Monday, August 31, 2009 Depois do estranho dia em que quebrei um braço e um vidro sem fazer qualquer tipo de esforço, mamãe me levou ao hospital para fazer uma série de exames, a pedido do papai. O que quer que eles tenham conversado, não parecia ter passado a ela o mesmo nível de preocupação, mas ela fez o que ele pediu assim mesmo. Os exames não deram em nada, como ela parecia já esperar, e me vi perdendo horas do resto das minhas férias tentando encontrar uma resposta fora do comum para explicar os incidentes. Mau jeito e vidro rachado não estavam me satisfazendo, e a situação piorou quando resolvi decidir aquele impasse com uma melhor de cinco. Dois dias depois do ocorrido, quando minha mão estava inteiramente curada e me livrei das bandagens, fui até a cozinha pegar alguns talheres na gaveta e me tranquei no quarto. Estava me sentindo uma idiota sentada na cama rodeada de garfos e colheres, mas esse sentimento evaporou quando apertei uma colher com uma das mãos e ela se entortou de imediato. Não sabia exatamente qual a melhor reação diante daquilo, não sabia se deveria entrar em pânico ou gostar da idéia de ser mais forte do que jamais imaginei. Graças aos talheres retorcidos, me vi presa em uma rede de teorias mirabolantes. Gastava tanto tempo tentando chegar a uma conclusão que esqueci de arrumar o malão para voltar a Hogwarts, e quando percebi já era 1º de Setembro e minhas coisas ainda estavam espalhadas pelo quarto. Gabriel me acompanharia até Londres, junto com Nick e tio Ben, pois partiria para Paris em seguida. Já estava atrasada tentando empurrar meus livros por cima das roupas e ele entrou no meu quarto, batendo no relógio. - Ainda vai demorar muito ou vamos precisar pedir autorização para outra chave de portal ao Quim? – falou parando na porta e vendo minha correria. - Não precisa, já estou terminando! – falei meio esbaforida, correndo de um lado pro outro. - Por que não arrumou isso antes? – ele entrou e começou a me ajudar. - Estive ocupada, esqueci do malão – não menti, estava mesmo ocupada. Estava ocupada ficando louca. - Por favor, não me diga que ainda está pensando na história do vidro? – ele riu meio sarcástico e o encarei de cara feia. - Gabriel, não foi normal o que aconteceu! – lancei um olhar para a porta e baixei a voz – Sabia que entortei cinco talheres dois dias depois? - Como assim? – pela reação, não sabia – Está me dizendo que tem a força do Seth ou do tio Lu? - Não, senão teria esfarelado o osso do Rafael, mas tenho alguma força, olhe. Larguei os livros em cima da cama e parei ao lado da mesa do computador. Era de madeira, mas bastante resistente. Encontrei um ponto onde pudesse quebrar sem causar muitos danos e fechei o punho, aplicando um golpe certeiro. A madeira nem se moveu, mas minha mão inchou rapidamente. Gabriel correu para me acudir quando comecei a pular pelo quarto sacudindo a mão vermelha, dividido entre ver o estrago e prender as risadas. - Eu juro que entortei aqueles talheres – falei vendo que ele já não prendia mais o riso. - Eu acredito em você, mas não precisava socar a madeira. Sorte não ter quebrado a mão. - Não entendo... - Desapontada? – dei de ombros em resposta e ele riu outra vez – Qual era a sua teoria? - Ando variando entre Clark Kent e James Howlett. - Acho que está mais pra Peter Parker, porque aparentemente você perdeu seus poderes – o tom dele agora era de puro deboche, mas o conteúdo daquela conversa não poderia ter outro tom – E fala sério, Clark Kent? Você sentiu dor quando se cortou, não? - Sim, mas logo passou. - Então acho que isso nos leva ao James Howlett. Já checou se tem garras de adamantium? Estiquei as mãos e as avaliei por alguns segundos, como se realmente esperasse que garras surgissem de repente, dando de ombros quando nada aconteceu. Ele riu mais ainda e acabei rindo também. Se alguém ouvisse aquela conversa, sem duvida mandaria nos internar. - Ok, chega desse papo de maluco, temos que partir em 10 minutos – ele agitou a varinha e de repente meu malão estava pronto – E chega de ler gibi. - Só queria entender o que aconteceu, ainda não faz sentido. - Concordo, não faz mesmo, mas não fique pensando nisso – ele fez meu malão levitar e me segurou pelos ombros – Já provou que também pode não quebrar coisas, então esqueça isso. A noite vai estar em Hogwarts e aposto que nem vai se lembrar disso tudo. - Duvido muito – falei olhando para a mão ainda inchada e ele riu. - Vamos embora, Wolverine. E lembre-se: com grandes poderes, vem grandes responsabilidades – ele ainda ria e me empurrou para fora do quarto. - Há, há, que engraçado. Virou comediante depois que reatou com a Madeline? Gabriel acertou um tapa de leve na minha cabeça e quem passou a rir foi eu. Era obvio que ele estava naquele estado permanente de bom humor por causa dela e constantemente era alvo de piada dos amigos, mas neles ela não podia acertar um tapa sem receber um igualmente dolorido em troca, como fazia comigo. Ah, se eu ainda fosse forte... Friday, August 28, 2009 Algumas anotações de Haley Warrick, final de Agosto de 2012 Há algum tempo atrás, antes da batalha final contra Voldemort minha mãe, o pai e o padrinho do Ty resolveram fazer um programa de condicionamento físico para os mais jovens da família, onde além de os deixar mais fortes fisicamente, eram ensinados feitiços defensivos, era uma forma de deixar todos alertas e prontos para se defenderem em caso de ataque às suas diferentes escolas e os manter vivos até a ajuda chegar. Alguns chamariam a isso de neurose de ex-combatente, mas quando você cresce numa família que forma aurores em todas as gerações, você se acostuma com as excentricidades. Meus irmãos e primos mais velhos, sempre se reuniam por algumas vezes durante o ano para receber treinamento em duelos da minha mãe, do tio Caleb, outras vezes, do próprio tio Lu ou tia Mirian. Isso fazia com que em caso de algum ataque inimigo, todos soubessem como se defender. Não era uma coisa obrigatória, pois vários primos não participavam, mas como este ano eu ia poder ficar com meus pais na casa da Arte, eu estava doida para participar, poderia aprender alguma coisa nova e útil para escola. Sim, eu sou nerd, confesso rsrs. - Vamos lá crianças, mais duas voltas! - incentivou minha mãe enquanto eu e Arte nos esforçávamos para correr, sem sentir aquela famosa pontada na costela. Meus primos Sam, Jefrey e Daniel, Luky e Bella corriam na nossa frente junto com Julian, e até Olívia junto com Mina e Luthien, filhas do tio Seth nos ultrapassaram. - Não sei porque minha mãe acha que correr pode nos tornar mais fortes numa luta. Eu podia estar aprendendo a surfar com o tio Gabriel no Rio de Janeiro, exercício não ia faltar. - resmunguei enquanto puxava o ar com força e Arte que corria ao meu lado disse: - E eu já teria conhecido o jardim botânico de lá, tio Scott diz que é maravilhoso e tem tantas flores lindas... - Mas pelo menos você já participou de uma batalha, o máximo que vou fazer é derrotar o Graham no clube de duelos. Não vou ser auror. - Gosto do jeito que tia Alex conduz o treinamento, se fosse um dos meus irmãos, não poderíamos fazer metade do que ela nos ensina, sob o risco de nos desmanchar. - disse Arte e rimos nos lembrando em como Griff e Seth eram extremamente protetores. Gaia e Edward que eram os últimos corredores, fechando a retaguarda, nos alcançaram. - Sabiam que quando tia Alex estava na Academia, ela teve que buscar ajuda para os colegas durante um ataque?- disse Gaia e pela piscada que Edward nos deu , soubemos que ele ouviu nossa conversa e contou a ela. - Como é que é? Ataque?- perguntei diminuindo as passadas. - Era o exame prático que todos os aurores fazem para se formar, além do teste escrito, eles tem que fazer um teste em campo e sem varinhas. Então, eles teriam que passar por uma floresta, enfrentando vários desafios, e chegar ate um vilarejo onde recuperariam suas varinhas, ela estava num grupo de 6 aurores, e eles foram atacados por uns 15 ‘bruxos das trevas’, mas se eles perdessem não seriam aprovados. E o pior: os tais ‘bruxos das trevas’ atacariam de surpresa o local onde os outros alunos, que já se achavam seguros estavam. No grupo tia Alex era a mais atlética, então enquanto os outros seguravam os bruxos, ela foi correndo até o vilarejo e avisou aos outros. Quando ela voltou veio com as varinhas e ajuda. - Mas os outros acreditaram nela? Afinal quem tinha chegado ao acampamento já estava aprovado não?- comentou Arte. - Acreditaram porque ela chegou gritando a palavra combinada pelos instrutores em caso de problemas, 'buria', que significa tempestade em russo. E também é uma das palavras que usamos quando sofremos ataques. - explicou Edward e aos poucos ele e Gaia, iam nos dizendo algumas coisas que fazia com que em caso de qualquer ataque tanto os Chronos quanto os McGregors, sempre estavam prontos para ajudar uns aos outros. Olhei ao longe minha mãe correndo ao lado do pai da Gaia, tio Isaac e eles ao perdiam ninguém de vista, sempre incentivando a todos. Prometi a mim mesma, não resmungar mais das idéias de minha mãe, afinal já ter passado por tudo que ela passou e ainda ficar feliz em ensinar um bando de pirralhos a se defender, podia ser importante no futuro. Mais tarde após o treinamento de feitiços e aprendermos alguns golpes de defesa pessoal, fomos dispensados e podíamos fazer o que quiséssemos. Eu, Julian e Arte resolvemos nos sentar na biblioteca de tio Lu e estávamos conversando sobre a escola, as saudades de nossos amigos, e os últimos fantasmas que eu havia visto, quando o olhar dela foi atraído para uma estante cheia de livros antigos se levantou e foi até lá. Quando voltou trouxe um livro grande com ela: - Ok, você está com saudades da escola mas não precisa abrir um livro agora não é? Assim você supera o Hiro, na mania com livros. - comentou Julian e rimos, enquanto ela explicava: - Nunca tinha visto este livro por aqui antes, e fiquei curiosa para vê-lo. Olhem, é um álbum de fotografias, e tem o nome do meu bisavô A.J. na capa. - e ela se sentou colocando em nossa frente, e à mediada que virávamos as páginas de fotografias, víamos jovens usando roupas muito antigas, e parecia que eles estavam na sala de duelos de alguma das mansões Chronos, e tinha um brasão numa das paredes que logo reconhecemos. - Veja, pelo jeito eles treinaram DCAT aqui...- comentou Julian e vimos os jovens fazendo brincadeiras uns com os outros, enquanto faziam pose para as fotos. - Este aqui eu reconheço: é o Monsieur Perrineau, minha mãe esteve lá na semana passada para ele fazer manutenção na varinha dela. - disse Julian enquanto olhava para o jovem com olhos escuros e puxados. - Veja, aqui tem a Millicent Von Griffin, é a nossa tia Millie...E ela está do lado da Bianca Latour, ela ainda é uma lenda no quadribol. - eu comentei. - Tia Millie vai ter que nos contar como eram os jogos daquela época...Nossa, que garota bonita, esta aqui, deixa ver...Olivia é o nome dela. Parece-me conhecida....- disse Julian forçando a memória. - Uau, este aqui é o rei de Mônaco?? Não sabia que ele era amigo do vovô AJ. Ele era bonitão... - É isso!- disse Julian e Arte zombou: - Você também achou o rei de Mônaco bonito, J.T.? - Não vou ficar achando homem bonito não é? Esta, garota Olívia, é a rainha de Mônaco, por isso me pareceu familiar. - Os garotos daquela época eram bem bonitos. Tinham personalidade, olha este aqui quanto estilo, usando jaqueta de couro e cabelo com topete, parecia um rebelde. - e de repente parei e fiquei olhando para a fotografia e para Julian. - Que foi Haley? Você está estranha. Temos companhia? - disse Artemis preocupada. - Lembra que eu disse que havia um fantasma acompanhando Julian, no primeiro ano? - Sim, você disse que era um jovem e que ele sumiu há algum tempo...