott – respondeu um pouco sério, diferente do normal – O Ministro já está à espera dos senhores em casa. Faremos apenas uma parada para pegar o Sr. Wayne no caminho. - Ok... – entrei no carro olhando para Megan, confuso – O que deu nele? Nunca vi o Oswald sério assim... - Não estou com um bom pressentimento – Karen comentou sentando ao nosso lado assim que Oswald fechou a porta - Ele deve estar num mau dia, só isso – Megan disse despreocupada – Ânimo, crianças. É páscoa, e na casa da vovó. Sabem o que isso significa, não é? - Que vamos regredir e ter que vasculhar o quintal se quisermos comer chocolate? – Karen e eu falamos ao mesmo tempo - Sim! E isso não é bom? – a empolgação de Megan nos contagiou e começamos a rir O motorista saiu com o carro e demos um passeio por Londres até chegar à Academia de Aurores. Wayne já estava de mochila nas costas nos esperando e já naquela primeira imagem era possível ver como meu irmão havia mudado desde que se formou. Ele se despediu de Quim e entrou no carro sorridente. Foi o resto do trajeto todo contando como estavam os treinamentos na academia e de como estava progredindo a cada dia. Megan, que queria entrar pra academia depois da formatura, ouvia atenta a cada palavra que ele dizia. Quando percebemos, já estávamos estacionando na casa da nossa avó materna. ººº - Eu bati – Wayne insistiu - Não bateu! – Retruquei - Vou bater em você daqui a pouco... – Respondeu sem paciência - Mal perdedor! – Provoquei - Eu não perdi! - Oh meu Merlin, parem! – Karen atirou uma almofada e as cartas voaram pra todo lado – Estão tirando minha concentração! - Agora não vamos saber quem bateu de verdade. Valeu, Karen! – Wayne resmungou levantando da mesa - O que está fazendo que precise de concentração? – sai da mesa também - Escolhendo a trilha sonora da festa de formatura – Megan respondeu por ela – Quer ajudar? Você já foi a Nova York, conhece mais musicais que eu. - Colocou as musicas do West Side Story? – já sentei entre elas e puxei a prancheta pra mim – Não pode faltar! - West Side Story, anotado... – Karen rabiscou em um pedaço de papel e sorriu – Aqui, vê o que já temos e dá sua opinião. Comecei a ajudar Karen e Megan com as musicas e logo esse se tornou o assunto predominante da tarde, pois até Wayne veio nos ajudar. Ao contrario do que Oswald disse, nossos pais e nossos avôs não estavam em casa. E como ninguém nos disse quando chegavam, esperamos pacientemente acomodados nos sofás macios da sala. Não sei quanto tempo passou, mas o céu já dava indícios de que ia escurecer quando ouvimos movimento no hall de entrada. Era nosso pai, mas somente ele. - Ah até que enfim alguém deu sinal de vida! – Karen levantou para cumprimentá-lo e fizemos o mesmo – Começávamos a pensar que tinham decidido passar a páscoa na Suécia e esquecido de nos avisar. - Pai, está tudo bem? – perguntei receoso ao ver que ele sorria meio amarelo - Sentem, por favor – ele indicou o sofá com a mão, mas não me mexemos – Preciso conversar com vocês, por favor, sentem. Continuamos de pé mais algum tempo, mas papai sentou parecendo exausto no sofá e nos vimos obrigados a fazer o mesmo. Ainda não sabia o que estava deixando ele assim, mas já não estava gostando. Ele fitou o chão alguns segundos e quando nos encarou, tentava sorrir, mas em vão. - Pai, cadê a mamãe? – Megan falou antes dele – Vovó, vovô? Onde estão todos? - Martha e Jeffrey estão com sua mãe – respondeu pacientemente – Ela está no hospital - O QUE? – falamos os quatro ao mesmo tempo - Por que hospital? O que aconteceu? Ela está bem, não é? Foi algum acidente? – Wayne e Karen se atropelavam nas perguntas - Se acalmem, deixe-me terminar de falar – ele fazia sinal com as mãos e nos calamos – Isadora está bem, por enquanto. Há mais ou