- ela disse e Julian não pôde evitar olhar por cima do ombro. - Era este garoto, ele é quem acompanhava o Julian. - Você quer dizer que alguém tão jovem assim, já morreu?- disse Arte e Julia comentou: - Jovem há séculos atrás não é? Porque se ele estivesse vivo, seria muito velho. Mas então, este cara...- e ele olhou para o verso da foto e descobriu o nome dele e continuou: - Este Tristan Thorn...Estava atrás de mim porque? - Não sei Julian, mas eu só o vi naquele dia quando nos conhecemos...E depois não o vi mais. Acho que ele seguiu em frente. - comentei, e continuamos a olhas as fotos e algumas me chamaram muito a atenção, onde havia uma mulher loira com um sorriso familiar por dois homens bem parecidos fisicamente, e eles me lembravam pessoas que eu conhecia. Olhei para os nomes nos verso da foto e não pude evitar me sentir emocionada e disse: -Este é Kyle McGregror I, ele era avô do seu pai Julian. - e o Corvo olhou para a foto do homem com cabelos escuros e compridos e disse: - Ele lembra o papai não é? Veja a cor dos olhos é a mesma. - e Ártemis e eu concordamos e eu voltei a olhar para as outras fotos e disse olhando para o nome da mulher e do homem, mais jovens: - Estes são: Connor McGregor e Sarah McInnes. Eles são os meus avós. Acho que nem minha mãe tem estas fotos...Eles morreram dois anos depois, disse olhando a data da foto, que era agosto de 1959. - Então vamos logo mostrar este álbum para o meu pai, tenho certeza que ele vai dar as fotografias para a tia Alex. E talvez possamos até saber um pouco mais sobre este Tristan, ele pode saber quem é, pois há muitas fotos dele com vovô AJ, e não me lembro de termos parentes com este nome. - disse Ártemis. Recolhemos as fotos e antes de fechar a porta tive a impressão de ver pelo canto do olho alguém usando uma jaqueta de couro saindo da sala rapidamente. Acho que é cedo demais para eu dizer que o jovem com estilo rebelde seguiu seu caminho. Tuesday, August 25, 2009 As férias em Londres chegaram ao fim junto com os jogos olímpicos e voltei para casa com meus pais e meu irmão. Gabriel, que agora estava noivo, foi facilmente dobrado pela mamãe e agora ela estava encarregada de absolutamente tudo relacionado ao casamento dele com Madeline. Ninguém nem ousava se meter, acho que nem mesmo a noiva, ela apenas aceitava tudo que minha mãe decidia sem contestar. Acho que, desde que ela e meu irmão se casassem, não importava o resto. Eles haviam decidido se casar em Paris, mas viriam morar no Brasil, e essa foi a parte que mais gostei. Não queria ficar longe dele e do meu novo sobrinho. Tudo em casa exalava casamento, e querendo ficar longe de todo aquele processo e dos constantes ataques da mamãe com as pessoas que iam montar a cerimônia, arrumei uma ocupação pros meus últimos dias de férias. Por total influencia da Gabi, agora estava matriculada em uma aula de karatê. Meu instrutor, Sensei Marcos, me encorajava dizendo que tinha futuro na luta e que tinha feito bastante progresso para quem estava matriculada há apenas duas semanas. Ele queria me testar antes que eu voltasse pra Hogwarts na próxima semana e interrompesse as aulas até Julho, então me colocou para lutar com um aluno que já era faixa preta. Ele era duas vezes maior que eu e naquele dia não estava me sentindo muito bem, mas ia perder aquela luta com dignidade, sem fugir do desafio. Fizemos a reverencia padrão e ele partiu pra cima de mim sem dó nem piedade. Não demorou nada até que eu estivesse no chão, mas sempre levantava e partia pra cima dele também, tentando fazer alguns pontos. Não era uma luta justa e eu já estava cansada, então parti para meu golpe final antes dele ganhar por maior número de pontos. Rafael veio para cima de mim, mas girei o corpo e agarrei seu braço, pronta para aplicar um golpe chamado Yoko Empi, onde seguro seu braço e golpeio a área desprotegida do corpo com o cotovelo. Consegui segurar seu braço direito, mas antes que pudesse acertar a lateral de seu corpo, ele gritou de dor. Junto com o grito dele veio um estalo alto e soltei seu braço na mesma hora, saltando para trás. Sensei Marcos correu para o meio do tatame e segurou o braço do garoto, visivelmente quebrado. - Rafael, desculpa! – falei assustada, olhando para o seu braço quase pendurado – Não sabia que tinha puxado com força! - Tudo bem, Clara, não foi de propósito – ele fez uma careta de dor ao falar – Foi mau jeito, eu não estava na posição certa. - Clara, ele está bem – Sensei tentou me acalmar, mas não funcionou muito – Saia do tatame junto com os outros. A aula hoje acabou, estão dispensados. Ele ajudou Rafael a se levantar e avisou que o acompanharia até o hospital, mas não deixou que eu fosse também quando me ofereci para ajudar. Eles ainda insistiam em dizer que tinha sido um acidente, mas isso não fazia com que me sentisse menos culpada. Tinha certeza que não tinha colocado tanta força assim na mão e mesmo que tivesse, não seria capaz de quebrar o braço de alguém, mas alguma coisa errada aconteceu. Voltei pra casa pensativa, mas não comentei com ninguém o que tinha acontecido. Com mamãe naquele nível elevado de estresse, era melhor não mencionar que tinha acabado de partir o osso do braço de alguém ao meio. Sabia que ela estava em casa com tio Scott agitando as coisas do casamento, então fui direto da aula pro apartamento do tio Ben. Passei o restante da tarde toda jogando videogame com Nick. Ele também estava aproveitando seus últimos dias de férias antes de recomeçar o treinamento para auror. Ele, Connor e Nigel haviam sido aceitos na Academia de Aurores de Londres ano passado e começariam o 2º ano dia 1º de Setembro. Ele percebeu que eu algo me incomodava, mas isso era o que eu mais adorava nele. Nick nunca perguntava, esperava até a gente falar primeiro. E eu não estava com vontade de falar, então apenas jogamos, sem conversar muito. Tio Ben nos obrigou a desligar o jogo quando viu que já havia anoitecido e chamou para comer pizza na varanda. Com tio Scott ajudando mamãe nos preparativos do casamento, a cozinha dos dois apartamentos não andava sendo muito utilizada e fast food era sempre a opção mais prática. Devoramos toda a pizza em menos de meia hora e continuamos sentados na varanda conversando, até que ouvi meu celular tocando do lado de dentro da casa. Foi tudo muito rápido. Levantei da cadeira apressada, pressionei a palma das mãos contra o vidro para empurrá-lo para o lado e ele se estilhaçou. Tio Ben e Nick saltaram assustados das cadeiras e vieram me acudir, pois eu continuava na mesma posição: com as mãos no ar onde o vidro estava um segundo antes, mas agora com as duas palmas repletas de cacos de vidro e muito sangue escorrendo. - Clara, você está bem? – tio Ben me agarrou pelos ombros, me forçando a desviar os olhos da extinta porta e encara-lo – Está machucada em mais algum lugar? - Não... – falei completamente atordoada, voltando a olhar para os cacos de vidro espalhados por toda a varanda e parte da sala – Desculpa! - Tudo bem, meu amor, não foi sua culpa – ele me tranqüilizou, puxando minhas mãos com cuidado para ver o estrago – Ui, acho que sua mãe vai precisar cuidar disso depressa. Nick, vá chamá-la, rápido. - Não estão doendo – menti, vendo Nick disparar para fora do apartamento – Tio Ben, sua porta... - Não tem problema, isso pode ser remendado com um simples aceno da varinha, vamos nos preocupar com a sua mão. - Mas... Ela se estilhaçou! Eu toquei nela e... – falei chocada que ele não estivesse levando esse fato em consideração. - Ela já devia estar rachando em algum ponto e não percebemos. Tentei argumentar mais vezes, mas ele sempre desviava o foco do acontecido para minha mão sangrando loucamente e não para o fato de que elas tinham estilhaçado um vidro bem grosso segundos antes. Mamãe apareceu logo depois que Nick saiu, com tio Scott atrás dela e um kit de primeiros socorros na mão. Ela fez uma cara apavorada quando mostrei a palma das mãos e foi logo me puxando para uma cadeira longe da varanda, começando a tirar os cacos de vidro com uma pinça. Tio Ben reconstruiu o vidro da porta num piscar de olhos e fiquei observando minha mãe fazendo curativos por toda minha mão e depois as enfaixando. - O que aconteceu aqui? – ela perguntou depois que terminou. Tinha uma gaze cheia de cacos de vidro no colo dela, todas tirados da minha mão. - Eu fui abrir a porta e o vidro quebrou – expliquei olhando para a nova porta. - Como você conseguiu fazer isso? – ela parecia tão chocada quanto eu – O quanto de força você fez para partir um vidro desses? - Eu não coloquei força nenhuma! Também não sei o que aconteceu! - O vidro devia estar rachado nas laterais, Lou – tio Scott chegou à mesma conclusão do tio Ben – Alguma rachadura antiga que não percebemos, bastava um pouco de pressão para isso acontecer. Que bom que Clara sofreu cortes apenas nas mãos, podia ter sido pior. - É, podia ter sido pior mesmo – ela terminou de prender a gaze em volta da minha mão e levantou – Vamos pra casa, Clara. Precisa ficar com as mãos paradas, acha que consegue? - Não posso usar elas pra nada? – resmunguei. - Use apenas se for necessário, se ficar mexendo demais e fazendo força, vai começar a sangrar de novo. Amanha já vai estar melhor, mas hoje você vai ter que sossegar. Assenti derrotada e voltei com ela pro nosso apartamento. Ela ainda tinha alguns telefonemas pra fazer e percebi que tentou terminar o mais rápido possível, sempre espiando para ver como eu estava. Meu pai chegou em casa antes que ela terminasse e se assustou ao ver as bandagens nas minhas mãos. - O que aconteceu? – perguntou sentando do meu lado e beijando minha testa. - Quebrei o vidro da varanda do tio Scott – dei de ombros e ele arregalou os olhos. - Está doendo muito? – apesar do espanto, ele pareceu achar melhor não entrar em detalhes comigo. - Não, só coçando um pouco – dessa vez era verdade. Era estranho, mas a dor já tinha passado. - Mais alguma coisa que queira contar? – Como Nick, meu pai sempre sabia quando algo me incomodava. Mas diferente dele, ele perguntava e não desistia até que respondesse. - Hum, quebrei o braço de um garoto no karatê hoje – achei melhor pular todo o processo de insistência, sabia que ele ia ganhar mesmo – Acho que puxei com muita força, não sei bem. Ele também não estava bem posicionado. Ele trocou um olhar esquisito com a mamãe e sorriu pra mim, levantando do sofá. Ela mandou que continuasse como estava, sem sacudir as mãos, e foi para o quarto com ele. Tinha alguma coisa errada acontecendo, isso era obvio, mas não fazia a menor idéia do que era. Cutuquei o curativo quando minhas mãos começaram a coçar outra vez, mas evitava mexer muito com medo de me machucar mais. Liguei a TV e deixei em um filme qualquer, só para ter o que assistir. O dia já tinha sido esquisito demais, só queria manter a mente ocupada até pegar no sono ali no sofá mesmo. Nunca desejei tanto voltar para Hogwarts. Wednesday, August 12, 2009 Agosto de 2012 - Olimpíadas de Londres, Centro Aquático. Era o dia das finais de Salto Ornamental e como de costume, segui com Gabriel, Keiko e Hiro para o Centro Aquático. Dessa vez não o acompanharíamos pelos bastidores, pois íamos encontrar com todo o resto da turma e assim que chegamos Rebecca e Nick já nos esperavam. Eles apontaram para o alto da arquibancada e vi que Haley, Jamal, JJ, Arte, Rupert, Julian e o amigo dele, Justin, já estavam lá, cercados por Nigel, Otter, Jake e Connor. Entendi que hoje eles seriam nossos vigias, mas não me importei, contanto que pudesse assistir aos jogos com meus amigos. E aquela seleção de seguranças sem duvida ia nos divertir um bocado. Entre os atletas que iam disputar as finais do Salto Ornamental tinham 2 brasileiros, mas minha torcida ia ficar dividida. Alex Parrish, mais conhecido como namorado da Becky, fazia parte da delegação da Inglaterra e estávamos todos com bandeiras e faixas de incentivo a ele. Connor não parecia muito satisfeito a integrar o time de torcedores e usou a desculpa de que seu patriotismo ainda pertencia aos Estados Unidos, que não conseguia torcer por outro país. - Connor é o do contra – Nigel provocou, sacudindo uma bandeirinha da Inglaterra na sua cara – Vai mesmo ficar no meio da torcida da Inglaterra torcendo pelo americano branquelo? - Posso torcer em silencio – respondeu afastando a bandeirinha com um tapa – Parrish não tem chance contra o Hartley. - Quer apostar? – Nick estendeu a mão, mas Connor hesitou. Foi o que bastou para que pegassem mais ainda em seu pé. - Deixem ele em paz, Clara também está torcendo pelo saltador brasileiro – Becky tentou interferir. - Sim, mas também estou torcendo pelo Alex – respondi atrapalhando sua tentativa de amenizar as brincadeiras. - Bom, deixe Connor torcer pra quem quiser, mas Alex tem a mesma idade que Tom Daley, eles são os mais novos e vão sair daqui hoje com medalhas. Agora silêncio, as provas vão começar – Otter colocou um ponto final na discussão quando o locutor começou a anunciar o nome dos competidores. Ficamos todos quietos outra vez, prestando atenção, e quando o nome de Alex ecoou pelo alto-falante fizemos a maior algazarra. Ainda ia demorar até que ele saltasse, antes teria a final feminina, e no meio da prova vi Gabriela subindo as escadas da arquibancada com o pai e três garotos que reconheci como Alphonse, Aurelian e Auguste. Acenei animada e eles encontraram lugares vagos perto do nosso grupo. Apresentei Gabi aos meus amigos e ela logo estava enturmada, pulando para a cadeira ao meu lado que Jake cedeu a ela. Ela falava um pouco de inglês, então não foi preciso ficar de tradutora, todos conseguiam se comunicar bem. - Vai começar a final do masculino! – Becky falou nervosa, apertando a bandeira nas mãos e escondendo o rosto com ela – Ai, não quero ver isso! - Deixe de ser boba, Becky! – puxei a bandeira para fora de seu rosto, rindo – Alex vai se sair bem! - Olha, eles estão entrando! – Nigel ficou de pé na cadeira e agitou a bandeira da Inglaterra – Vai, Alex! O grito de Nigel foi tão alto que ele ouviu lá de baixo. Ele procurou o dono da voz e quando nos viu acenando animados, retribuiu com um sorriso enorme no rosto. Alex era alto, loiro, olhos verdes e muito, mas muito bonito. E com todas aquelas roupas do uniforme de Hogwarts era impossível perceber, como agora o vendo usar apenas uma sunga, o quanto ele era... atlético. Keiko começou a assobiar para deixá-lo sem graça e fomos no embalo, mas Becky foi quem ficou mais vermelha, embora o sorriso não sumisse de seu rosto. Ele se posicionou com os outros saltadores e constantemente lançava um olhar animado na nossa direção, sempre piscando para Becky. De toda a delegação da Inglaterra, apenas Alex e Tom Daley, também de 18 anos, haviam se classificado para a final. Os dois iam disputar na plataforma de 10m, mas em chaves diferentes e depois saltariam juntos, na de 10m sincronizados. Tom foi o primeiro e deu um salto excelente, mas depois de uma série de saltos, acabou ficando na terceira colocação, atrás de um canadense e um russo. Foi então a vez de saltarem juntos e sabia como era difícil qualquer coisa sincronizada no esporte. Durante os 4 anos que treinei ginástica artística, participava também das provas em equipe e era muito difícil realizar toda a seqüência de passos de modo sincronizado, principalmente quando envolviam maças, arcos, fitas e bastões. Mas mesmo com todas as complicações de uma prova assim, Alex e Tom se saíram muito bem. O salto foi muito rápido, mas mesmo com todas as incansáveis repetições pelo telão não conseguia encontrar um erro ou movimento diferente, eles tinham executado com perfeição. Já estávamos animados, mas quando a nota saiu, percebemos que por mais que o salto tenha sido excelente, eles conseguiriam no máximo a segunda colocação. A dupla chinesa ainda se mantinha em primeiro lugar, imbatível. - Que roubo! – Haley protestou, vaiando os juizes – Eles tinham que ter ganhado 10! - Aqueles chineses são anormais, era um a sombra do outro, claro que não erraram nada! – engrossei o coro, também revoltada. Continuamos a reclamar pelo resto da prova de duplas, mas no fim Alex e Tom ficaram mesmo com a segunda colocação e aplaudimos animados quando foram receber a medalha no pódio. Ainda tinha a prova individual do Alex e começou logo que a premiação terminou. Becky agarrou minha mão, nervosa, e quase cortou a circulação do meu sangue de tanto que apertava. Ela não sabia se rezava, marcava meu braço com as unhas, se agarrava à bandeira ou prestava atenção na piscina. Quando Alex subiu na plataforma, ela se decidiu por apoiar a cabeça nas mãos, com a bandeira presa nos dedos, e fixar o espaço entre a plataforma e a água. Ele era o último competidor. Bastava bater a pontuação do australiano, um 9.5. Vi-o respirar fundo e abrir os braços, depois deu um impulso forte e caiu reto como uma tábua na piscina, quase sem espirrar água pros lados. Meus olhos foram automaticamente para o placar, ignorando os gritos da torcida. - 9.8! – gritei ficando de pé na cadeira, o dedo sacudindo na direção do placar – 9.8! Ele ganhou a medalha de ouro! Foi tudo muito rápido. Todos olharam na direção do meu dedo e ao visualizarem a mesma nota que me fazia pular, a arquibancada explodiu em gritos e aplausos. Becky não sabia se ria ou se chorava e fiquei presa no meio de um abraço coletivo que só permitia que enxergasse borrões nas cores da bandeira da Inglaterra. Depois que voltei a enxergar as pessoas, pude ver Alex chorando sem acreditar na pontuação que piscava no placar, o anunciando como o campeão da plataforma de 10m. Toda a equipe técnica Inglaterra o abraçava e os outros competidores o cumprimentavam, mas Alex ainda parecia não acreditar. Acho que a ficha só caiu mesmo quando, já em cima do pódio, o Ministro dos esportes britânico pendurou a medalha em seu pescoço. Ele a segurou diante dos olhos e recomeçou a chorar quando o hino começou a tocar. Assim que acabou, descemos as arquibancadas desesperados, parecia o estouro da boiada, mas conseguimos passar por cima das grades de proteção e chegar até a piscina. Becky correu e se atirou nos braços de Alex, enquanto meu irmão tirava várias fotos dos dois. - Pra você – Alex tirou a medalha do pescoço e colocou no de Becky, a beijando – Ganhei pra você, que foi quem mais me incentivou a competir. - Sabe que não vou ficar com a sua medalha, não é? – Becky fitou a medalha pesada e o abraçou – Ela é sua. - Tudo bem, depois você me devolve, mas fique com ela por enquanto. - Fiquem todos juntos do Alex, vou dar um jeito de fazer essa foto sair no jornal – meu irmão falou preparando a câmera e corremos pra cima do Alex sem precisar que ele pedisse duas vezes – Vou precisar dizer que são fãs, mas duvido que se importem. - Bom, de uma forma ou de outro nós somos – Nigel falou animado e rimos – E pra sair no jornal, pode dizer até que invadimos a prova pedindo autografo. Gabriel bateu várias fotos da bagunça que fazíamos, a medalha ainda brilhando no peito de Becky, mas notei que Connor não se misturou ao grupo. Quando a aglomeração dispersou, percebi que ele ainda estava na arquibancada, mas já na parte baixa, apenas observando de longe. Nick já caminhava na direção dele e o acompanhei. - Qual é o seu problema? – Nick perguntou num tom meio brabo, algo raro de se ver. - Problema nenhum, mas não quero sair no jornal como fã do saltador da Inglaterra – ele respondeu despreocupado, mas mentia muito mal. - Você é ridículo. - O que quer dizer com isso? – agora era Connor que parecia zangado. - Ei, não vão brigar, não é? – interrompi depressa, me pondo entre os dois, agora que Connor estava no mesmo nível que nós dois. - Sei muito bem o que está pensando, e por ser meu melhor amigo, vou lhe dar apenas um aviso – Nick bateu o dedo no peito dele e estremeci. Nunca o vi irritado com ninguém, muito menos Connor – Rebecca e Alex estão juntos há 2 anos e ela está feliz com ele. Não se atreva a magoá-la ou vai me obrigar a bater em você. - Não pretendo magoar ninguém, mas você sabe que eu gosto da sua prima, não tenho que ficar fingindo adorar o namorado dela – Connor admitiu, depois de séculos tentando se enganar. - Por que não disse isso a ela, dois anos atrás? – agora quem falou foi eu, não gostando do rumo daquela conversa. Gostava do Connor, mas Becky estava feliz e confortável com o Alex e eu também gostava dele. - Eu não sabia que gostava dela na época, achava que era só uma amiga pra mim. - Bom, é isso mesmo que ela é sua, uma amiga – Nick falou ameaçador de novo. - Você não pode me impedir de lutar por ela – Connor enfrentou Nick e mais uma vez me posicionei entre os dois, eles não iam começar uma briga comigo no meio. - Tem razão, não tenho o direito de impedir que tente conquista-la, mas se fizer isso, é bom que seja pra valer e não a magoe, ou não vai poder me impedir de arrebentar a sua cara. Connor não respondeu e Nick deu de costas, voltando para junto do grupo quando Alex o chamou para tirar uma foto com os primos da Becky. Olhei para Connor uma última vez antes de correr para junto deles quando também me chamaram e sabia que ele estava sendo sincero quando dizia que demorou a perceber que gostava da Becky, mas concordava com Nick. Era tarde demais, ele teve sua chance e desperdiçou. Rebecca, Emma e eu éramos as únicas meninas no meio do bando de primos homens e éramos, querendo ou não, protegidas por eles. Connor teria que aprender a conviver com a decisão dela ou ia acabar enfrentando a fúria dos Storm e O’Shea. Tuesday, August 11, 2009 Agosto de 2012 Por Haley McGregor Warrick As férias não podiam estar melhores este ano. Como eu me comportei exemplarmente na escola...quer dizer, mais ou menos, não fiquei de castigo e pude viajar até a casa da tia Morgan, nas Ilhas Hébridas e consegui ver um filhote de dragão negro sair do ovo. Foi lindo! Tio Carlinhos deixou eu escolher o nome e ele se chama Beethoven. Claro que ele não tem a suavidade do músico, mas ele tem o carisma, e foi isso que me inspirou. Como é ano de Olimpíadas em Londres, todos os meus amigos e eu, vamos poder assistir os jogos, e nos intervalos nos divertírmos juntos, jogando videogame, na piscina do hotel ou salão de jogos. Num dia em que os meninos iriam assistir luta greco romana e levantamento de peso, Brianna que estava de folga de seu trabalho como modelo, nos convidou para sair pela Londres trouxa para passear. Convidamos Rebecca também no que seria um típico programa de garotas. o-o-o-o-o-o-o -Nós vamos até Knightsbridge, fazer compras na Harvey Nichols e nas outras lojas que tem por lá. - disse Brianna, e Lizzie só faltou levitar de tão animada que ficou, e Ethan provocou: - Claro, com tanta coisa interessante para se ver em Londres, você vai ensinar às meninas, o quão importante é o sapato e a bolsa certa para um encontro. Muito educativo. Meu irmão Ethan e nossa prima Brianna, foram muito amigos quando crianças, mas em algum momento brigaram e desde então vivem se provocando para discutir por qualquer coisa. - Você não reclamou quando comprei um presente para tia Alex, em julho....Um par de sapatos divinos, se não me engano. - Foi o Brian que comprou...