menos um mês ela se sentiu mal e com alguns exames foi diagnosticado que ela estava com câncer no pulmão – íamos interromper, mas ele ergueu as mãos de novo e não falamos – Assim que descobrimos demos inicio ao tratamento e tudo está indo bem, mas hoje cedo ela se sentiu mal e precisou ir para o hospital. Já está se sentindo melhor, mas me pediu que contasse a vocês antes que a encontrassem. Pronto, podem perguntar agora. - Por que não nos contaram antes? – Karen disparou logo - Sua mãe não queria que algo assim fosse contado por carta, queria que fosse pessoalmente - Mas podiam ter nos chamado na escola, iríamos para casa na mesma hora! – retruquei e eles me apoiaram - Não havia necessidade de deixá-los preocupados no meio das aulas, vocês viriam para casa logo depois. - Como ela está? – Megan tinha os olhos cheios de lagrima, mas não queria deixá-las cair - Está melhor agora, e quer vê-los. Vim aqui buscá-los. Eles levantaram do sofá devagar, mas continuei sentado. Não conseguia me mover, era como se a noticia que papai tinha dado fosse um pedaço de concreto, que impedia que saísse do lugar. Somente quando eles já estavam na porta e Wayne voltou para me chamar foi que consegui sair. Fomos mudos até o hospital, ninguém tinha vontade de conversar e não havia necessidade também. Entramos na ala da oncologia e vovó estava saindo do quarto na hora que íamos entrar. Ela fechou a porta antes que mamãe nos visse e sorrindo, abraçou cada um de nós. - Desfaçam essas caras de enterro, minha filha ainda está viva – disse formando um sorriso no meu rosto com os dedos - Vovó, a gente não... – Wayne começou a falar, mas ela interrompeu - Wayne Stuart, sua mãe está passando por um momento difícil e sofrendo com a quimioterapia, e tudo que ela precisa nesse momento é que os filhos dela entrem naquele quarto com expressões confiantes. Se entrarem com essas caras derrotadas, ela vai se abalar e isso não pode acontecer. - Sabemos que é difícil, que isso não é algo que se peça numa hora como essa, mas a avó de vocês tem razão. Isadora precisa ver vocês confiantes – papai falou apertando o ombro de Megan, tentando transparecer calma - Se forem entrar assim, não vou permitir. Sorriam e deixem-na feliz. E nossa programação de páscoa não será alterada. Isadora vai ter alta mais tarde, e pediu que não mudássemos nossa rotina. Amanha teremos caça aos ovos de chocolate – vovó sorria confiante e me vi obrigado a fazer o mesmo, embora não quisesse. Meus irmãos compartilhavam do pensamento comigo, mas sorrimos assim mesmo e ela abriu a porta – Assim está melhor, podem entrar. Entramos no quarto devagar, como se estivéssemos com medo de que passos pesados fossem machucar nossa mãe. Ela abriu um sorriso assim que nos viu e abriu os braços. Como vovó mandou, não deixamos o sorriso morrer e conversamos com ela como se ela estivesse ali para um exame de rotina. Por muitas vezes senti vontade de chorar e sair dali, mas me mantive firme. Mantive-me firme na posição que me foi imposta, sorrindo, quando queria fazer tudo, menos sorrir naquele momento... Friday, August 22, 2008 Do diário de Alexandra McGregor - Nesta foto, Alex, você estava aprendendo a girar um bambolê... - Não, vovô, eu achava que era uma roda de carro, até fazia os barulhos...Estava atropelando a minha boneca, já tinha conseguido arrancar o braço dela. - respondi. - É, você tinha uns 3 anos, e sempre gostou de brincadeiras mais agitadas do que tomar chá com as amigas. - disse meu avô enquanto estávamos sentados no chão da sala vendo fotografias antigas. Era meu último recesso de Páscoa, antes de me formar e tudo parecia diferente. - Que lindinha, você estava sem os dentinhos da frente... - Onde isso? Lembro-me dessa, ganhei um galeão da fada do dente. Fiquei rica. - É e depois disso, a “fada” teve que dar galeões para todos os seus primos quando perdiam um dente. Quase fui à falência. - Ah, vovô, e eu achando que a fada do dente nos visitava de verdade, agora acabou o mistério. - rimos. - Há muito tempo não via estas fotos... Olhei para a foto que vovô segurava e fiquei emocionada: era uma foto da minha mãe comigo. Eu não devia ter mais de um ano de idade. - Mamãe e...