- meu irmão começou a dizer e Bri o interrompeu: - Por favor, Ethan, até mesmo você sabe que o máximo que Brian entende de compras é como sacar o talão de cheques sem rasgar. Então Haley pode ir? Caso não saiba, tia Alex já autorizou. - e segurei o riso ao ver que Ethan apertava os olhos irritados para minha prima, se dando por vencido. Quando estávamos saindo, meu irmão disse cínico: - Brianna...Os sapatos não foram um presente para minha mãe. - e percebemos Brianna arfar surpresa, antes de continuar andando para a saída. Posso jurar que aquele brilho nos olhos dela, eram lágrimas, mas ela disfarçou falando sobre todos os lugares que nos levaria. O primeiro lugar foi um galpão enorme chamado Harvey Nichols, onde naquele dia haveria uma liquidação. Claro que os olhos de Keiko e Lizzie brilharam, como se elas houvessem ganhado sozinhas na loteria bruxa, eu, Clara e Ártemis não somos tão fanáticas por compras, mas como estávamos de férias e juntas, tudo acabava se tornando divertido. O local estava lotado de mulheres de todas as idades doidas para comprar artigos de marcas famosas, por menos da metade do preço, então quando vimos Lizzie pegar uma bota e do outro lado uma garota pegar o outro pé, percebemos que aquilo ia dar problema. A garota não queria soltar o sapato e Lizzie e também não, já que segundo ela (Lizzie) tinha visto primeiro. As duas começaram a discutir e a puxar o sapato de um lado a outro, acenei para minha prima que estava no outro lado para intervir, e antes que Brianna e Rebecca chegassem perto, a garota puxou o sapato desequilibrando Lizzie, mas ela não soltou, indo para cima da garota e as duas rolaram pelo chão, disputando o sapato. Claro que isso não atrapalhou as outras de continuarem fazendo compras, ninguém ajudou a separá-las. Lizzie deu uma cotovelada no estomago da garota e levantou balançando os sapatos. E foi cômico ela sacudindo as botas no ar e dizendo triunfante: - São minhas! São minhas!Minhas!- juro que só faltou a gargalhada maligna. E quando uma outra mulher mais velha tentou pegar a echarpe que Keiko escolheu para tia Yulli? Nunca vi uma garota rosnar tão ameaçadoramente quanto Keiko...Ou melhor já vi sim, quando minha mãe experimentava roupas numa loja em Paris, e a vendedora cometeu o desatino de oferecer um número maior para ela. Claro, que Brianna também nos levou a Camdem Town, e havia inúmeros brechós, e lá encontramos camisetas de times de futebol de colecionador, que nos animou e compramos algumas para JJ, Jamal, Julian, Hiro, Rupert e porque não...Justin, Le babaquê, também fomos ate Portobello Road e Kensigton Church Street, para comprar antiguidades por preços incríveis... Óh! céus, acabei de falar como a Kika, quando viu a placa pague um e leve dois, numa das lojas rsrs. Acho que os delírios de consumo, são contagiosos. Naquela noite, nos reunimos todos para jantar no Fifteen, o restaurante de um chef famoso, que tem programas na televisão e já nos conhecia, o que foi a nossa sorte, porque nós, praticamente lotamos o lugar. Edward havia aparecido e se juntou a nós, deixando a noite mais interessante. Tio Gabriel, chocou todo mundo, e levou a sua noiva, Madeline, e ela já tem um filho, lindo chamado Evan, e não tinha quem não se apaixonasse pelo garotinho, ele era super inteligente. Isso foi um choque para nós, os sobrinhos que nem sabíamos que tio Gabriel estava namorando alguém, mas depois tanto Ty, quanto Griff e Miyako zombavam muito dele, querendo saber se ele já havia contado a novidade para tia Louise. Estávamos rindo muito com Kika contando as peripécias das meninas, e o tal Justin praticamente babava, vendo minha amiga contar suas aventuras, quando percebi uma mulher de origem hispânica, do outro lado do restaurante olhando ao redor preocupada. Observei-a por algum tempo quando nossos olhares se encontraram. Ela me olhou e começou a vir até a mesa. Pedi licença, e fui até o banheiro, e vi que a mulher me seguia, mesmo tendo que atravessar as pessoas em seu caminho. - Você pode me ver? - ela perguntou tensa. - Sim, eu posso. - Graças a Deus! Eu tento falar com estas pessoas, mas ninguém fala comigo... Depois de conversar com ela e descobrir que ela havia morrido há pouco, e que ela queria que a família olhasse dentro de um vaso onde ela havia guardado dinheiro para os netos. Saí do banheiro e vi que todos ainda estavam distraídos conversando. E o endereço dela era próximo do restaurante, optei por sair sem incomodar ninguém. Andei até uma cabine telefônica, e liguei para a família com o numero que ela havia me dado. Ah, se todos os fantasmas fossem assim tão prestativos. Óbvio que neste caso, tive que ligar duas vezes, porque as pessoas não acreditaram nas mensagens, mas depois de dizer algo que só o morto sabia, eles me escutaram. Terminei a ligação quando soube que eles encontraram o dinheiro e senti que a mulher havia seguido em frente, e quando sai da cabine... - Veio ligar pro namorado?- e era Justin, parado perto e veio andando até mim. - Eu quase morri de susto. Enlouqueceu? - Você é quem pirou, vindo até aqui sozinha a esta hora da noite. Espero que seu namorado valha a sua vida. - Para começar não vim telefonar para nenhum namorado... - Ah, então você está encalhada, entendo... - Não sou encalhada....Aliás, o que você veio fazer aqui? Kika parou de lhe dar atenção e você veio me incomodar??- achei que ele fosse negar, mas disse: - É... por aí. E também estava ficando cansado com toda aquela coisa de compras. - Não deixe Kika ouvir isso, vai perder pontos com ela. - disse enquanto voltava para o restaurante, e ele andava do meu lado, de forma irritante. - E com você? - O que tem eu?- tive que olhar para cima par falar com ele. - O que faço para ganhar alguns pontos com você?- ele perguntou e me segurando pelo braço e se aproximando: Olhei para o local onde a mão dele me segurava e perguntei rindo sarcástica: - É alguma pegadinha? Porque nós não vamos com a cara um do outro. - E porque não vamos um com a cara do outro? - Talvez porque você seja arrogante, presunçoso, e pense que todas as garotas gostam do estilo ‘lenhador’ de asfalto. - acho que o ofendi porque ele respondeu: - Talvez não nos demos bem, porque você goste de bancar a princesinha, irresponsável, metida, convencida. Procuro me convencer que você age assim, só porque é bonita, depois vejo que é o seu jeito mesmo, coisa típica de garotinha mimada. - Olha aqui seu bocó, eu não sou mimada. Você veio atrás de mim porque quis, não o chamei aqui. Na realidade não sei o que o Julian vê em você, para serem tão amigos, já que vocês são totalmente diferentes. - puxei meu braço com força e queria dar-lhe um bom soco, mas antes que eu fizesse algo, Ethan, abriu a porta: - Hey, maninha, onde você estava?....Justin, o que faz aqui?- e meu irmão olhou curioso para o garoto. Na hora até visualizei a cena após as minhas palavras: - Ele me magoou me chamando de garota mimada, e apertou meu braço, Ethan...- e ai eu derramaria algumas lágrimas....E Ethan ia dar uma tremenda bronca no garoto, talvez uns cascudos e... A quem eu quero enganar?? Ethan sabe que se um garoto me ‘magoar’, eu arranco o couro dele. Melhor tirar aquele brilho especulativo dos olhos de meu irmão, antes que ele diga a todos que eu estava ‘ocupada’ com o idiota do Justin. Antes que eu falasse, o índio foi mais rápido: - Ela foi telefonar, e eu fiquei de olho, já que está tarde e a vizinhança pode ser perigosa para uma garota sem juízo. - Garota sem juízo??Ora, seu...besta!- ele entrou rápido para dentro restaurante, enquanto Ethan me segurava e ria: - Você sabe que ele te provoca de propósito e você cai na pilha dele, Haley. - Porque ele é tão idiota assim? Não entendo...- comentei e Ethan parou de rir e me olhou sério: - Você não entende mesmo porque ele age assim?- eu acenei positivamente. - Bom...Talvez ainda não seja a hora de você entender porque alguns de nós agimos de forma tão estranha com algumas garotas. - disse enigmático e me puxou para o restaurante e Justin sequer olhou para o meu lado. É, realmente eu não entendo qual é a dele. Wednesday, August 05, 2009 - Clara, ande logo, não quero perder o vôo! - Já estou indo! – meu irmão gritou da sala e respondi do quarto. Empurrei o casaco de qualquer jeito na mochila e fechei o zíper com dificuldade por ela estar estufada, correndo pra sala. Perto da porta tinham 3 malas enormes, casacos, uma mochila e uma pasta. Gabriel consultava o relógio impaciente e conferia alguns papeis que estavam na pasta. Estavam embarcando para 5 dias em Paris e depois viajaríamos para Londres, onde acompanharia meu irmão na cobertura das Olimpíadas. - Já estou pronta, calma! - Pegou tudo que deixei em cima da cama? – mamãe perguntou e assenti com a cabeça – Onde está o casaco que deixei na cadeira? - Dentro da mochila, está muito calor. - Faz frio dentro do avião, não despache essa mochila. Não quero você acordada até altas horas da madrugada, não se afaste do Gabriel quando estiverem nos bastidores das competições, não saia sem um casaco porque sempre esfria um pouco no fim da tarde e... - Obedeça ao seu irmão – completei a frase por ela e ela riu – Já sei disso tudo, mãe. E vou seguir tudo a risca, não quero arriscar passar outro verão presa em casa. - Que bom que aprendeu a lição – ela ajeitou a mochila nas minhas costas e se virou para Gabriel – E você tem certeza que vai dar conta de todos eles? Estou preocupada com você sozinho com esse monte de criança bagunceira. - Não se preocupe mãe, não vou estar sozinho no comando – Gabriel falou tranqüilo, mas mamãe ainda parecia preocupada – Tecnicamente, além dessa mala ai, só estou responsável por Keiko e Hiro, que moram no Japão. Ethan se ofereceu para ajudar e vai ficar de olho em Haley, Julian, Justin e Olívia. Griff vai levar os gêmeos dele, as meninas do Seth e Ártemis. Tio George vai levar Rupert e JJ e Jamal, que moram perto deles, e Nick, Rebecca, Otter e Nigel vão aparecer por lá para me ajudar, e vão estar acompanhando John e Lizzie a pedido da Morgan. Está tudo sob controle. - Bom, em todo caso, vamos encontrar vocês em duas semanas. Tente realmente manter elas sob controle até lá. Agora melhor irmos logo, ou vão perder o vôo – mamãe começou a nos empurrar para fora do apartamento – Remo vai nos encontrar no aeroporto para se despedir de vocês e se não sairmos logo, ele chega lá primeiro. Gabriel usou um feitiço para deixar as malas mais leves e saiu carregando duas enquanto mamãe levava uma delas e eu me encarregava das mochilas. Depois de não ter viajado no último verão, contava os minutos para pisar naquele avião e decolar para minha primeira viagem a Paris. ***** A viagem a Londres era por conta do trabalho do Gabriel, mas os 5 dias em Paris eram um presente dele de aniversario pra mim, então tive a liberdade de montar o roteiro. Ele comprou um guia da cidade pra mim e deixou que escolhesse tudo que quisesse fazer, me baseando nele. Era tanta coisa pra ver e fazer em tão pouco tempo, mas consegui espremer o que achava indispensável e Gabriel fez de tudo para não deixar de cumprir nada do roteiro. Conheci a Torre Eiffel, a Catedral de Notre Dame, fizemos um passeio de barco pelo Rio Sena, conheci um monte de museu que jamais imaginei que fosse gostar, fizemos picnic nos Jardins de Luxemburgo, andamos de patins no parque e conheci o famoso museu do Louvre. No Louvre, por sinal, meu irmão reencontrou uma antiga namorado que logo saquei que ele ainda gostava e acabamos no meio de um jantar organizado as pressas pelos antigos amigos de escola dele, as vésperas de irmos para Londres. A ex-namorada dele foi nos buscar no hotel com o filho de 2 anos que era a coisa mais fofa do mundo e ainda bem que sei falar francês, pois fui apresentada a um monte de crianças na casa e passei a noite na companhia delas. A mais velha, Gabriela, era filha do dono da casa e éramos muito parecidas, nos demos muito bem logo de cara. Nos demos tão bem que acabei dormindo por lá e Gabriel foi embora sozinho pro hotel. Bom, nem tanto, pois o filho da ex dele também dormiu por lá, o que significava que ela também voltou sozinha pra casa. Acordei cedo na manha seguinte com um homem assoprando uma buzina dentro do quarto, carregando um menino loiro no ombro que reconheci como o irmão de Gabriela, Michel. Ele colocou o menino no chão e ele pulou em cima da cama da irmã, forçando-a a levantar e fiz o mesmo antes que ele pulasse na minha. - Bom dia, dorminhocas – o homem que era Ian, pai da Gabriela, abriu as cortinas e a luz do sol invadiu o quarto – Não vamos perder