- Ao lado dela havia dois homens: Connor, loiro, e com um jeito cativante de sorrir, o homem que eu sempre achei que fosse meu pai, e seu irmão Kyle, moreno de olhos cinzentos e um pouco frios, que descobri depois ser meu pai verdadeiro. Ele após olhar as fotos comentou saudoso: - Sabe você tem muito deles. Os cabelos de sua mãe, mas o jeito de rir debochado é do seu pai... - A qual dos dois homens você se refere vovô, ambos são seus filhos. - disse tentando disfarçar a mágoa e virava a foto aonde as imagens iam de um lado a outro. - Connor tinha olhos cinzentos e cabelos castanhos, mas Sarah, tinha os cabelos negros, e lindos olhos azuis. Pareciam dois lagos calmos, mas quando ela se irritava, via-se isso nos olhos, ficavam escuros. Nem mesmo Virna, ousava provocá-la nestas horas. Você tem o gênio dela. - Mas e os meus olhos verdes? O pai do Dylan, tinha olhos iguais aos seus. Ou será que há mais alguma coisa que eu não sei...- insisti e ele me olhou um pouco constrangido, mas disse firme: - Sei o que está passando por esta sua cabecinha, porém tenha certeza que você é minha neta, nunca duvide disso. Minha mãe era uma O´Dell, de Donegal, e você tem os olhos dela. Considere isso um presente, pois ela era uma mulher especial, uma ótima mãe. De todos os descendentes dela, somente meu sobrinho Bryce, tinha olhos verdes e agora você. Veja, aqui tem uma foto dele...- e me mostrou uma foto onde aparecia um jovem bonito, com jeito indolente, de cabelos claros e olhos que pareciam verdes. Sabe aqueles garotos que a gente olha e pensa: ‘ele é encrenca’, mas não consegue se afastar? Esta era a expressão que via naquele rosto sorridente. Sorri de volta: - Nossa, ele era bonito. Devia arrasar corações... - Ah, Bryce era um ótimo garoto, inteligente... Era auror... - Auror? Porque não fico chocada?- e vovô riu e continuou: - Era um jovem idealista, e quando se formou na Academia, queria fazer a diferença. Desapareceu em ação, durante a segunda guerra, queria ajudar a proteger aos trouxas. Meu irmão Clive e sua esposa Marion, nunca superaram isso, e perderam o gosto pela vida, morreram alguns anos depois. Ele era filho único. - Mas você e vovó perderam os dois filhos no mesmo dia... Como suportaram? - Mas tínhamos você e os meninos, que mesmo com a mãe presente precisavam de nós. Não podíamos nos dar ao luxo de desistir. - E puxou mais fotos e riu com uma em particular, mostrava um dia das bruxas muito animado: - Nesta você está fantasiada de princesa do mar, você enlouqueceu sua avó, e ela fez a roupa do jeito que você queria, afinal você não queria ser uma sereia. 'Isso seria muito comum', nas suas palavras. - rimos e eu olhei para a foto, que mesmo em preto e branco dava para ver as várias conchinhas e estrelas do mar, penduradas na saia do vestido e enfeitando a coroa. Eu devia ter uns 3 anos naquela foto, e vovô continuou falando: -... E Kyle estava de pirata, Dylan vestiu-se de médico trouxa. Ele sempre quis ser curandeiro. Lembra quando você era pequena, devia ter uns 8 anos, e cortou o pé, num caco de vidro? - Aai se lembro, aquilo doeu muito. Acho que foi a primeira vez que desmaiei na vida. Só me lembro de acordar aqui em casa...Dylan foi um herói, me trazendo para casa. - Dylan? Não foi ele que cuidou de você. Foi o Kyle que a encontrou e a trouxe você nos braços. Ele