tempo dormindo, tirei o dia de folga hoje e vou levar todo mundo ao cinema, mas antes vamos passear por Paris. Clara precisa de uma visão de um autêntico parisiense, e não aquele fajuto do Gabriel. O que acham? - Ótima idéia, papai! – Gabriela saltou animada da cama. - Eu topo, só não posso perder meu vôo pra Londres. - Vai dar tempo, agora vamos, saiam dessa cama porque o café já está na mesa! ***** O dia foi muito agradável. Acompanhada de Gabriela, o irmão, seu pai e Evan, o filho da ex-namorado do Gabriel, pude conhecer um outro lado de Paris que meu irmão não teve tempo de me apresentar, por culpa do meu roteiro intenso. Me senti uma legitima parisiense, andando nas ruas conversando em francês com eles como se morasse lá desde que nasci. Almoçamos em um restaurante de uma galeria como se eu não fosse turista e depois tio Ian nos levou ao cinema para assistir um desenho animado muito engraçado. Quando a sessão acabou já era quase 17h e tinha que voltar para o hotel. Não estávamos longe dele, então fomos caminhando enquanto tomávamos sorvetes enormes e tio Ian ia me fazendo um interrogatório. - Você fala francês muito bem, Clara – ele elogiou – Poderia até me enganar e pensar que é francesa. - Obrigada. É que estudei até os 7 anos em um colégio francês no Brasil. Teria ficado lá até ir pra Hogwarts se não tivesse sido expulsa – falei dando de ombros e ele soltou uma gargalhada alta que assustou os pequenos. - O que você fez pra conseguir ser expulsa? – perguntou ainda rindo. - Atirei o apagador na janela e quebrei o vidro – ele riu mais ainda – Estava com raiva, a professora implicava comigo e mesmo tendo mais gente envolvida na briga, só eu fiquei de castigo. A menina insuportável com quem briguei ficou me provocando do pátio da escola e atirei o apagador contra ela, mas esqueci do vidro. - Sua mãe deve ter ficado louca, Gabriel mal levava detenção na escola. - Ela ficou uma fera, queria me colocar em uma escola pública, meu pai que não deixou. Ele conseguiu convence-la de que ia ficar atrasada em Hogwarts e me matricularam em uma escola americana que tem perto de casa. - Vocês vão ficar em Londres até o final das Olimpíadas? – Gabriela perguntou. - Sim, meu irmão vai cobrir os jogos pro trabalho dele e vou acompanhar até o fim. Nem amarrada volto pra casa sem ver a festa de encerramento! - Papai, nós vamos assistir aos jogos, não é? – Michel perguntou esperançoso. - Sim, vamos, semana que vem estaremos em Londres para você ver as provas de natação e judô e também as partidas de futebol que você quer e Gabriela assistir as competições de ginástica que tanto pediu. - Bom, pelo menos uns 3 dias eu vou estar lá, então podemos nos ver de novo! – Gabriela falou animada. - Na verdade, acho que vamos ficar em Londres por mais tempo do que pensei... – tio Ian comentou vago parando de andar. Não entendi o que ele quis dizer, mas então percebi que já havíamos chegado ao hotel e Evan soltou de sua mão, correndo até a entrada dele. Só então reparei que a mãe dele estava com meu irmão. Nos aproximamos dos dois e tio Ian sorria de uma maneira engraçada, logo fazendo meu irmão e a mulher que se chamava Madeline rirem também. Me despedi da Gabi e do tio Ian e subi correndo até o quarto para terminar de arrumar minha mala. Quando voltei ao lobby eles ainda conversavam, agora com Evan todo tagarela fazendo os dois rirem. Aos olhos de qualquer desconhecido que passasse ali, eles eram uma família feliz. - Estou pronta – falei parando ao lado dos três. - Então vamos, o táxi já está esperando com as nossas malas – Gabriel levantou. - Tem certeza que não querem uma carona até o aeroporto? – Madeline ofereceu. - Tudo bem, pode ir pra casa com o Evan, ele deve estar cansado – meu irmão falou com a mão apoiada no ombro dela, sorrindo – Nos falamos depois? Ela assentiu com a cabeça sorrindo e os dois deram um abraço demorado. Fiquei olhando de um pro outro esperando um beijo cinematográfico que pudesse usar para importunar Gabriel pelo resto da minha vida, mas não aconteceu. Eles falaram algo rápido que não consegui entender e me despedi dela apenas com um aceno, pois Gabriel me empurrou apressado na direção do táxi. - Gabriel e Madeline sentados numa árvore... – comecei a cantar e ele riu. - Pensei que achasse essa musica imbecil. - E ela é. Perfeita pra esse momento, não acha? – provoquei. - Fique quietinha, vai escutar música no seu iPod – ele desconversou. - Vou contar pra mamãe que você arrumou um neto pra ela. - E eu acho que vou contar pra ela que não foi o Boris que estragou a blusa de seda que ela tanto gostava. - Ok, você venceu, assunto encerrado. Coloquei os fones no ouvido e liguei o iPod, mas antes dei um sorriso maroto pra ele, que retribuiu balançando a cabeça. Fui o resto do caminho até o aeroporto, que era longe pra caramba, ouvindo música e observando meu irmão olhar pela janela com um olhar vago, mas parecendo feliz. Acho que ia ganhar uma tia e um sobrinho mais rápido do que pensava. As primeiras férias de verão significaram, para mim e Hiro, somente uma palavra: castigo. Mamãe e papai não ficaram nada satisfeitos conosco por terem sido chamados em Hogwarts – a poucos dias do fim do ano letivo – para levarem bronca da McGonagall sobre o nosso comportamento e, por isso, elaboraram estratégias duras para nos punir. A principal arma é claro, era nos deixar entediados o suficiente para que pudéssemos “refletir” sobre nossos atos e nos arrepender. Devo dizer: eles quase conseguiram. Julho de 2011 - Sem viagens, sem passeios, sem visitas ‘de’ ou ‘para’ amigos... – Hiro e eu estávamos sentados lado a lado, no sofá da sala, e papai em uma poltrona na nossa frente (nos observando com uma seriedade cautelosa), enquanto acompanhávamos mamãe marchar de um lado para o outro ditando as regras com a voz um tanto alterada. Ela nos fuzilava. – Ah, e é claro, sem quaisquer outros meios de entretenimento dos trouxas: tevês, computadores, vídeo-game e afins. Posso ter esquecido alguma coisa agora, mas não se preocupem. Vão estar sob a minha, nossa – acrescentou depressa desviando os olhos pra papai -, vigilância constante. Ela parou no meio de nós dois com um dedo em riste e as sobrancelhas unidas no meio da testa. Hiro abaixou levemente a cabeça, possivelmente constrangido, e eu virei os olhos e ri. Ela pareceu soltar fumaças pelas orelhas e, antes que eu pudesse me arrepender do ato, vi que papai se mexeu desconfortável atrás dela e fez uma careta ansiosa para mim. - Posso saber qual é a graça, “mocinha”? – Mamãe perguntou cuspindo cada palavra e abaixando ameaçadoramente o dedo até que ficasse a centímetros do meu nariz. Disfarcei o tom de deboche na voz - pois sabia que, por mais furiosa que estivesse mamãe não nos privaria destes dois momentos, em especial, das férias - e ela pareceu murchar. Eu estava certa. Sentou-se na poltrona onde papai estava, cansada, e ele colocou as mãos sobre seus ombros, incentivando-a. Ela não deu o braço a torcer por completo, mas quando respondeu, parecia mais conformada. - Bem... Não. Não vou impedi-los de ir a nenhum destes dois eventos, é claro. Pelo menos, por enquanto. Saiam da linha isso aqui (ela estendeu a mão, e seus dedos polegar e indicador estavam quase juntos não fosse um minúsculo espaço representativo entre eles), e eu juro que não enfiam os narizes para fora de casa. Nem que Miyako resolva dar à luz no nosso quintal! Estamos conversados? Hiro concordou imediatamente com a cabeça e eu acabei sacudindo os ombros, ----------- Os dias se arrastavam e eu temia enlouquecer de vez, caso o casamento do tio Ty não chegasse a tempo suficiente de me salvar. Ao contrário de mim, Hiro parecia não sentir, tanto, os efeitos do nosso castigo. Depois de mamãe ter permitido as visitas de Monique, ou eles passavam os dias todos jogando xadrez, ou ele se fechava em seu quarto e lia livros e mais livros – já que papai havia confiscado seu kit de preparo de poções, deixando-lhe em troca apenas vários livros sobre elas, das bibliotecas particulares de tio Yoshi e tio Logan. Por isso, por mais que ele não pudesse praticá-las (e infestar toda a casa com cheiros acres), se deixava envolver pelas teorias de cada uma. [Vez ou outra, o vi anotando e espalhando por seu quarto bilhetes como “não esquecer: de perguntar ao tio Yoshi sobre a “Poção de Wiggenweld”; e de como eu posso extrair o muco de verme gosmento”.] Por sorte, o dia do casamento do tio Ty chegou, e eu estava animada de ir para o Rancho e reencontrar todos os meus amigos. Só não podia imaginar que este diria seria tão... agitado. - Quem é aquele que está conversando com Ethan? – perguntei encarando admirada um jovem (talvez o mais lindo do planeta!) que sorria alegremente a poucos metros de onde estávamos. Haley acompanhou meu olhar e o localizou, dando uma risadinha baixa e girando os olhos. O rapaz pareceu ter notado a atenção sobre ele e se virou em nossa direção, acenando para ela discretamente ainda sorrindo. Suspirei. “O que não exclui minhas chances, exclui?”, eu pensava comigo mesma, sem desviar os olhos, e me distraí. Um corpo parou na minha frente me tampando Edward, e fiz uma careta levantando o rosto para ver quem era. Papai me olhava com uma das sobrancelhas arqueadas. - Não sou tão jovem e nem tão fogoso quanto Edward, mas... antes que sua mãe perceba esse seu “interesse” todo e tenha um ataque, será que você poderia dançar com seu velho pai um pouco? Automaticamente, desviei os olhos para onde mamãe estava sentada com tias Alex, Louise e Sam, conversando distraída, e fiquei aliviada. Sorrindo, peguei a mão de papai e ele me puxou para a pista de dança, também rindo. - Só para constar, papai, “fogoso” já está muito fora de moda. – eu disse brincalhona e ele riu, enquanto dançávamos rock de mãos dadas e arrastando os pés no chão. Dali para frente foi uma confusão. Lembro-me de alguns flashes rápidos: papai abraçou mamãe, que parecia muito nervosa para tomar qualquer atitude; liderados por tia Louise, tia Mirian, Morgan e um grupo de curandeiros levaram Miyako para um dos quartos do Rancho e acompanhamos ansiosos no corredor, esperando... Foram algumas, várias, horas de apreensão – que pareceram anos! – até que um som diferente dos gritos de Miyako, tio Ty ou tio Gabriel, cortasse o ar. Um choro estrondoso anunciou a chegada de Eicca à família. [Mamãe desabou aliviada nos braços de papai, meio rindo e meio chorando, e ele também se deixou levar. Tiago invadiu o quarto no mesmo instante e, eu e Hiro nos entreolhamos brevemente, antes de o seguirmos. Se eu tinha, oficialmente, “ficado para titia”, cobraria todos os possíveis privilégios que recebia com isso.] Agosto de 2011 Com o nascimento de Eicca, mamãe acabou se “mudando” para a casa de Miyako (para ajudá-la a se acostumar com o ritmo do bebê), deixando o controle da casa – e conseqüentemente do nosso castigo – nas mãos, supostamente “flexíveis”, de papai. [...] - Levanta Keiko. – antes mesmo que papai tivesse puxado minha coberta, eu já ficara totalmente desperta com o tom de sua voz ao me acordar. Não sabia o que tinha acontecido para ele parecer tão colérico, mas tampouco estava curiosa para descobrir. Sua voz não tinha melhorado, e com uma curiosidade que deixou um gosto de mau pressentimento em meu estômago, segui suas orientações. Quando desci, vi que Hiro parecia tão desconcertado quanto eu, enquanto analisava papai quieto no canto da sala. Sem coragem para fazer mais perguntas, me sentei na outra ponta do sofá e esperei em silêncio. PUF! O barulho na lareira me fez sobressaltar e sufoquei um grito de susto enquanto via alguém se materializar no meio de chamas verde-esmeralda. À medida que a pessoa saía do console da lareira para o tapete na minha frente, senti meu queixo despencar involuntariamente. A tal “visita” não era ninguém menos do que Sheldon White – que batia as vestes com violência para tirar o restante de fuligem, com o nariz ainda torcido. - Sheldon?! – Hiro foi mais rápido e perguntou com a voz embargada. Depois, virou-se para papai, confuso. O garoto endireitou os óculos no rosto antes de nos olhar com atenção (e um pouco de petulância). Eu acompanhava a cena como se ela não fosse real, porque não fazia sentido algum. Sheldon em nossa casa, se hospedando a convite de papai? Piscava meus olhos com força, continuamente (para tentar me descobrir no meio de um sonho psicodélico), mas a cena continuava toda ali quando papai falou novamente – dessa vez, para mim e Hiro. - Recebi corujas de Hogwarts com as notas finais de vocês. – ele passou os olhos por nós dois, sério. Me encolhi. – Vocês sabem que eu não classifico como “bons alunos” aqueles que respeitam todas as regras. Tudo bem, vocês exageraram, mas eu não teria nem mesmo os colocado de castigo se McGonagall não tivesse me dado uma bronca, também. Não vou exigir que virem os “senhores certinhos” da turma, mas não posso admitir que continuem como estão: tratando os assuntos acadêmicos tão levianamente... As notas de vocês – tirando as de no máximo duas matérias para o Hiro, e de uma para Keiko – não são consideradas nem “razoáveis” hoje em dia. Papai se sentou na mesinha à nossa frente e, embora continuasse sério, agora parecia sereno (como se quisesse nos fazer entender a gravidade do assunto, mas sem nos causar traumas). - Vocês sempre esperaram tanto por Hogwarts, sempre ansiaram tanto poderem comprar as varinhas e usá-las, praticar os feitiços, terem aulas de magia! Agora, que estão com essa chance em mãos, ignoram?! – atrás dele, Sheldon escutava o discurso com uma expressão entediada no rosto. Me senti corar. – Podem continuar pregando as peças, levando detenções, desobedecendo a regras (de maneira saudável, claro), mas vou começar a exigir, também, mais esforço e seriedade com os estudos. Se não querem sofrer com os NOM’s e os NIEM’s daqui a alguns anos, e com próximos castigos durante as férias, é bom que se preparem desde já. E esses primeiros anos são indispensáveis. Então... Posso contar com isso? Ele nos perguntou abrindo um sorriso sem espontaneidade e Hiro concordou com a cabeça, também parecendo muito constrangido com a expressão (agora superior) de Sheldon, logo atrás. - Tudo bem, papai, nós vamos maneirar nas brincadeiras. E vamos tirar notas melhores. – eu prometi com sinceridade. – Só ainda não entendi o que o SHELDON tem a ver com tudo isso...? – olhei pra ele um pouco atravessada e ele se empertigou. Papai se levantou, indo até seu lado. Ao meu lado, Hiro soltou um “OH” de surpresa e nos entreolhamos. Em doze anos de vida, aquele era um daqueles raros momentos em que nos flagramos concordando um com o outro. - Vamos, animem-se. Vocês podem estar odiando agora, mas futuramente vão me agradecer. E não se preocupem: a mãe de vocês não precisa ficar sabendo das notas ruins, nem das aulas de reforço. Colaborem comigo e eu colaboro com vocês... – ele deu uma piscadinha e Sheldon revirou os olhos, antes de interromper. Ele sorriu triunfante (o sorriso parecido com o do Grinch, quando acabava de estragar mais um Natal) e vi seus olhos brilhando de expectativa - possivelmente, programando-se mentalmente para conhecer todas as lojas de jogos e quadrinhos do Japão, em algumas horas da cada dia das próximas semanas. Hiro se mexeu desconfortável no sofá e o imitei. Tuesday, August 04, 2009 Setembro de 2011 Alguns relatos de Julian Montpellier McGregor O inicio do meu segundo ano em Hogwarts havia sido incrível. Quando voltamos para a escola em setembro, muita coisa havia acontecido: meus pais haviam se casado, eu tive férias incríveis no rancho com Justin, Haley descobriu o nome do espírito que acompanhava a Ártemis e ele avisou que o Chronos seriam atacados por vampiros e criaturas das trevas, e foi horrível quando papai saiu no meio da noite com minha avó, tio Logan, e uma Haley chorando nervosa, para ir até a casa dos Chronos e avisá-los. Quando eles saíram Ethan, nos mandou para dentro e agitou a varinha, e ele estava acionando as defesas do rancho. E não demorou muito alguns peões começarem a chegar na sede, e Ethan os mandou ficar em alerta. Minha mãe perguntou o que significava tudo aquilo, e então ele nos contou um pouco sobre a guerra dos vampiros e o porque da Haley ter ficado tão desesperada. Claro que com o aviso, eles puderam preparar um contra ataque e no final, muitos inimigos dos Chronos foram derrotados, inclusive uns monstros que eu nunca havia ouvido falar mas com as descrições da Haley consegui ter uma idéia do que era esta guerra com os vampiros, e como nossas famílias eram aliadas, isso significava que um dia eu estaria bem no meio da ação junto com eles. Que demais! o-o-o-o-o Era o feriado das festas de final de ano, eu e Haley voltaríamos para casa com Ethan, ou melhor tio Ethan, ele ficava todo contente quando eu o chamava de tio, eu havia ganhado um monte de tios, e eles eram muito legais. Nossas festas de final de ano, seriam na Escócia, na casa da bisavó Virna, e eu estava contanto os minutos. Já tínhamos uma programação que incluía andar de trenó, fazer guerras de neve, com direito a construir um forte, claro que com a quantidade de gente, nós iríamos até jogar quadribol, já que eu e Haley havíamos entrado para os times de nossas casas, e eu não me agüentava de expectativa de poder jogar uma partida com meu pai e minha avó. Passamos a manhã construindo um forte, e eu, Haley e Olívia, fomos buscar comida para fazer um picnic no forte, e acabei ouvindo uma conversa quando me aproximava da cozinha: - Ty e Rory brigaram de novo... - Que droga de casamento é este? Nenhum dos dois se esforça para dar certo....São dois teimosos. - Eles não deviam ter se casado por causa de uma lei ridicula. Imagina, ter que viver um casamento para poder legitimar um filho, quando ele é reconhecidamente seu, é muita estupidez.... Eu ouvi aquilo e juntei as peças do que estava na minha frente e eu me recusei a ver. Virei-me para sair e Olívia, tinha um olhar presunçoso, que me irritou, e perguntei baixo: - Você sabe que lei é esta??- e ela me olhou superior. - Não é você o neto super inteligente?? - Não estou com paciência para seus ciúmes infantis Olívia, se você sabe do que se trata fala logo. - É a lei de sucessão. Papai precisa ficar casado com sua mãe por um ano para que você seja o seu herdeiro legitimo, caso isso não aconteça, ele terá que fazer um testamento beneficiando você, que poderá usar o sobrenome dele, mas não poderá comandar a família como o filho mais velho. Você não achou realmente que meu pai casou por amor não é? Ele sempre vai amar a minha mãe. - Olívia!- Haley se zangou com ela e ela disse dando de ombros: - Eu falei a verdade, não tenho culpa dele ser tão sensível. Aposto que sua mãe está chorando de novo. Ooops, ela não quer que você saiba que ela tem chorado. - Você sabia Haley? - e vi minha amiga ficar embaraçada. - Sim, eu ouvi falar da lei, mas minha mãe disse para o meu pai que seus pais ainda se gostavam e que tudo daria certo. Desculpa por não te contar. - Pelo jeito vovó se enganou. - deixei-as sozinhas e fui para o quarto de minha mãe. Entrei no quarto e ouvi um soluço, andei devagar e encontrei minha mãe chorando. Quando ela me viu , ela tentou disfarçar e eu perguntei direto: - Você se casou com meu pai obrigada não é? - De onde você tirou isso? - Eu sei sobre a lei de sucessão, mãe. Você se casou com papai para que eu me tornasse o herdeiro dele, e agora está triste. - Não filho, eu não estou triste, eu só discuti com seu pai e... - Meu pai não devia ter te obrigado a isso...Vamos embora, você não precisa mais ficar aqui se não quiser. - Seu pai não vai aceitar isso... - Não me importa o que ele quer, ele disse que nunca machucaria você, e você está chorando, está infeliz. - Vamos embora mamãe, por favor?- ela suspirou e depois de abraçá-la, fui atrás do meu pai na biblioteca. Ele estava conversando com tio Ethan, e parecia sério, mas eu olhei para ele firme e fui dizendo: - Você não vai mais obrigar minha mãe a fazer algo que ela não quer. Nós vamos embora... - Como assim vocês vão embora? O que foi que aconteceu? Que historia é esta?- meu pai quis saber. - Eu sei que você se casou com minha mãe por causa da lei de sucessão. Ou vai negar? - Não! Não vou negar que o primeiro motivo foi esse, filho, é uma lei bruxa que devemos seguir, eu quero que você seja meu herdeiro e... - Não foi por causa do dinheiro ou da fama que ficamos com você. Qual a dificuldade de se entender, que queríamos ficar perto de você, pai? Nós nunca ligamos para dinheiro, nunca me faltou nada. E agora você tem feito minha mãe chorar... Nós vamos embora. - Esta não é uma decisão sua, é um assunto meu e da sua mãe. - meu pai disse tenso e eu o encarei: - Sempre quis viver com você, e por um tempo fui feliz aqui, mas não posso aceitar que por minha culpa, você machuque a minha mãe e fique infeliz, nem Olívia é feliz com isso, pai. Todo mundo vê isso. Sei que você é mais forte do que nós, e que pode nos obrigar a ficar aqui, mas nós queremos ir embora. Você vai nos deixar ir? - Julian, antes de qualquer decisão, quero conversar com sua mãe...- olhei para ele e ele disse rápido: - Eu devia ter me acertado com ela há muito tempo, e se depois de me ouvir ela quiser ir embora, não vou atormentá-la mais. Mas quero que saiba que nunca vou deixar de estar presente na sua vida , certo?- ele me abraçou e foi falar com minha mãe. Meu tio Ethan me olhou e disse: - Seu pai e sua mãe vão se acertar Julian, eles se gostam muito, só são teimosos para admitir. Acho que depois desta conversa, seu pai vai se acertar com a Rory de vez, dê um tempo a eles.- concordei. Depois de algum tempo, ouvi os outros primos entrarem e como já era a hora do jantar, não havia sinal dos meus pais. Fui até o quarto de minha mãe e a porta estava um pouco aberta, quando a abri para entrar vi meus pais se beijando, não um daqueles beijos curtos que era comum, mas daqueles de cinema. Achei melhor sair e fechar a porta, dando-lhes privacidade, acho que agora sim, o casamento deles estava começando de verdade. Saturday, August 01, 2009 The one without a name, Nemo Das Lembranças de Ártemis A. C. Chronos “ Vocês pensam que conhecem os Chronos. Ah vocês sequer conhecem metade do verdadeiro poder dessa família. Eu estava lá quando eles surgiram. Vi o primeiro Chronos surgir e liderar sua família para a glória. Vi a primeira grande guerra do mundo, deflagrada dentro desta família. Vi esta família migrar, espalhando-se pelo mundo inteiro, do Egito à Bretanha. Vi o crescimento de seu poder, vi as traições de seu sangue, vi sua queda, e revi sua ascensão. Mas o mais importante: eu vi o que realmente significa ser um Chronos. Vi o terror que um verdadeiro Chronos pode causar...Vi os olhos dourados do Deus, através dos olhos mortais de seu Avatar e de sua Reencarnação. Olhos que agora eu vejo em Seth, Griffon e Artemis. Os mesmos olhos que no passado, fizeram a terra tremer e ruir, criando o mundo que hoje vocês conhecem. Não, vocês não fazem idéia do poder de Chronos.” - Siegfried sobre os Chronos. Julho de 2011 Por Haley Mcgregor Warrick Eu acordei durante a noite, porém sem saber se ainda dormia ou não. Tudo parecia envolto por uma luz dourada, sem que eu conseguisse definir a fonte. Pensei que estava dormindo, e fechei os olhos novamente, mudando de posição na cama. Foi quando eu levei um susto, sentando-me rapidamente, pois havia alguém parado do lado da minha cama, mas rapidamente me acalmei, reconhecendo a pessoa,que sorria para mim. Eu estava acostumada a ver fantasma desde pequena, então a visão de um homem envolto em forte luz dourada não me assustou, apenas me surpreendeu. O homem sorriu para mim calmamente, e seu sorriso me acalmou ainda mais, dando-me uma sensação boa. A luz dourada