devia ter pouco mais de 12 anos. Foi à primeira vez que vi, aquele garoto assustado com alguma coisa. Ele sempre a olhou diferente, mesmo quando pequeno, eu devia ter cuidado melhor de vocês dois. - Não gostaria de falar disso vovô... - E eu respeitei seu desejo até agora, mas depois do enfarto resolvi que não vou guardar nada que me preocupa e vocês me preocupam. Quero que de alguma forma, voltem às boas... Olhei para ele e ele me pediu que esperasse: - Sei que devia ter contado sobre os seus pais. Mas eu sempre admirei o jeito que os meninos cuidavam de você e achei que era um amor de irmãos. Na verdade, eu quis achar isso, pois seria mais fácil para mim entende? Não teria que me confrontar com a realidade. Peço que me perdoe. - Não há o que perdoar, vovô. Se alguém errou, fomos eu e Kyle. As pessoas sempre falaram que primo e prima era uma coisa bizarra, devíamos ter ouvido. Ok, eu sei que na nossa família há vários casamentos entre primos, mas não tão próximos quanto eu e ele. Mas isso agora é passado, cada um de nós seguiu em frente e eu estou apaixonada pelo Logan, planejo um futuro com ele, vou ter uma carreira de auror, como várias gerações de McGregors... -Gosto do Logan, ele é forte, íntegro e vem de boa família. Vocês me darão bisnetos fortes e saudáveis. Mas isso não é o bastante. Quero que você e Kyle voltem a ser amigos, sei que não vai ser igual a quando eram pequenos, mas não quero morrer com vocês afastados deste jeito, precisam um do outro, são família, e vão trabalhar na mesma área. - Kyle não precisa de ninguém vovô. Ele sempre deixou isso claro, e você não vai morrer... - Prometa Alexandra... - e ele segurava meu rosto para que eu não desviasse os olhos: - Está bem, não sei quanto tempo vai demorar, para que eu e Kyle voltemos ao que era antes, mas está bem: Prometo! Quando você ficou tão intransigente assim? - e ele me soltou aliviado. - Aprendi uma ou duas coisas naquele hospital...- ele respondeu piscando - Vamos voltar às fotos? Podemos aproveitar e montar alguns álbuns...Tem fotos de várias pessoas que não conheço por aqui. E é impressão minha ou vovó está de pernas de fora nesta foto?- disse mostrando uma foto onde uma mocinha usava um maiô, dos anos 20. Não demorou muito e minha avó se juntou a nós e adorou a nossa idéia de organizar as lembranças e fotos. Ela contava as historias das pessoas da família que eu não conheci e ia identificando quem era parente de quem. Notei que depois da minha promessa, meu avô pareceu aproveitar mais nosso tempo juntos e não se constrangia mais em falar do Kyle na minha frente. Um dia tudo voltaria ao normal, bastava ter paciência. Monday, August 18, 2008 - Louise, você viu seu irmão? – vovô perguntou abrindo a porta da loja – George? GEORGE? Ele saiu, tenho certeza que o vi sair! - Vovô, espere, preciso falar com você – corri até a porta – É sobre o George... - Depois, querida. Deixe-me encontrar seu irmão primeiro! – e saiu da loja apressado, gritando pelo meu irmão. Virei para Remo, que me observava por trás do balcão - Lou, você precisa contar a ele – disse sério – E precisa ser agora, a reunião é hoje à noite. Amanha será tarde demais. - Eu sei, mas não consigo ficar sozinha com ele! – ele continuou me olhando sério e fiz como quem ia chorar, cansada – Ok, ok, estou indo atrás dele! Sai da loja correndo e me misturei às pessoas que passeavam pelo Beco Diagonal. Era o segundo dia do recesso de páscoa e hoje tinha vindo atrás do vovô para ajudar na loja, mas minha intenção mesmo era contar a ele o que George estava planejando para mais tarde com seus amigos, só que ainda não tinha conseguido falar. Remo me pressionava para contar logo e tentava encontrar um meio de começar a conversa, mas meu tempo estava esgotando. Tinha