que eu vira anteriormente emanava dele e me acalentava, deixando-me confortável e feliz. - Boa noite, cara Senhorita Warrick. - Ele falou comigo pela primeira vez, sua voz serena e doce me transmitindo segurança e poder. Calmamente ele sentou-se na beirada da minha cama, enquanto suas asas se fechavam em suas costas. Eu não me afastei dele e continuei no mesmo lugar, pois eu sentia uma bondade emanando dele, uma bondade como nunca vi em nenhuma outra pessoa ou espírito. - Boa noite, me chame apenas de Haley! Você é o espírito que anda seguindo a Arte! Quem é você? - Exatamente, sou eu. Tudo a seu tempo, minha cara. Haley, desculpe-me por assustá-la, não era minha intenção. - Tudo bem, agora estou bem. Mas eu estou acordada mesmo? - Está. - Ele falou sorrindo, seus olhos verdes brilhando. - Ninguém percebe sua presença? Ninguém percebe essa luz?! É você, não é? - Você é uma garota inteligente. Sim, sou eu. Eu os coloquei em sono profundo para que não nos interrompam. - Quem é você? Como consegue interagir com a matéria desse jeito? Nunca vi fantasmas capazes disso! Não machuque minha família, eu te imploro! Em último caso, leve somente a mim! Meu irmão acabou de se casar, e acabo de ganhar um sobrinho novo! – Apesar da sensação boa que ele emanava, não pude deixar de me preocupar com meus parentes, e tal preocupação apareceu em meu olhar. Ele, porém, sorriu e tocou meus cabelos com sua mão, me fazendo esquecer por completo a preocupação. Definitivamente ele nunca faria mal a alguém. - Eu não sou um fantasma, minha cara Haley, sou um espírito, muito antigo por sinal. - Sim, eu reparei a primeira vez que o vi. Mas quem é você? Você precisa de ajuda pra ir pra luz? Eu posso te ajudar! Mas você é tão brilhante, no sentido bom é claro, não esquisito! – Eu me apressei a falar, atropelando as palavras. Ele riu alegremente, sua gargalhada soando como música - É curiosa também. –Seu rosto leve e calmo. - Muito bem, Haley. Eu sou Chronos. - Chronos?O mesmo que o sobrenome da Arte? - Exatamente, tenho o mesmo nome que ela. - O que isso significa? O que... – Eu comecei a falar, milhões de perguntas em mente, meus lábios movendo-se rápidos, até ele levantar a mão, me interrompendo. - Tudo a seu tempo. Não é hora de responder essas questões. Eu procurei você, pois você é a única capaz de me ver, Ártemis ainda não está preparada. E preciso que você lhes dê um importante aviso. - Pode confiar em mim. - Eu senti a importância da conversa, segurando minha curiosidade. - Obrigado. Os Chronos correm sério perigo, você sabe disso, pois estão em guerra com os vampiros. Em breve, os vampiros lançarão um forte ataque contra os Chronos, mas exatamente na sede Alemã, durante a visita de toda a família à sede. Cadarn não liderará o ataque, mas mandará alguns de seus vampiros mais fiéis, além de um exército de Legions e Inferi. Os Chronos não tem como prever tal ataque, pois Cadarn e Gustav estão usando vampiros com poderosas habilidades de confusão, e os Chronos correm risco. Pequena, preciso que os avise, mas lhes peça para que finjam não saber do ataque e o deixem acontecer, pois será uma excelente oportunidade para acabar com poderosos aliados de Cadarn. E eles contarão com ajuda. - Isso é sério? Preciso avisá-los imediatamente! - Eu falei, saltando da cama no mesmo instante, entendendo toda a seriedade do assunto. Arte comentara conosco que toda a família faria uma visita à sede Alemã, em comemoração pelos 60 anos de fundação da mesma, na semana seguinte,logo após o casamento do Ty. Chronos pareceu feliz por me ver preocupada e pouco a pouco a luz começou a desaparecer do quarto, enquanto eu calçava os sapatos e me cobria com um roupão. - Muito obrigado, Haley. Lhes diga também que estarão protegidos, não apenas eles, mas todos vocês a partir de hoje. A cada dia fico mais forte, enquanto ela também fica. Em breve, Ártemis será capaz de me ver. - Pode contar comigo. – Eu falei, me virando para ele. Nesse momento suas asas se abriram, e vi que eram doze asas, e não duas. Ele se aproximou de mim lentamente, e tocou minha testa com sua mão direita. - Perdoe-me pelo que verá, eu realmente sinto muito. Mas preciso que você e eles entendam a seriedade disso. Eu mostrarei o futuro possível, e o passado também. Você verá a última queda dos Chronos, e a possível derrota final. Porém, eu lhe juro, depois eu cuidarei pessoalmente da felicidade de você, seus amigos e familiares. Eu não me mexia, ouvindo sua voz, porém sentia a tensão no ar. Ao terminar de falar, os olhos verdes de Chronos tornaram-se dourados, emanando uma intensa luz dourada. Um turbilhão de imagens começou a correr pela minha mente, enquanto eu assistia cenas de horror. Vi o passado, a noite que ficou conhecida como a Traição, quando os Chronos foram quase extintos. Eu vi os Chronos serem mortos um a um, muitos torturados, alguns sangrando até a morte. Com lágrimas de dor e horror eu vi um dos Chronos matar a própria irmão, e logo em seguida os dois últimos Chronos explodiam de raiva, matando muitos Comensais. Em seguida a cena mudou, e reconheci de imediato Der Schatten, a sede alemã do Clã. A cena era tão horrível quanto a primeira, mas era ainda pior, pois agora eu conhecia todos aqueles rostos marcados por dor e sofrimento, marcados pela morte. Meu coração pareceu parar, pois vi o corpo de todos os Chronos, todos sem vida. Monstros horríveis rondavam o local, parecendo formados por pedaços de diversos corpos diferentes, enquanto vampiros gargalhavam. Eu dei um passo para trás, apavorada e senti que pisava em algo líquido, olhando para o chão. Com horror eu vi que era sangue e olhando mais um pouco à minha frente, gritei de pavor. Ártemis estava caída aos meus pés, os olhos ainda abertos, encarando a noite sem nada ver, enquanto seu sangue escorria e era lambido por Inferi. Eu gritei e chorava grossas lágrimas. - Haley, querida o que está acontecendo! – Alguém me sacudia, com uma voz cheia de temor. Eu reconheci a voz de mamãe, que tentava me fazer voltar a mim. Eu notei que desde que começara a ter as visões, eu gritava de medo e pavor. - Mana, o que aconteceu? – Ty falou, ajoelhado ao meu lado, enquanto me abraçava. Papai também me abraçava, tentando me acalmar. Aos poucos eu consegui me acalmar, mas ainda tinha as cenas de pavor na mente e meus olhos corriam por todo o quarto, esperando ver aquilo novamente. Notei que Rory e Ethan estavam abraçados a Olivie e Julian, segurando-o, pois ele parecia querer correr para meu lado. - Mamãe...Papai...Chronos. – Eu comecei a balbuciar, sendo arrastada por uma torrente de lágrimas novamente, me jogando nos braços de mamãe. Eu sacudia minha cabeça violentamente, tentando apagar da minha mente a imagem de Arte morta. - Filha, você teve um pesadelo! – Papai falou, me abraçando com força, enquanto acariciava meus cabelos, como ele sempre fazia quando eu sentia medo. - Não foi um pesadelo! – Eu consegui falar, em meio aos soluços. As imagens não sumiam da minha mente, e isso me fez lembrar do que eu tinha que fazer. – Precisamos alertar os Chronos, imediatamente! - Haley, você teve só um pesadelo. Vem, vou te ajudar a dormir. – Ethan falou, se aproximando de mim. Eu me afastei dele, batendo o pé e lágrimas pingaram de meu rosto. - Não!! Tio Lu, Tia Mirian, Arte...Todos eles correm sério perigo! Eles podem morrer! – Eu gritei, pensando novamente no corpo de Arte. - Arte?! O que aconteceu? – Ty e Julian perguntaram juntos, meu irmão preocupado com a afilhada e os tios. - Não há tempo para explicar, precisamos procurá-los agora, mãe!– Eu falei, correndo para a porta e minha mãe bloqueou o caminho e olhou em meus olhos, eu sabia que ela acessava as minhas memórias, talvez se ela visse, acreditasse em mim. Ela acreditou. - Calma, Haley, vamos levá-la até eles. Eu acredito em você e é realmente urgente. – Ela falou, o rosto sério e preocupado. Mamãe adorava os Chronos, Tio Lu era seu melhor amigo e seus sobrinhos lhe eram muito queridos. - Rory, fique com Julian e Olivie aqui. Ethan fique com ela também. – Ty falou, do meu lado. Mamãe e papai me deram as mãos, e também estavam determinados. - Chamem o Caleb, a Megan e o Edward por precaução. Peçam para eles contatarem Derfel ou Siegfried e peça ajuda. – Mamãe completou. - Tudo bem, vou explicar o que houve. Vou pedir para eles irem auxiliar os Chronos por via das dúvidas. – Ethan falou, seu patrono desaparecendo no ar, indo chamar Edward e a família. - Tio Lu, Seth, Griffon, é urgente. Reúnam todos os Chronos em La Force, agora. – Ty enviou seu patrono, enquanto descíamos correndo as escadas, para sair do rancho e podermos aparatar. Pouco depois, duas águias prateadas e um coelho surgiram diante de nós, enquanto saíamos pela porta. - Estamos em La Force. Defesas ativadas. – Os três falaram, desaparecendo no ar. Eu corria na frente de todos, puxando meus pais pelas mãos. Ty corria perto de mim, mas não sem antes lançar um olhar para trás, preocupado com os outros, enquanto Ethan acenava, dizendo que estava tudo bem. Alcançamos os limites do rancho e aparatamos juntos para La Force, na França, a sede de maior defesa do Clã. ******** Acordei no meio da noite, sendo sacudida levemente por mamãe. Eu comentei que estava com sono e ela estava exagerando no castigo de me acordar todos os dias para ajuda-la nas tarefas do Clã. Ela me chamou novamente, e o tom sério de sua voz me fez levantar um pouco assustada. - O que houve? – Perguntei, sacando a varinha. - Vamos para La Force, imediatamente. – Ela falou, enquanto levitava um copo de vidro, claramente uma chave-de-portal. Papai estava do seu lado, assim como Tia Celas, Tio Isaac e Gaia, os quatro olhando em volta do meu quarto. Nós todos tocamos no copo e senti sendo sugada por ele, para em seguida cair no carpete macio da sala de reuniões de La Force, a sede francesa do clã. Algo muito sério acontecia, ou estava preste a acontecer, pois La Force era a sede do Clã mais bem protegida, e dizia-se que com apenas um Chronos defendendo-a, ela nunca seria invadida. Fiquei ainda mais alerta e preocupada ao notar que Seth, Griffon, Luna, Emily, Luky, Bela, Mina e Luthien também estavam ali. Os adultos trocavam olhares sérios, enquanto mamãe, Griffon, Emily e Isaac apontavam as varinhas em diversas direções diferentes, acionando as defesas da sede. Meus sobrinhos correram para mim, assustados e curiosos também. Luna, Emily e Gaia se juntaram a nós, tentando acalmar as crianças. Aurores do clã começaram a aparecer a todo momento e recebiam ordens rápidas de meus pais e de meus irmãos. Todos os Comandantes foram convocados e em questão de segundos, guardavam as portas da sala de reunião. Poucos minutos depois que chegamos em La Force, ouvimos agitação do lado de fora, os passos apressados de várias pessoas correndo, nos deixando apreensivos. As portas duplas se abriram e com surpresa vi Ti Alex, Tio Logan, Tio Ty e uma aterrorizada Haley entrarem pelas portas. Haley chorava e correu para mim, me abraçando com força, enquanto balbuciava coisas sem nexo, dizendo que estava feliz por eu estar bem, me deixando muito assustada e preocupada. - O que aconteceu? – Eu perguntei, abraçada a ela. Meus pais fizeram a mesma pergunta e Tio Ty respondeu, após me abraçar também. Haley ficou de mãos dadas comigo, como se tivesse medo de me largar. - Haley teve algum tipo de visão. Ela acordou gritando durante a noite e disse que precisava procurar vocês. – Tio Logan explicou. - É algo sério, Lu. Eu tenho certeza, eu vi apenas parte de suas memórias e fiquei horrorizada. – Tia Alex falou, apoiando a filha ao colocar as mãos em seus ombros. - Pode contar, então, querida. – Papai falou, ajoelhando-se diante de Haley. Minha amiga olhou para mim e depois para ele, e sem soltar minha mão começou a falar. - Há um fantasma, não, espírito seguindo a Arte já há algum tempo. Ele é um homem muito alto e bonito, com longos cabelos prateados e me parece um espírito muito antigo. Ele apareceu para mim essa noite, e me disse que se chama Chronos, assim como o sobrenome de vocês. Ele me pediu para avisar vocês... – Sua voz começou a tremer e apertou mais forte minha mão. Seth e Griffon estavam ao seu lado agora, segurando sua mão ou com a mão em seu ombro, encorajando-a e acalmando-a. Haley conseguiu finalmente falar. - Vocês correm sério perigo! Eu vi um futuro possível...Vocês todos estavam mortos! – Ela voltou a chorar, lembrando-se do que vira. Eu estava muito assustada, mas não larguei de sua mão, enquanto Tia Alex abraçava a filha. - O que você viu? – Luna perguntou, agachando-se para ficar na altura dos olhos de Haley. – Não tenha medo, querida, tome, fique com meu amuleto. – Ela falou, entregando a ela um pingente com uma flor vermelha. Haley cresceu com Luna e aprendeu a acreditar nela, por isso ela pegou o pingente, segurando-o com força. - Eu vi que Cadarn mandará um ataque muito forte para vocês, durante a visita a Der Schatten. Ele mandará três vampiros, dois necromancers habilidosos, Scarlet e Estour, e um controlador de água, Horatio. Ele mandará também um exército de Inferi, vampiros e uns monstros chamados Legions. Ao ouvirem os detalhes que Haley dava, vi que os adultos acreditavam nela e seus olhos ficaram assustados ao ouvirem o nome Legion. Eu apenas ouvira falar desses monstros horríveis, mas pelo olhar de meus pais, eles eram realmente perigosos. Haley tomou fôlego para falar novamente, mas nesse momento, Altair e Uthred abriram as portas, sendo seguidos por Siegfried, Lilith, Derfel, Cewyn e Gisela. Os vampiros espalharam-se pela sala, formando uma espécie de círculo de proteção, com Cewyn correndo para o lado das crianças. Siegfried se posicionou ao lado de papai, correndo a sala com um olhar. Seu olhar parou em um ponto acima de minha cabeça, seu rosto demonstrando uma forte surpresa, para depois sorrir. - Caleb nos chamou, disse que havia algum perigo. – Ele falou, sua voz melodiosa e poderosa. - Haley teve uma visão. Ela disse que um espírito a visitou e lhe disse que Cadarn mandará um ataque poderoso contra nós semana que vem. – Griffon explicou, indicando Haley com a mão livre. - Impossível, nós teríamos notado. – Gisela comentou, enquanto olhava pelas janelas. - Chronos falou que vocês diriam isso! – Haley falou, sem paciência, porém demonstrando triunfo. – Ele me falou que Cadarn está criando um exército de vampiros e encontrou alguns muito habilidosos. Ele encontrou poderosos manipuladores e os está usando para confundir seus planos, impedido-os de segui-los. Ele sabe que está sendo vigiado e não é idiota! - Você disse Chronos? – Siegfried perguntou, olhando novamente para mim. - Sim é o nome daquele espírito atrás da Arte. Você o conhece! Ele lhe dá suas saudações. – Haley falou após olhar para mim também, na mesma direção que Siegfried. Todos ficaram sem entender e Siegfried falou que não era hora para isso. - Querida, você se importa se o Tio olhar suas memórias? Juro que não vasculharei seus segredos! Não contarei pra ninguém de quem você gosta! – Seth falou, piscando para Haley. Haley sorriu, e vi que meu irmão usava seus poderes para acalma-la, conseguindo. - Pode sim, Tio Seth, confio que guardará meus segredos! – Ela respondeu, enquanto Seth ficava ajoelhado na altura dos olhos de Haley, vasculhando sua mente. Seth é o melhor Leglimente que eu conheço e ele lê a mente de qualquer um com facilidade, mas não o faz sem permissão, pelo menos daqueles que ele gosta. Ele rapidamente localizou as memórias que queria, pois seu rosto contorceu-se em preocupação e medo e lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, assustando a todos. Papai começou a chorar também e caiu de lado sem forças, sendo amparado por Mamãe e Isaac. Seth caiu de lado também e Griffon e Ty o seguraram. Papai e Seth possuem um forte dom chamado Empatia e por isso são tão afetados por mudanças de humor. - Por Merlin...É sério. Ela viu cenas de um futuro possível e viu o passado também. Não tem como ela conhecer os Legions, mas ela os viu com perfeição em sua visão. - Nós nunca deixamos nenhuma das crianças lerem o Diário de Alderan, que fala dos Legions, é forte demais.... – Tio Isaac falou, encarando Haley com preocupação. - Eu falei que era verdade! Seja lá o que forem esses Legions, muitos virão atacar vocês! Precisam se proteger! - Vamos cancelar a comemoração imediatamente. – Tia Celas falou, porém Haley a interrompeu. - Ele recomendou que não. Será uma excelente oportunidade para acabar com poderosos aliados de Cadarn. - Eu tenho que concordar com ela, é uma chance única! – Eu falei, apoiando Haley e também Chronos. - Isso é verdade, mas não podemos colocar em risco a vida dos convidados e das crianças. – Mamãe falou, olhando para os netos, que não falavam nada de tão assustados. - Simples! Seth, Siegfried e outros vampiros usam Ilusões para fingirem serem os convidados e as crianças, e na hora do ataque, nós revidamos com artilharia! – Eu falei, pensando rapidamente. - É uma excelente idéia! Seth, Siegfried e eu seremos capazes de criar essa quantidade de Ilusões. E Miko e Deoris também podem ajudar! – Lilith falou, concordando comigo. - Tudo bem, Alex, Logan, vocês se importam de levar Luky, Bela, Mina, Luthien, Gaia e Ártemis para o rancho? – Papai perguntou, mas antes que Tia Alex ou Tio Logan respondessem, eu e Gaia falamos estupefatas: - Eu vou lutar também! - Não vão não! É muito perigoso para vocês! E Luna e Emily também irão. – Seth falou, e no mesmo momento Cewyn revirou os olhos rindo. - O mesmo de sempre, não é Seth? – Ela falou, rindo. Dessa vez foram minhas cunhadas que ficaram furiosas, enquanto Griffon concordava com o irmão gêmeo. - Nada disso, eu vou lutar com vocês! – Emily falou teimosa, fuzilando Griffon com o olhar. - Querido, prometemos ficar juntos na saúde e na doença, na guerra e no amor. – Luna lembrou, sorrindo. – E nada do que vocês digam nos fará desistir. - Elas tem o direito de lutar ao lado dos maridos. – Mamãe as defendeu. – E em último caso, se o pior acontecer, podemos mandar todas elas para La Force com o encantamento de Alderan. E Ártemis lutará sim, ela tem o direito de ficar com a família. - Tudo bem. – Papai deu o braço a torcer, contrariado. – Vamos organizar a estratégia então. ********* Era a noite marcada para o ataque. Todos os convidados foram avisados que haveriam mudanças nos planos, mas foi pedido segredo. Apenas o Ministro Alemão se recusou a não comparecer, alegando que lutaria ao nosso lado, e portanto, ele e seus aurores estavam na platéia, cheia de Ilusões criadas pelos vampiros que nos apoiavam. Mantivemos o protocolo como havia sido decidido anteriormente e os lideres, vice-líderes e comandantes do clã subiram ao palco para discursar, enquanto eu, Gaia, Emily, Luna e as Ilusões de meus sobrinhos ficávamos logo atrás deles. Todos estavam tensos e aguardávamos o ataque, porém, graças aos esforços de Tio Logan, conseguíamos disfarçar, usando poções. Ty, Tio Ben, Tio Sergei e Tio Remo estavam na primeira fileira da platéia, junto do Ministro Alemão e seus aurores. Papai falava sobre a fundação da sede quando de repente todas as luzes foram apagadas e no mesmo momento, o chão explodiu em diversos lugares, debaixo da platéia, revelando imensos braços. De uma só vez, centenas de feitiços voaram contra o palco onde estávamos, assim como pedaços de pedra e cadeiras. Estávamos preparados, mas mesmo assim foi um susto ver aqueles monstros horríveis saindo do chão, atacando as Ilusões de Seth. Nossa tática foi iniciada no mesmo momento e a artilharia montada atrás do prédio entrou em atividade, lançando bombas de luz contra a platéia, que agora assumia a forma de Seth, Siegfried, Lilith e Gisela, clones de sombras que atacavam os invasores. Eu pouco podia ver de tudo isso, pois para nos proteger, uma barreira muito forte fora conjurada por mamãe e por Griffon, mas agora todos gritavam e pulavam para fora do palco, lutando contra os invasores, que mantinham o ataque, apesar de estarem surpresos por sabermos da armadilha. Eu saltei junto de minha família, com Luna, Gaia e Tia Celas ao meu lado, enquanto os outros espalhavam-se. Nós lançávamos feitiços contra todos os Inferi que chegavam perto, porém eu podia fazer pouca coisa, pois conhecia muito pouco ainda, e apenas conjurava meu patrono para afastar os Inferi, enquanto lançava alguns feitiços de fogo. Foi de repente que eu o vi. O mundo pareceu parar e eu sabia que realmente parou. Diante de mim estava o homem mais lindo que eu já vi em toda a minha vida. Ele era muito alto, mais alto até do que Siegfried. Seus cabelos eram prateados, e muito longos, na altura de sua cintura. Ele possuía doze asas brancas que estavam abertas e emanavam uma luz dourada. Vestia uma armadura dourada completa, apenas sem o capacete, com uma espécie de túnica branca por baixo e na mão direita levava uma longa lança dourada, que reconheci como Lognus. Mas a característica mais marcante eram seus olhos de um verde profundo e muito belo, que transmitiam uma bondade e uma força que eu nunca vi em pessoa alguma. Ele parecia produzir uma aura de felicidade ao seu redor, pois dele emanava uma bondade extrema. Eu estava totalmente sem fala, apenas encarando-o maravilhada, enquanto ele sorria para mim. - Você finalmente está pronta para me ver, querida filha. Você está cada vez mais poderosa e eu também. Eu sou Chronos, seu Guardião e Protetor e juro-lhe por minha Valkyria que irei protege-la e faze-la feliz por toda a sua vida. – Ele falou, ajoelhando-se diante de mim e baixando a cabeça. Foi então que, como em um flash de memória, eu me lembrei: eu já o vira antes, desde pequena eu via seu rosto, e uma das minhas memórias mais antigas, de quando ainda era um bebê, era dele sorrindo para mim, enquanto cantava uma bela música em uma língua desconhecida até hoje para mim. Meu coração saltava descompassado e meus olhos estavam fixos nele, porém palavras vieram a minha boca. - É uma honra tê-lo como Guardião, Chronos. – Eu consegui balbuciar, esticando minha mão direita para ele, tocando em seus cabelos, que eram lisos e macios. Ele tomou minha mão e a beijou de leve, levantando-se em seguida. - Emprestarei a você meu poder e a ajudarei a derrotar esses inimigos. – Ele falou, virando-se de costas para mim. Nesse momento, o tempo voltou a correr normalmente e notei que Chronos estava às minhas costas e uma forte luz dourada emanava dele. Por algum motivo eu sabia que eu também emanava luz e meus olhos estavam de cor dourada. Eu estiquei minha mão a frente e vi como se eu segurasse a poderosa Lognus. Eu cortei o ar verticalmente e a lâmina seguiu meu movimento liberando uma onda de luz destruidora, que aniquilou Legions e Inferi em seu caminho. Chronos, e eu junto dele, levantou a mãe esquerda para o céu e uma luz dourada surgiu de sua mão, expandindo-se pelo local queimando Inferis. Legions urravam de medo e recuavam aterrorizados, enquanto a bola de luz aumentava, disparando novas ondas de luz. Por fim, ele a lançou contra os invasores e houve uma explosão de luz, e em seguida no local da explosão, materializaram-se no ar um grupo de homens portando grandes e imponentes escudos brancos. Brancas eram suas roupas, com exceção de um C negro em seus peitos e nos escudos. Os homens avançaram, cortando a pele de Legions com facilidade, fazendo o exército inimigo fugir de medo, sendo porém atacado pelos membros do Clã, dando fim ao ataque. Eu não tenho certeza do que aconteceu em seguida. Lembro-me de minha família me cercando, e lembro-me de que eu falara com eles, mas usando a voz de Chronos. No instante seguinte eu caia desacordada, exausta. Mas estava feliz, pois podia finalmente ver aquele espírito de pura luz e bondade. Chronos finalmente aparecia para mim. |