muito gente caminhando pelos becos estreitos e já havia perdido meu avô de vista, mas mesmo assim desci a rua. Um pouco mais à frente, perto da entrada para a Travessa do Tranco, tinha uma pequena aglomeração. Estiquei o pescoço curiosa e vi meu avô deitado no chão, George ao lado dele. - VOVÔ! – sai empurrando as pessoas desesperada e me abaixei ao lado deles – O que aconteceu? Ele caiu? O que você fez? – falei em tom acusador - Eu não fiz nada! – George se defendeu, olhando apavorado para o vovô caído no chão - Ele simplesmente caiu? - Sim! Ele me chamou, eu olhei, ele fez uma cara estranha, levou a mão ao peito e caiu! - Vá chamar ajuda no St. Mungus, anda! – gritei nervosa e George correu para dentro da loja mais próxima para usar a lareira Fiquei segurando meu avô quase desacordado no chão e tremia da cabeça aos pés, fazendo força para não chorar. Ele não conseguia respirar direito e quando o socorro enfim chegou, ele já estava desacordado. George e eu fomos com ele na ambulância e não trocamos uma única palavra no caminho, apenas encarávamos nosso avô na maca, inconsciente. ººº Vovô já estava sendo atendido há bastante tempo e ninguém nos dava noticias. Já havia procurado uma lareira para avisar ao Remo o que tinha acontecido e George já tinha avisado ao vovô Henry o que estava acontecendo, e ele já estava conosco. Não conseguia ficar sentada, estava nervosa, e andava de um lado para o outro. Quando o curandeiro que o atendeu saiu da sala, cheguei a sentir meu coração disparar. Tinha medo do que poderia ouvir. - E então, Doutor? O que aconteceu? – vovô Henry se adiantou e fomos nos aproximando devagar, receosos. - O avô de vocês sofreu um infarto – disse calmo e George e eu nos olhamos assustados – Ele está bem, fiquem tranqüilos – acrescentou depressa – Por sorte, dessa vez não foi grave. - Mas infarto é sempre sério – vovô Henry falou preocupado - Sim, é algo para se cuidar a partir de agora. Ele precisa de repouso absoluto por um mês. Nada de se aborrecer ou fazer esforço físico. - Pode deixar, não vamos deixar ele se cansar e nem fazer nada em casa – falei ainda um pouco nervosa, mas aliviada por ele estar bem - Ele está acordado, podem vê-lo se quiserem... Ele indicou a sala certa com a mão e vovô e eu entramos, mas George ficou para trás. Ele estava deitado com os olhos quase fechados e tinha um tubo de plástico no nariz ajudando a respirar, mas sorriu ao nos ver. Minha mão ainda tremia quando ele esticou a dele para que eu a segurasse. - Tente nao falar nada vovô, você precisa descansar – falei depressa, parando de tremer um pouco - Que susto, hein John! – vovô Henry parou ao meu lado – Quando receber alta, vai ficar lá em casa conosco. Abigail e eu temos o prazer de ajudar. - Não quero dar trabalho – vovô falou com a voz fraca - Trabalho você vai dar se ficar em casa – vovô Henry respondeu – E isso não é um convite, é um aviso. - Obrigado – ele agradeceu sem graça e olhou para o lado – Onde está George? Olhei ao redor e vi que meu irmão ainda não tinha entrado. Ele estava do lado de fora nos observando pelo vidro, estático. Quando viu que vovô procurava por ele, entrou no quarto. George se aproximou da cama e me afastei, vovô Henry veio atrás de mim. Quando estávamos fora do quarto, olhei rápido pelo vidro e vi George de pé ao lado do vovô e ele segurava sua mão com força, enquanto falava. Meu irmão ouvia em silêncio e, de repente, começou a chorar. Continuei observando os dois sem perceber que estava parado no meio de um corredor, imaginando o que estavam conversando. George secou as lágrimas e balançava a cabeça, concordando com o que ouvia. E o que quer que fosse ele sempre ouvia o que o vovô John diz, e esperava que a conversa fosse sobre o que tanto me preocupava... |